“Caruaru tinha o desejo de ter uma faculdade de medicina há 50 anos”, afirma Rodrigo Cariri, coordenador do curso de medicina da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em Caruaru, cidade com cerca de 340 mil habitantes no agreste pernambucano
Criado no início de 2014 com o Mais Médicos, o curso tem 80 vagas de graduação e 20 de residência médica, e exerce atividades de supervisão nos 34 municípios da região de saúde, onde vive uma população de 1,5 milhão de pessoas. “Isso tem estreitado a relação com os prefeitos e secretários de saúde, permitindo que possamos discutir a inserção dos alunos nesses municípios”, explica Cariri.
Grande parte dos alunos é da própria região, o que contribui para a fixação desses futuros profissionais na cidade e se contrapõe à lógica anterior de que para cursar medicina tem que ir para a capital. “Isso tem repercutido não só nas famílias, cujos filhos tinham que estudar fora, mas também na qualidade dos serviços de saúde”, afirma Cariri. Lá, os estudantes atuam desde o início do curso na atenção básica e têm a oportunidade de manter um contato muito próximo com a comunidade, inclusive nas áreas rurais, seja nas unidades básicas de saúde ou fazendo visitas em domicílio.
Uma das ações desenvolvidas no curso é o programa Nascer Bem Caruaru, realizado em parceria com a secretaria de saúde do município para qualificação da atenção materno-infantil. No programa, desde o primeiro período da faculdade, os estudantes acompanham as gestantes no pré-natal e seguem com elas até a hora do parto. Cada aluno “adota” uma gestante e é estimulado a desenvolver uma relação de proximidade. Segundo Cariri, essa qualificação tem contribuído para a redução da taxa de mortalidade materna e de cesarianas no município. Em uma maternidade de risco habitual da região, estruturada para a realização de partos normais, 60% dos partos eram cesarianas antes da iniciativa trazida pelo curso de medicina. “Essa intervenção conjunta da universidade, do Mais Médicos e da prefeitura fez com que chegássemos a menos de 30% de cesarianas”, conta o coordenador.
Contrariando a lógica tradicional de concentração nas capitais e metrópoles litorâneas, o Mais Médicos tem empreendido grande esforço na interiorização da formação médica. De acordo com o último edital, para se mostrarem aptos a receber novos cursos de medicina, os municípios precisaram cumprir quesitos como estar a pelo menos 75 quilômetros de outras faculdades na área, não ter curso de medicina e não ser capital, entre outros.
Um Lava Pés diferente entra para o calendário da Semana Santa
Pouco a pouco, o curso de medicina de Caruaru foi se tornando um polo criativo, com propostas inovadoras dentro e fora dos muros da faculdade. Uma das iniciativas de destaque é a Campanha do Lava Pés, feita para orientar a população sobre a importância do cuidado com os pés para quem tem diabetes, evitando dessa forma possíveis amputações. O sucesso da iniciativa foi tão grande junto à comunidade, que entrou para o calendário da Semana Santa de Caruaru.
“Para os alunos de medicina, essa ação leva à prática do cuidado, da humildade, do relacionamento com as pessoas de uma forma mais simples, dentro do contexto de uma doença altamente prevalente”, comenta o coordenador do curso, Rodrigo Cariri. No dia “L” da campanha, os alunos do curso vão para o Marco Zero da cidade e lavam os pés dos cidadãos, enquanto dão orientações e estabelecem um primeiro vínculo. Segundo o médico, foi identificada na região uma alta frequência das chamadas amputações altas, que decorrem da falta de cuidado e de um diagnóstico tardio da doença. “Juntamos a importância pedagógica com a relevância epidemiológica de saúde pública”, afirma Cariri.
Na última edição do Lava Pés, realizada neste ano, das cerca de duas mil pessoas que compareceram ao evento, 189 apresentaram comprometimentos que poderiam levar a amputações das pernas ou dos pés, e foram encaminhadas à rede municipal de saúde para receber um acompanhamento sistemático e integral, por meio das equipes de Saúde da Família.
Fonte: maismedicos.gov.br
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