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segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Dieta regrada e prática de exercícios físicos são necessidades de quem convive com o diabetes

Manter o nível correto de glicose no sangue exige estilo de vida saudável

Centenas de milhões de pessoas pelo mundo precisam seguir um modelo de vida rigoroso para manter a saúde em dia. São os pacientes diagnosticados com diabetes mellitus. O organismo dessas pessoas não produz o hormônio chamado insulina, produz em quantidade insuficiente ou não consegue empregá-lo de maneira eficiente — essas duas situações fazem com que a glicose não seja transformada em fonte de energia, permanecendo no sangue e aumentando o chamado nível glicêmico. De acordo com dados de 2013 da Federação Internacional de Diabetes, 382 milhões de indivíduos são afetados pela doença crônica. No Brasil, eram cerca de 14 milhões em 2012, conforme o Ministério da Saúde.

Regular a alimentação e fazer exercícios são medidas de extrema importância para quem tem diabetes. Alvaro Reischak de Oliveira, professor de fisiologia do exercício da UFRGS, explica que a prática regular de atividades físicas diminui a quantidade de glicose no sangue:

— Com um bom controle glicêmico, maior será a sobrevida do paciente. Além disso, o exercício contribui para a diminuição de peso, o que reduz a resistência à insulina. Com relação à dieta, alimentos integrais e vegetais, ricos em fibras, são os indicados para diabéticos, pois têm baixo índice glicêmico — ou seja, levam mais tempo para transformar o carboidrato em açúcar no organismo. Na lista do que deve ser evitado estão os doces e os carboidratos simples, como mel, pão francês, suco de frutas e macarrão. Por ser o nutriente que mais afeta a glicemia, o carboidrato deve ter sua ingestão muito controlada entre os diabéticos.

— Cem por cento do carboidrato ingerido é convertido em glicose num período que pode variar de 15 minutos a duas horas após a ingestão, enquanto que de 35% a 60% das proteínas consumidas são convertidas em glicose em três a quatro horas. Somente 10% das gorduras são convertidas em glicose após cinco horas ou mais da ingestão — esclarece Joise Munari Teixeira, nutricionista clínica do Hospital São Lucas da PUCRS.

Por mais trabalhoso que seja, contabilizar a quantidade de carboidratos ingeridos é um procedimento fundamental na vida de quem tem diabetes.

De acordo com Cigléa do Nascimento, nutricionista da equipe de endocrinologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, a prática serve como uma estratégia nutricional para manter o paciente com a glicose controlada: monitorando a quantidade de carboidratos presente nos alimentos consumidos, é possível determinar quanta insulina precisa ser aplicada para equilibrar a glicose no organismo.

— De acordo com o que comer, o paciente vai receber insulina a mais ou a menos. Com o tempo, vai percebendo quais alimentos aumentam a glicose no sangue e começa a evitá-los. Também é uma forma de conscientização — explica.

A contagem de carboidratos pode ser feita pelas pessoas com diabetes tipo 1 (quando nenhuma ou quase nenhuma insulina é liberada no corpo) e também por quem tem a do tipo 2 (quando o organismo não consegue utilizar a insulina que produz ou quando não há uma produção suficiente do hormônio). Contudo, a técnica é mais utilizada por quem precisa aplicar doses de insulina.

— Hoje, sabe-se que a contagem de carboidratos oferece um resultado bastante objetivo e facilita o cálculo da dose de insulina a ser administrada em cada refeição, trazendo maior satisfação e melhor controle glicêmico — explica Joise Munari Teixeira, nutricionista clínica do Hospital São Lucas da PUCRS.

Joise também tem a doença — ela foi diagnosticada há 20 anos com diabetes tipo 1. A especialista começou a fazer contagem de carboidrato há pelo menos oito anos, ainda na adolescência, com a ajuda dos pais. Aos poucos, com o uso no dia a dia, aprendeu a fazer sozinha. Para ela, o principal benefício é a maior flexibilidade na dieta:

— A contagem dá mais liberdade. A alimentação não precisa ser tão regrada, principalmente com relação aos horários.

A advogada Luciane Neeme Steinbach, 36 anos, que também tem diabetes tipo 1, concorda. Ela conta que o início foi penoso, mas considera que o hábito é essencial e hoje já está acostumada:

— O começo é mais complicado, mas tu acabas assimilando, e vale a pena. Isso me deu uma independência muito grande. Não tenho mais medo de fazer exercício pesado ou mais longo, por exemplo. Os tipos A contagem de carboidratos pode ser aplicada por meio de dois métodos: por grama e por substituição

Por grama
— O paciente deve somar a quantidade de carboidrato ingerida por refeição com base nas informações do rótulo do alimento ou em manuais de contagem de carboidrato.

— A glicemia deve ser medida antes e depois da refeição. Se estiver diferente da meta estabelecida com a ajuda de nutricionista, é preciso aplicar a insulina necessária para normalizar o nível de glicose no sangue.

— Essa quantidade dependerá da sensibilidade da pessoa ao hormônio, mas, como regra geral, tem-se uma unidade de insulina a cada 15g de carboidrato para adultos e uma unidade a cada 30g de carboidrato para crianças.

Por substituição 
— Os alimentos são agrupadas de forma que cada porção corresponda a 15g de carboidrato. A glicemia também deve ser medida antes e depois das refeições.

— São estimuladas trocas de produtos do mesmo grupo alimentar ou até de grupos diferentes (porções de amido por porções de fruta, por exemplo), desde que ambos forneçam aproximadamente a mesma quantidade do nutriente.

— Esse método é mais simples, mas menos preciso que o de contagem.

É preciso se mexer
O remador britânico Steve Redgrave já havia conquistado quatro medalhas olímpicas de ouro e treinava para sua quinta Olimpíada quando foi diagnosticado com diabetes tipo 1, em 1997. Inicialmente, achou que sua carreira havia acabado, mas, incentivado por um médico, não desistiu do objetivo. Três anos depois, em Sidney, o atleta não só competiu como conquistou mais um primeiro lugar.

A portalegrense Vera Feldens, 65 anos, também é diabética e pode não ter subido em pódios de competições mundiais, mas também coleciona importantes conquistas. Da Volta à Ilha — corrida de revezamento de 150 quilômetros que contorna Florianópolis —, ela já participou quatro vezes, sendo a última com 61 anos. São cerca de 20 quilômetros percorridos por pessoa. Desde que foi diagnosticada com a doença, aos 27 anos, faz exercícios regularmente. Com 45 anos, começou a depender do tratamento com insulina, mas inseriu a natação na rotina e conseguiu tirar o medicamento à base do hormônio de sua vida.

As histórias de Redgrave e Vera demonstram como uma pessoa com diabetes pode praticar qualquer tipo de exercício físico — inclusive os de alto impacto — e também dimensionam a importância da prática frequente de atividades para regular a glicemia. Daniel Umpierre de Moraes, pesquisador do Hospital de Clínicas de Porto Alegre na área de fisiopatologia do exercício, explica que a doença está relacionada a condições como pressão alta, menor resistência muscular e maior sobrepeso.

— Além da melhora do controle glicêmico, o exercício promove a redução da pressão arterial e o aumento da resistência muscular, mesmo em casos em que não há diminuição de peso — complementa.

Todos os tipos de exercício (aeróbicos, de resistência e a combinação de ambos) são indicados. A recomendação é de que eles sejam praticado todos os dias.

Cuidado com a hipoglicemia
Alvaro Reischak de Oliveira, professor de fisiologia do exercício da UFRGS, explica que a atividade física tem a capacidade de fazer com que a sensibilidade à insulina cresça, aumentando a captação de glicose. Por isso, uma pessoa não diabética tem a produção do hormônio automaticamente diminuída ao fazer exercícios. No entanto, quem convive com a doença não possui esse controle biológico, podendo ocorrer uma hipoglicemia — falta de insulina no sangue.

— O controle da pessoa não diabética é absolutamente fisiológico, enquanto o da diabética é farmacológico. Então, para evitar problemas, o paciente deve fazer uma combinação de alimentação prévia com redução da dose de insulina antes do exercício — salientou Alvaro.  
Segundo Beatriz D'Agord Schaan, endocrinologista e professora da Faculdade de Medicina da UFRGS, se o exercício é prolongado, como uma maratona, mais de uma ingestão de glicose durante a atividade pode ser necessária. Vera, por exemplo, levava uma bala na touca de natação quando participava de competições a nado, para o caso de uma hipoglicemia.

— Nunca precisei usar. No final, largava para Iemanjá — conta.

Zero Hora

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