Grão desponta como super alimento. Suas propriedades, porém, são similares ao tradicional prato brasileiro
Ela não é nova, tampouco desconhecida da população (o Brasil é o segundo maior produtor de soja no mundo), mas ganhou espaço na indústria alimentícia recentemente, que viu no pequeno grão um novo filão para vender saúde.
Embora seja, por definição, um alimento completo, rico em proteína, carboidratos, ácidos graxos e vitaminas – a soja é tão poderosa quanto o tradicional arroz com feijão, revela José Lara Neto, vice-presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).
“É o feijão e arroz com um pouco mais de vitaminas e ácidos graxos. Quem começa a incluir a soja na alimentação, deixa de comer gordura e carne vermelha. Ela é um substituto imediato para a carne, tem as mesmas quantidades de proteína. A reeducação resulta em saúde. Em uma dieta, é mais importante considerar aquilo que você deixa de comer, do que aquilo que é ingerido.”
Na visão do especialista, a oferta excessiva de produtos à base de soja não tem força para mudar uma questão cultural dos brasileiros, o que justifica o índice ainda baixo de consumo do produto no País, apesar da robusta produção nacional.
“Fomos educados a comer arroz com feijão, é quase obrigatório e extremamente benéfico. O ser humano pode viver só com arroz e feijão, mas não consegue sobreviver apenas de soja. Ela é ótima, mas não faz milagres. Quem não come não morrerá mais cedo, nem é descuidado ou menos saudável.”
Benefícios pontuados
A soja pertence à familia das leguminosas, ou seja, é prima do feijão, da lentilha, ervilha e do grão de bico. É rica em proteínas, lipídios, fibras e sais mineirais, além de conter vitaminas do complexo B, item pouco presente nos alimentos de origem vegetal - e um dos fatores que a faz especial, endossa Heloísa Guarita Padilha, diretora da consultoria RG Nutri.
"Uma dieta rica em soja favorece o funcionamento do intestino, o que previne o câncer de cólon. Ajuda a reduzir o mau colesterol, diminuindo as taxas de LDL. Por ser rica em fibras, promove saciedade, o que é indispensável no controle do peso. É também um ótimo substituto do leite para os intolerantes à lactose."
Acredita-se também que o alimento reduza os riscos de câncer de mama, colo do útero e de próstata. A tese está diretamente relacionada aos baixos índices dessas doenças em países asiáiticos, onde o consumo diário de soja é elevadíssimo (mais de 300 gramas por pessoa).
Soja nelas
Defensor do consumo irrestrito de soja, José Marcos de Bourbon Gontijo Mandarino, químico da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), enaltece o valor do alimento para a saúde da mulher.
Segundo o pesquisador, as isoflavonas, substâncias que apresentam composição semelhante ao hormônio feminino, o estrógeno, usadas na reposição hormonal, também são excelentes para minimizar os sintomas típicos da menopausa – fogacho, suor noturno, diminuição da libido, cefaleia e queda de cabelo.
“É um super alimento para as mulheres em todas as etapas da vida, principalmente para aliviar crises de tensão pré-menstrual (TPM) e os tradicionais sintomas do climatério.”
De fato, a soja é a mais importante fonte de fitoestrôgeno, e uma alternativa bastante eficaz à reposição hormonal. Lara Neto, porém, freia o ufanismo na defesa do alimento. Na visão do vice-presidente da Abran, os sintomas típicos da menopausa não são universais.
“A soja é boa para o climatério, mas não excelente. Os transtornos da menopausa só aparecem de forma tão acentuada quando há um terreno favorável. Nem todas as mulheres terão esse quadro."
Sem recortes
A presença de hormônios femininos naturais é benéfica para homens e mulheres, sem restrição de consumo por gênero ou idade. “A linhaça também tem isoflavonas, é muito semelhante, elas não enganam os receptores hormonais masculinos. A atividade é débil, muito fraca para provocar alteração, feminilidade nos homens.”
Mandarino reforça o alerta, e assevera: “São mitos descabíveis que circulam por aí. Se provocasse alguma alteração, não existiriam mais homens na China, por exemplo, onde o consumo é elevadíssimo."
Como incorporar
Alguns especialistas recomendam o consumo de 25 gramas de soja por dia. Lara Neto, porém, rechaça números universais e explica que o alimento deve ser combinado aos poucos, sempre substituindo outros produtos, e ingerido três vezes por semana, ao menos. "Temos 390 calorias para 100 gramas. É um produto calórico. Antes de sair comendo soja, é preciso orientação e recomendação de um especialista. Há inúmeras formas de incorporá-la na dieta, mantendo o prazer em comer."
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