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quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Microcefalia e suspeita de Ebola colocam o Brasil em alerta

Brasileiro com suspeita de ter contraído Ebola na Guiné fará exames na Fiocruz
 
Rio - A saúde pública do Brasil está em alerta. O Ministério da Saúde decretou estado de emergência sanitária em todo o país por causa do aumento na incidência de microcefalia em recém-nascidos em Pernambuco: foram 141 casos em 42 municípios em 10 meses, contra média de nove por ano no estado, quase 15 vezes mais. A doença consiste em má-formação que leva à redução do tamanho do crânio de crianças e provoca sérias deficiências de desenvolvimento. Também ontem um brasileiro que voltou da Guiné, na África, precisou ser isolado em Belo Horizonte (MG) sob suspeita de infecção do vírus Ebola. Ele chegou no fim da noite para o Rio de Janeiro. O resultado do primeiro exame deve sair ainda hoje ou no começo do dia de hoje.
 
 
O Ministério da Saúde informou que uma das suspeitas é de que a microcefalia esteja relacionada com o Zika Vírus. A situação de emergência na saúde permite, por exemplo, que sejam contratados médicos e comprados medicamentos sem licitação. Além de Pernambuco, Rio Grande do Norte e Paraíba também possuem notificações da doença, mas em menores proporções.

Passados dois dias que deixou a Guiné, no último dia 6, o homem, de 46 anos, apresentou sintomas que podem estar associados à incidência de Ebola. Sem tratamento para controle, a doença já fez mais de 11 mil vítimas fatais na África Ocidental. Atendido na noite do último domingo na Unidade de Pronto Atendimento da Pampulha, em Belo Horizonte, com febre alta, fortes dores de cabeça e muscular.

Chegando ao Rio, o paciente seria encaminhado para o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), da Fiocruz, em Manguinhos, referência nacional para casos de Ebola. Uma equipe do Distrito Federal composta por dois médicos e um enfermeiro ficou responsável pela transferência e acompanhará o paciente durante a bateria de exames para confirmar ou descartar a infecção.

Hoje, os especialistas do INI/Fiocruz esperam colher amostra de sangue para análise em laboratório. O resultado, que deve sair em até 24 horas, pode descartar a suspeita de infecção. Se der negativo, um novo exame será realizado 48 horas depois e, de novo, o resultado deverá sair em mais 24 horas. Com isso, a conclusão de todo o processo de exames do paciente deveria ocorrer só na próxima semana.

Coube ao ministro da Saúde, Marcelo Castro, tranquilizar a população. “Tomamos todas as providências cabíveis para evitar qualquer problema. Assim que tivermos o resultado do primeiro exame, iremos fazer nova comunicação com os próximos passos que serão adotados, em caso de resultado positivo e negativo”, afirmou.

Segundo informações da Saúde, o homem só foi encaminhado ao instituto no Rio porque voltou de um país onde há um surto da doença. Para o infectologista Alberto Chebabo, do Serviço de Doenças Infecciosas e Parasitárias do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), porém, não é possível descartar que pessoas expostas ao contato com o paciente também possam estar infectadas. “A recomendação é para que essas pessoas procurem atendimento médico ao primeiro sinal dos sintomas e evitem aglomerações”, frisou.

Segunda suspeita de Ebola em pouco mais de um ano
Há pouco mais de um ano, o Rio recebeu outro caso de suspeita de infecção pelo Ebola. Em outubro de 2014, um africano, de 47 anos, internado em Cascavel, no Paraná, apresentou quadro de febre alta e hemorragia e também precisou ser transferido para o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, em Manguinhos. A doença foi descartada em menos de uma semana.

Natural da Guiné, na África — mesmo país visitado pelo brasileiro de 46 anos transferido de Minas Gerais —, a suspeita de infecção de Souleymane Bah, porém, foi descartada nos dois exames realizados para testar se o africano internado estava infectado.

Dos países africanos onde o Ebola assolou a população, apenas a Guiné ainda permanece em quadro de surto, embora nunca tenha sido afetada em tal proporção como Libéria e Serra Leoa.

No último sábado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que Serra Leoa, onde a doença matou cerca de quatro mil pessoas, estava livre do Ebola. Foram 42 dias sem nenhum novo caso. Libéria também foi declarada livre da enfermidade no dia 3 de setembro.

Em outubro deste ano, outras duas pessoas contraíram Ebola na Guiné, passadas duas semanas sem novos casos confirmados da doença na África Ocidental, segundo informações da OMS.

Além das perdas humanas, a epidemia teve um efeito devastador sobre a economia dos países africanos, que também sofrem com guerras civis.

Anomalia em bebês pode ter relação com o Zika Vírus
Transmitido pelo mesmo mosquito da dengue, o Aedes Aegypit, o Zika Vírus chegou ao Brasil no início do ano e se torna o principal suspeito de causar a microcefalia por causa do período dos registros da doença: as gestantes que contraíram o vírus em fevereiro, nove meses depois, teriam seus filhos com o problema.

No mês de maio, foi confirmado o primeiro caso do vírus no Rio. A Secretaria estadual de Saúde, porém, informou que não possui estatísticas do número de casos de Zica nos municípios, já que a notificação de suspeitas não é obrigatória.

As principais causas da microcefalia são doenças infecciosas, como rubéola e toxoplasmose. Segundo o diretor geral do Instituto de Pediatria da UFRJ, Edmilson Migowski, doutor em Infectologia, outros fatores são deficiências na alimentação da mãe ou fatores genéticos. “O problema é que estes dois fatores não são suficientes para aumentar taxa de incidência de maneira tão expressiva. Por isso, uma causa infecciosa é uma hipótese bastante razoável”, explica.

Para Cláudio Maierovitch, diretor do Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, ainda é cedo para confirmar o Zika como vilão: “A coincidência temporal chama atenção mas, por enquanto, é apenas uma possibilidade”. Ele explica que o fato de não se restringir a uma única cidade indica que a causa do surto não foi ambiental. “Essa dispersão torna pouco provável que seja decorrente de exposição a algum tipo de agente local, químico ou biológico”.

Colaborou a estagiária Marina Brandão

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