Um estudo publicado na edição de abril da revista "European Urology" mostrou que é possível curar o câncer de próstata mesmo após o retorno do tumor.
O trabalho, feito com pacientes que já tinham sido submetidos a radioterapia após o diagnóstico inicial, indica que a cirurgia de remoção da próstata é eficaz para eliminar o tumor.
Conduzida em oito centros oncológicos na Europa, nos EUA e no Brasil (na USP), a pesquisa acompanhou 404 homens com idade média de 65 anos, que fizeram cirurgia radical da próstata após recidiva do câncer tratado com radioterapia.
Os pacientes foram acompanhados por dez anos após a cirurgia. Dos 404 que participaram do estudo, 195 (75%) sobreviveram sem metástase. Em 64 deles, o tumor voltou e 40 morreram.
Segundo o urologista do HC e do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo) Daher Chade, que liderou o estudo no país, é a primeira vez que uma pesquisa comprova essa possibilidade.
Hoje, doentes que fizeram radioterapia e voltam a ter câncer são tratados com hormonioterapia, um tipo de químio que controla o crescimento do tumor, mas não o elimina, e aumenta a sobrevida em cerca de dois anos.
No país, 20% dos homens diagnosticados com a doença fazem radioterapia. A outra opção é a cirurgia.
Após a radioterapia, o câncer volta em 20% a 40% dos pacientes. Antes, quando isso acontecia, a doença era considerada incurável. Sempre houve uma suspeita de que a cirurgia poderia eliminar o tumor, mas só agora confirmamos a hipótese, afirma Chade.
O procedimento é o mesmo aplicado nos diagnosticados com câncer de próstata que optam pela operação logo no início.
"Essa é outra vantagem, os urologistas já sabem fazer."
Segundo Chade, a cirurgia tem maior chance de cura mas, também, maior chance de complicações. "Muitos homens não querem correr o risco de ficar impotentes ou com incontinência urinária, mesmo sob o risco de não serem curados com a radioterapia. Por isso, cada vez mais está se indicando a radioterapia como primeiro tratamento."
RESTRIÇÕES
O urologista Miguel Srougi, professor da USP e coautor do estudo, explica que não são todos os doentes que podem ser submetidos ao procedimento.
"Se o tumor voltar de forma muito agressiva, como no caso do ex-governador Orestes Quércia, morto no ano passado, a cirurgia não pode ser feita. Também está descartada em pacientes com PSA [antígeno prostático específico] muito alto no começo, ou quando a radioterapia produziu muita aderência na região da próstata."
Para Miguel Srougi, embora cure um número razoável de casos, o procedimento tem mais complicações do que a cirurgia feita logo após o diagnóstico.
O urologista explica que a pesquisa tem um viés. Os pacientes do estudo foram tratados em centros de excelência, por cirurgiões mais experientes que a média.
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