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segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Cresce resistência do vírus HIV aos medicamentos

Mais de 10% dos pacientes que começaram o tratamento com antirretrovirais apresentaram uma cepa de vírus resistente a remédios que hoje são usados no controle da síndrome


Paris - A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta para uma tendência crescente de resistência do vírus HIV às drogas disponíveis. O órgão divulgou um novo relatório com base em estudos, ontem, em Paris, que erá sede, a partir de domingo, de uma conferência internacional sobre a Aids. O texto destaca que em seis dos 11 países pesquisados na África, Ásia e América Latina (Brasil, México, Argentina, Guatemala, Nicarágua, Colômbia, Camarões, Namíbia, Myanmar, Uganda e Zimbábue) mais de 10% das pessoas que começaram o tratamento antirretroviral tinham uma cepa do vírus resistente a medicamentos do mercado.

O Brasil está na lista dos países com registro de resistência do vírus em novos pacientes, mas com índice menor que 10% – por enquanto, foram reportados 1.391 casos. A organização diz que o crescimento dessas taxas, mesmo que ainda lento, poderia minar o progresso internacional no tratamento e prevenção da doença.

A resistência do HIV é causada por uma mutação em sua estrutura genética, o que impede o bloqueio da replicação do vírus pelo remédio e o tratamento se torna ineficaz. Todos os medicamentos existentes contra o vírus hoje correm o risco de se tornar parcialmente ou totalmente insuficientes contra a doença.

O médico especialista Esper Kallas, pesquisador da Faculdade de Medicina da USP, diz que ter uma versão resistente do vírus é um alerta, mas não é motivo para pânico: o HIV pode se tornar resistente a um tipo de remédio, mas resta uma cartela grande disponível. Segundo ele, são mais de 20 tipos de pílulas contra a doença.

De acordo com a OMS e com Kallas, a resistência ao HIV se desenvolve quando as pessoas não seguem o tratamento prescrito - esquecem de tomar no dia e horário certo e/ou pulam etapas, como também ocorre com o combate às bactérias. A organização diz que esses pacientes podem transmitir os vírus resistentes para outras pessoas.

Das 36,7 milhões de pessoas que convivem com o HIV em todo o mundo, 19,5 milhões têm acesso a algum tipo de terapia antirretroviral. Uma tendência crescente de resistência às drogas da doença pode levar a mais infecções e mortes. Um modelo matemático da OMS prevê um adicional de 135 mil óbitos e 105 mil novas infecções nos próximos cinco anos caso novas medidas não sejam tomadas. O custo adicional pode chegar a US$ 650 milhões.

Número de casos
Os casos de infecção por HIV cresceram 3% no Brasil desde 2010 até o ano passado, de acordo com o novo relatório da Unaids, programa das Nações Unidas sobre a Aids. Em média, o número anual de novas infecções na América Latina se manteve estável - em 2010, foram 96 mil novos registros; em 2016, 94 mil. A maioria dos casos na Venezuela, no Brasil e na Guatemala.

No mundo, o vírus da Aids levou à morte 1 milhão de pessoas em 2016, quase metade do 1,9 milhão registrado em 2005. Mais da metade das pessoas infectadas no mundo recebe tratamento, e o número de novas infecções pelo vírus HIV está em queda, ainda que a um ritmo muito lento para conseguir conter a epidemia, de acordo com dados divulgados ontem.

Ao todo, 1,8 milhão de pessoas foram infectadas no ano passado, o que equivale a uma contaminação a cada 17 segundos, em média. Esse número, porém, registra uma queda constante ano após ano, excetuando-se um ligeiro aumento em 2014. Em 1997, alcançou o recorde de 2,5 milhões de novas infecções. Apesar disso, o ritmo segue sendo muito lento para erradicar a epidemia e chegar ao objetivo marcado pela ONU para 2020 de 550 mil novas contaminações. Desde o início da epidemia, no começo dos anos 1990, cerca de 76,1 milhões de pessoas contraíram o HIV e 35 milhões morreram, o equivalente à população do Canadá.

Saúde Plena

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