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quarta-feira, 13 de abril de 2011

O preço da cabeleira The price of the wig

Um estudo sugere que o principal remédio contra a calvície causa problemas sexuais duradouros
One study suggests that the main remedy against baldness cause sexual problems lasting
Um estudo divulgado na semana passada causou burburinho entre os homens por envolver duas de suas maiores preocupações: a calvície e a impotência. O endocrinologista Michael S. Irwig, da Universidade George Washington, investigou os efeitos da droga finasterida (a mais usada no combate à perda de cabelo) sobre a vida sexual. Irwig entrevistou 71 homens (entre 21 e 46 anos) que tomavam o remédio e relataram dificuldades sexuais. Nesse grupo específico, 94% tiveram redução da libido, 92% sofreram disfunção erétil e 69% apresentaram dificuldades de atingir o orgasmo. Os problemas – e essa é a grande novidade, em relação ao que se sabia do produto – persistiram em média 40 meses depois da interrupção do tratamento. “Um em cada cinco homens relatou dificuldades até cinco anos depois de parar de tomar o remédio”, disse Irwig a ÉPOCA. Seu artigo foi publicado no Journal of Sexual Medicine.

No Brasil, mais de 20 produtos contêm a substância finasterida. O mais conhecido é o Propecia, da Merck Sharp & Dohme. A bula informa que a droga pode provocar problemas sexuais, mas que eles são revertidos em, no máximo, três meses após a interrupção do tratamento. A pesquisa de Irwig é a primeira a mostrar que os efeitos indesejados podem durar muito mais tempo. Nenhum representante da Merck Sharp & Dohme falou sobre o assunto. A empresa tampouco informa quantas unidades do medicamento são vendidas no Brasil. Em nota, afirma que em estudos realizados com 3.200 pacientes, apenas 1,8% sofreu efeitos colaterais como diminuição da libido, disfunção erétil e redução do volume ejaculatório. Segundo a empresa, esses efeitos foram revertidos em poucas semanas ou, no máximo, em um trimestre.

O estudo de Irwig tem limitações. A principal delas é ter sido realizado apenas por meio de entrevistas telefônicas, sem avaliações clínicas ou análises laboratoriais. O endocrinologista diz que decidiu investigar o remédio depois de receber queixas de pacientes e de conhecer o site propeciahelp.com, que reúne homens que atribuem seus problemas sexuais ao uso da finasterida. Sua amostragem, portanto, contém apenas homens que tiveram problemas com a droga – uma fração do universo total dos que tomam o remédio.

“Não podemos encarar esse estudo como se ele fosse uma verdade absoluta”, diz Francisco Le Voci, membro do departamento de cabelos da Sociedade Brasileira de Dermatologia.“Tratei cerca de 5 mil pacientes com esse remédio. Uns 2% reclamaram de redução de libido, mas o problema sempre foi transitório”, afirma. O trabalho de Irwig tem o mérito de chamar a atenção para um tema que merece ser investigado. No Reino Unido e na Suécia, as agências regulatórias informam os pacientes de que houve relatos de disfunção erétil persistente mesmo depois da interrupção do tratamento. Mesmo que o problema tenha ocorrido em poucos pacientes, informação nunca é demais.


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