Marcos Burghi
A coordenadora de vendas Anne Cardon, de 26 anos, tem plano de saúde desde abril de 2010. Ela obteve pela primeira vez o benefício após ser contratada por uma escola de inglês. “Antes de conseguir o emprego estava pesquisando preços de planos individuais, mas só encontrei alternativas caras em relação a meu orçamento”, afirma.
Anne conta que, na empresa, tem parte do valor do plano descontado do salário. “São cerca de R$ 105 todo o mês, a metade do que eu pagaria nos planos individuais dos quais eu havia feito cotação há um ano”, observa.
A jovem trabalhadora está entre os 3,6 milhões de brasileiros que ingressaram no sistema privado de saúde em 2010 como resultado do bom momento econômico vivido pelo País, que levou ao aumento do número de postos de trabalho formais e, como consequência, a um maior número de pessoas que podem usufruir dos serviços dos planos de saúde.
No ano passado, segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o sistema atingiu a marca de 45,6 milhões de vidas, um aumento próximo dos 9% em relação ao total registrado em 2009, de 41,9 milhões de vidas. O crescimento é o maior registrado entre um ano e outro desde 2000, quando as informações começaram a ser contabilizadas.
Luiz Tadeu Lopes, sócio-diretor da Torres Benefícios, consultoria de benefícios e gestão empresarial, avalia que o aumento do número de beneficiários é consequência direta do crescimento econômico. Ele lembra que quase 60% dos beneficiários estão vinculados a planos coletivos empresariais, ou seja, o serviço depende de vínculo empregatício.
Lopes acrescenta, ainda, que o crescimento do número de participantes dos planos coincide com o pico histórico da geração de postos de trabalhos formais no País. Em 2010, apontam números do Ministério do Trabalho e Emprego, foram criados 2,5 milhões de novas vagas com carteira assinada, maior volume em cinco anos.
O consultor não acredita em problemas de atendimento ao aumento da demanda. “As empresas têm investido a fim de dar conta deste crescimento”, afirma.
Segundo a ANS, o número de pontos de atendimento dos planos privados de saúde — contando consultórios, hospitais e pontos para exames clínicos — cresceu 12,47%, de 88,2 mil unidades em 2009 para 99,2 mil em 2010.
O consultor Pedro Fazio, especialista no mercado de saúde suplementar, explica que em função da recuperação econômica pós-crise internacional de 2008, boa parte da elevação dos planos coletivos empresariais se relaciona ao segmento de micros e pequenas empresas.
O presidente da Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge) Arlindo Almeida, afirma que o bom momento do mercado de trabalho elevou o número de planos coletivos empresariais e as operadoras trabalham para dar conta da demanda.
Greve
Quanto ao protesto dos médicos credenciados pelos planos, que há uma semana cruzaram os braços em protesto contra o baixo valor pago pela consulta, Almeida classifica como falta de compreensão sobre o funcionamento do sistema.
“Sabemos que os valores pagos são baixos, mas os custos do setor são altos, principalmente porque é preciso acompanhar a evolução tecnológica”, diz. Segundo ele, os honorários dos médicos variam entre planos, mas a média é de R$ 40 por consulta.
A Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), que representa 15 grupos de operadoras privadas de assistência à saúde, diz que “suas afiliadas buscam adequar a sua rede de prestadores de serviços própria ou credenciada às necessidades de atendimento e não vem observando estrangulamentos ou perspectivas de colapso do sistema”.
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