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sábado, 31 de outubro de 2015

Os microrganismos transmitidos durante o sexo

Vírus GBV-C, transmitido sexualmente, poderia ajudar no
combate ao HIV e ao ebola
A Organização Mundial da Saúde (OMS) acredita que, todos os dias, mais de 1 milhão de pessoas no mundo adquirem uma doença sexualmente transmissível (DST)
 
Algumas dessas infecções afetam a fertilidade, enquanto outras provocam complicações ainda mais graves. Por isso, há inúmeras razões para evitar que esses visitantes indesejados acabem se instalando no nosso corpo. A má reputação das DSTs é provavelmente o motivo pelo qual cientistas vinham prestando pouca atenção à ideia de que alguns desses micróbios que viajam pelos fluidos sexuais podem, na realidade, ser benéficos. Mesmo assim, é sempre importante ressaltar a importância do sexo seguro. Será que ao nos protegermos dos germes ruins que conhecemos não estamos evitando microrganismos que poderiam fazer bem à saúde? É cada vez maior o número de evidências que sugere que o assunto deveria ser mais explorado.
 
Questão de equilíbrio
Não é novidade que vírus e bactérias são incrivelmente importante para a nossa saúde. Dentro de cada um de nós está uma combinação de minicriaturas tanto benéficas quanto potencialmente causadoras de doenças. Se o equilíbrio entre os dois lados se perde, os problemas surgem.
 
Um exemplo: o gênero de fungo Candida é um micróbio que ocorre naturalmente na vagina. Sua procriação é controlada por outro microrganismo, a bactériaLactobacillus. Se algo impede a bactéria de fazer o seu trabalho, ocorre uma proliferação de fungos, o que causa os desconfortáveis sintomas da candidíase.
 
Nossos organismos evoluíram junto com os micróbios. Essas bactérias, fungos e vírus vivem em nossa pele, nos intestinos e em parte de nossos genitais. Apesar de a ideia ser um pouco desconfortável, é cada vez mais evidente que esses seres têm um papel fundamental na nossa fisiologia. O primeiro passo para entender esse papel é identificar os microrganismos. Aqueles que são transmitidos durante as relações sexuais são chamados de micróbios sexualmente transmissíveis (MSTs).
 
“Apesar de ainda não sabermos muito sobre eles, há alguns exemplos que deveriam motivar os pesquisadores a examiná-los mais de perto”, afirma Chad Smith, biólogo evolucionista da Universidade do Texas, nos Estados Unidos.
 
Pensemos no pulgão-da-ervilha, uma praga que sobrevive em todo o planeta alimentando-se de leguminosas. O sucesso desse inseto pode em parte ser atribuído a micróbios benéficos transmitidos entre eles no acasalamento, tornando-os mais resistentes a parasitas, mais tolerantes ao calor e mais adaptados a sobreviver em plantas que não são leguminosas até encontrarem sua próxima refeição.
 
Os mosquitos também são habitados por bactérias sexualmente transmissíveis que se espalham por seus intestinos, testículos e óvulos. Essa camada bacteriana serve de alimento para as larvas do mosquito, permitindo que elas se desenvolvam de dois a quatro dias mais rapidamente do que se ela não existisse. Em fungos, micróbios benéficos aumentam sua tolerância ao calor e ajudam seu hospedeiro a crescer mais rapidamente.
 
Contra HIV e ebola
Mas e nós, humanos? Bem, sabemos de um exemplo convincente de micróbio sexualmente transmissível que pode nos trazer vantagens: o vírus GBV-C, antes conhecido como vírus da hepatite G (ou HGV). Trata-se de um vírus sexualmente transmissível que, sozinho, não causa sintomas graves, apesar de ser encontrado geralmente com vírus maléficos como o HIV.
 
Uma revisão de seis estudos científicos descobriu que o GBV-C está ligado a uma redução de 59% da taxa de mortalidade dos pacientes com o HIV. Cientistas acreditam que o vírus faz isso ao reduzir a capacidade do HIV de prejudicar as células de nosso sistema imunológico.
 
O GBV-C também pode estimular outras partes do sistema imunológico a combater ativamente a infecção. Esse vírus também pode ser transmitido de mãe para filho, e com isso reduz as chances de mulheres com o HIV passarem a infecção para seus bebês.
 
Mais recentemente, o GBV-C também foi identificado com um dos responsáveis pela redução da mortalidade em pessoas infectadas com o vírus ebola, de certa maneira reduzindo o impacto desse microrganismo em seu hospedeiro. A maior compreensão da ação GBV-C poderia salvar vidas.
 
Menos antibióticos?
“Descobertas extraordinárias como essas deveriam nos fazer pensar nos outros microrganismos estamos deixando de conhecer melhor”, afirma Betsy Foxman, epidemiologista da Universidade de Michigan.
 
“No passado, caracterizamos os micróbios sexualmente transmissíveis como ruins”, diz ela. “As medidas preventivas que adotamos para nos protegermos deles podem também contribuir para que hoje nos faltem aqueles que são potencialmente benéficos.”
 
Para Foxman, é possível que alguns micróbios ajudem o organismo a combater outros tipos de infecções, o que poderia reduzir nossa dependência de medicamentos como os antibióticos. Estes normalmente matam um amplo espectro de microrganismos para poder erradicar aquele que é problemático. “É claro que antibióticos são muitas vezes necessários para salvar vidas, mas seria bom ter algo mais criterioso e direcionado”, afirma a especialista. Cientistas ainda não sabem com certeza quais micróbios sexualmente transmissíveis potencialmente benéficos estão sendo passados entre parceiros, mas Foxman acredita que os Lactobacilus sejam um deles.
 
Proteção ainda é crucial
Tudo isso parece ser uma ótima notícia, certo? Poderia haver um monte desses micróbios viajando de um lado para outro e sendo bons para a saúde. Mas há um problema. Se o jeito de contraí-los é fazer sexo sem proteção, também estaríamos abrindo a porta para as infecções ruins.
 
No futuro, entretanto, poderá haver maneiras de conseguir esses microrganismos sem precisarmos nos arriscar. Uma vez identificados, cientistas poderiam desenvolver vacinas ou outros métodos de inoculação. Poderemos saber mais sobre esses micróbios no futuro. Segundo Smith, o aumento do interesse e das pesquisas sobre o microbioma humano fizeram surgir novas técnicas para conhecer a função desses microrganismos. Até lá, no entanto, o melhor é continuar fazendo sexo seguro.
 
BBC Brasil

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