Muitos gestores de compras/materiais, por falta de informação/conhecimento, não trabalham com o dimensionamento ideal do estoque de segurança. Mas também não podemos criticar estes profissionais, pois lidar com incertezas na demanda é um desafio constante. O gestor de abastecimento não possui “bola de cristal” para poder prever em 100% a demanda de determinado bem, pois contingências como atrasos no ressuprimento de materiais, desvios na previsão de demanda e rendimento da produção abaixo do planejado fazem parte do cotidiano do gestor de compras. Para lidar com essas incertezas, atuantes em toda cadeia logística, devem ser utilizados estoques de segurança. Entretanto, o grande desafio do comprador é identificar o perfeito dimensionamento deste estoque. Muitas empresas determinam de maneira inadequada seus estoques de segurança, pois não se baseiam em medidas precisas das incertezas do processo. Isto ocasiona custos desnecessários que freqüentemente não são mensurados. Se por um lado o excesso de estoque de segurança gera custos desnecessários de manutenção de estoques, relativos aos custos financeiro (capital empatado) e de armazenagem, por outro lado o subdimensionamento gera perdas de vendas (por rupturas) ou freqüentes backorders (postergação de pedidos), gerando um nível de serviço ao cliente insatisfatório. Assim, a questão principal referente à formação de estoques de segurança é: “qual é o estoque mínimo que irá garantir o nível de serviço ao cliente desejado pela empresa?” Os custos de manutenção de estoques e de backorders e/ou vendas perdidas são muitas vezes ignorados por não serem registrados na contabilidade das empresas. Desta maneira é habitual que mesmo grandes organizações não tenham informações gerenciais referentes ao custo de excesso ou de falta de estoques em um determinado período de operação. É fundamental destacar que a mensuração desses custos é o primeiro passo para avaliar a situação da política de estoques da empresa e justificar ou não um trabalho de revisão. Por desconhecimento da dimensão das incertezas inerentes aos processos, podem ser cometidos erros que se traduzem em custos desnecessários. Um exemplo é a formação de estoques de segurança no feeling, sem qualquer parametrização. É comum, por exemplo, que o setor comercial de uma empresa coloque uma margem de segurança na previsão de demanda, a fim de não perder vendas, sem se basear em estatísticas ou séries históricas de demandas reais e erros de previsão. O que se tem ao final é um custo excessivo de manutenção de estoques, decorrente de um superdimensionamento do estoque de segurança. Outro problema comum é a utilização da meta de vendas como previsão de demanda. Se essa meta é freqüentemente superestimada em relação à demanda real/potencial de mercado, ou seja, inclui por si só uma margem de segurança, como conseqüência os níveis de estoque deverão ficar constantemente acima do mínimo necessário. Tem sido comum também a aplicação de regras simplificadas, não necessariamente embasadas nas características específicas do processo de cada empresa, que utilizam uma porcentagem da demanda no lead-time (demanda esperada durante o tempo de ressuprimento), como por exemplo 50%, para a formação do estoque de segurança. Assim, se a companhia tem uma expectativa de vender 100 unidades de um produto durante o lead-time, 50 unidades seriam mantidas a mais em estoque para suportar eventuais variabilidades nessa expectativa inicial. De maneira análoga, algumas empresas dimensionam seus estoques de segurança por número de períodos de demanda, mantendo, por exemplo, “duas semanas em estoque” ou “quatro dias como estoque de segurança”, em geral de maneira empírica, sem fazer uma avaliação razoável de todas as incertezas. Há também o problema da antecipação de pedidos de ressuprimento, feita sem maiores cuidados. Ocorrem casos em que o setor de compras de uma empresa, preocupado com eventuais atrasos do fornecedor, passa a pedir com um certo tempo de antecedência, sem se basear em estatísticas de atrasos desse fornecedor. O que ocorre na prática é um aumento do lead-time de compra, muitas vezes desnecessário, aumentando o tempo em que o capital fica empatado em estoque. Para saber quais incertezas são relevantes para a definição de políticas de estoque e que custos elas estão gerando para a empresa é preciso entender e modelar todo o processo logístico, desde a abertura de requisição de um pedido até o atendimento ao cliente, passando pela produção de produtos acabados e aquisição de matérias-primas. Assim, é possível definir indicadores referentes às incertezas do processo e quantificá-las. É de extrema importância, portanto, a criação de uma base de dados contendo séries históricas desses indicadores que forneçam informações de seu comportamento ao longo do tempo. http://www.revistaportuaria.com.br/site/?home=artigos&n=CdC&t=a-funco-vital-estoque-seguranca-gesto-compras
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