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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Você sabe quanto custa pedir demissão?

Perda de benefícios, tempo médio de desemprego e redução salarial devem entrar na conta de quem deixa o emprego sem nada em vista Seu trabalho é entediante, seu chefe é incapaz de motivar a equipe e seus colegas de profissão parecem disputar o prêmio de um reality show. E, em um momento de fúria, você resolve pedir demissão sem ter nenhuma oportunidade de emprego em vista. Não importa se você é considerado louco ou corajoso, o fato é que uma decisão como esta traz custos. E eles não estão restritos à perda do aviso prévio ou das multas por rescisão do contrato de trabalho, recebidos quando a iniciativa parte da empresa. O tempo médio de busca por uma nova oportunidade, os benefícios perdidos e a redução salarial na recolocação profissional são alguns dos custos atrelados a um pedido de demissão intempestivo. Afora os valores referentes às verbas rescisórias garantidas pela legislação trabalhista (aviso prévio e multa equivalente a 40% do saldo do FGTS) e ao direito de receber o seguro-desemprego – o que não é permitido quando o trabalhador pede demissão -, a primeira conta a ser feita diz respeito aos benefícios que o profissional perde ao deixar a empresa. Tíquete -refeição, vale-alimentação e plano de saúde são os mais comuns. Mas, há ainda quem tenha que contabilizar telefone celular, seguro de vida, previdência privada, pagamento de cursos como pós-graduações e até mesmo automóveis. O valor varia de acordo com o cargo e com a política de benefícios adotada por cada empresa, mas a conta, por si só, já fica bastante salgada. Multiplicada pelo número de meses em que o profissional fica desempregado, tanto pior. Recolocação pode demorar até 12 meses O tempo perdido até encontrar uma nova ocupação também deve entrar na planilha. Obviamente, não se pode prever um prazo com exatidão, mas empresas e consultorias especializadas em recolocação profissional trabalham com médias que variam de um a até 12 meses de busca. Quanto maior o cargo, maior a espera. De acordo com pesquisa da empresa Catho Online, técnicos e profissionais de nível operacional, como consultores de vendas e assistentes administrativos, precisam de 30 a 60 dias para encontrar um novo emprego. Analistas e especialistas demoram entre um e três meses para se recolocarem. Já coordenadores e gerentes costumam levar entre três e seis meses desempregados. No caso de diretores e presidentes, essa espera pode levar até um ano. “É preciso tomar cuidado com a percepção de que o mercado está aquecido. A despeito da escassez de talentos, este profissional que pediu demissão pode não ser tão “empregável” quanto pensa”, afirma Fátima Brandão, gerente de projetos do Grupo Foco, especializado em seleção e recrutamento. E isso vale, inclusive, para os setores que hoje mais demandam profissionais, como o de infra-estrutura. Serviço de outplacement Headhunter com experiência na seleção de executivos para o setor de óleo e gás, Augusto Dias Carneiro contraria o senso comum de que segmentos como este estão contratando o primeiro profissional que aparece. “É verdade que faltam pessoas qualificadas. Mas as empresas estão buscando, cada vez mais, perfis específicos, o que afunila o recrutamento de profissionais”, diz. Em casos assim, há quem prefira contar com o serviço especializado na busca de oportunidades profissionais oferecido pelas empresas de outplacement. Normalmente utilizado por profissionais que já atingiram,no mínimo, cargos de chefia, o outplacement é capaz de acelerar a recolocação profissional a partir da análise criteriosa do perfil e do currículo do candidato e de sua indicação às vagas disponíveis nos segmentos em que deseja atuar. Entretanto, contratar esse serviço exige fôlego financeiro, sobretudo quando se está desempregado. Na Dqueiroz, uma das mais tradicionais empresas de outplacement voltadas para pessoas físicas, um projeto com prazo de 12 meses custa entre R$ 7 mil e R$ 13 mil, dependendo do cargo pretendido pelo cliente. Redução salarial atinge todos os níveis Encontrada uma nova oportunidade profissional, surge mais uma conta a ser inserida na planilha: a perda salarial. Seja na remuneração fixa ou na variável, o fato é que são exceções os casos de quem está desempregado e consegue um novo emprego para ganhar mais. E, ao contrário do que ocorre com as outras perdas, que são maiores para os cargos mais altos, a redução salarial média na recolocação é democrática. Não importa o nível hierárquico ocupado, a remuneração no novo emprego tende a ser entre 20% e 30% menor que no trabalho anterior. Na melhor das hipóteses, a empresa contratante oferece o último salário pago ao profissional. “Profissionais desempregados têm menos poder de negociação e, por necessidade, acabam aceitando propostas menos interessantes”, afirma Claudio Pereira, sócio da NetCo , especializada em recrutamento para alta gerência e diretoria. Ele lembra ainda que, para executivos de alto escalão, existe também a perda do hiring (ou signing) bônus, oferecido ao diretor ou presidente de uma empresa que recebe uma proposta para trabalhar em outra companhia. Pago para atrair executivos, o hiring bônus costuma ficar entre 20% e 30% da remuneração anual oferecida. Desempregado, o executivo de alto escalão dificilmente recebe essa oferta, já que, em tese, a empresa contratante não precisa fazer grande esforço para atraí-lo. Para se ter uma idéia do prejuízo, basta fazer uma conta simples. Um diretor que receba uma proposta com salário mensal de R$ 30 mil e que poderia receber um hiring bônus de 20% do salário anual, perde R$ 72 mil já na entrada. Mudança na carreira Diante de uma fatura tão extensa, os consultores são unânimes ao aconselhar um planejamento cuidadoso. A primeira recomendação é tentar reverter o quadro de insatisfação na empresa, conversando com o chefe e buscando alternativas como transferência de área, mudanças no escopo de trabalho ou programas de desenvolvimento. Mas, se a situação é realmente insustentável e se o descontentamento não tem solução, o ideal é avaliar os próximos passos. “Mudar de emprego já representa um risco altíssimo. Sair sem ter nada em vista é ainda mais complicado. Por isso, o profissional que decide pedir demissão deve fazer uma auto-análise e descobrir o que o motiva, porque essa pode ser uma ótima oportunidade de repensar a carreira”, Irene Azevedo, diretora de negócios da empresa de outplacement DBM Brasil. Foi o que fez o engenheiro de produção Rogerio Bandeira. Insatisfeito na empresa de catering onde ocupava o cargo de coordenador de operações, ele planejou seu pedido de demissão. Além de fazer as contas para saber por quanto tempo poderia manter seu padrão de vida sem trabalhar, ele repensou sua carreira e deixou o emprego decidido a estudar para prestar um concurso público. Aprovado no primeiro concurso que prestou, ele só foi chamado para ocupar a vaga um ano e meio depois. Nesse intervalo, voltou a trabalhar na iniciativa privada, ocupando um cargo mais baixo que o anterior em uma empresa de telefonia. Ao todo, ficou três meses desempregado, estudando em um cursinho especializado em concursos públicos. Mas, o investimento valeu a pena, diz o engenheiro, que hoje é gerente de um banco estatal. “Tive a sorte de contar com o apoio da família para tomar essa decisão. Mas, com certeza, o planejamento dos passos seguintes ao pedido de demissão foi fundamental”, afirma.

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