Enquanto nos seres humanos o vírus da dengue provoca dores e cansaço, nos mosquitos ele age da forma oposta. Os insetos ficam mais ativos e se locomovem até 50% a mais do que o normal.
A descoberta é de pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), no Rio de Janeiro, que analisaram em laboratório o comportamento de fêmeas do Aedes aegypti com o tipo 2 da dengue, um dos mais comuns no Brasil.
"Ficamos surpresas com o resultado. Um aumento de 50% na locomoção normal é algo muito significativo e que nós não esperávamos", disse à Folha Tamara Lima-Camara, doutoranda do IOC (Instituto Oswaldo Cruz) e uma das autoras do trabalho, publicado na revista "PLoS One".
Além de se mexer mais, elas também faziam isso em horários incomuns. Embora a espécie tenha hábitos diurnos, as contaminadas estenderam sua locomoção também durante parte da noite.
LANCHINHO
Esse aumento de locomoção e atividade poderia afetar outros aspectos biológicos, como a postura de ovos e o período em que as fêmeas da espécie se alimentam. Ou seja: quando saem em busca de sangue humano.
Embora a influência do vírus do tipo 2 tenha sido significativa, os autores dizem que é cedo para saber se isso se repete com os outros sorotipos ou mesmo com o vírus da febre amarela, que também pode ser transmitido pelo A. aegypti em área urbana.
Para os cientistas, conhecer bem as atividades do mosquito pode ajudar nas estratégias de controle da disseminação do inseto e da própria dengue, ajudando a escolher o período mais propício para começar a liberar inseticidas, por exemplo.
"Mas, nesse caso é preciso cautela. Usar veneno indiscriminadamente pode deixar os mosquitos mais resistentes, o que só criaria um outro problema", completa Raquel Bruno, que também participou do trabalho.
No caso do A. aegypti, estudos anteriores já tinham mostrado que ele tinha seu comportamento alterado quando era contaminado com outros parasitas. O trabalho com a dengue, porém, é muito mais significativo para o Brasil e outros países em que a doença causa muitas mortes, sobretudo no verão.
INFLUENCIADO
Ainda não se sabe exatamente como o vírus age para que isso aconteça, mas um de seus maiores alvos é o sistema nervoso do inseto. Para o experimento, os pesquisadores inocularam o vírus em algumas fêmeas, enquanto mantinham um grupo controle "saudável".
Depois disso, os mosquitos foram colocados em tubinhos de vidro. Nele, os pesquisadores mediram, com luz infravermelha, a locomoção das fêmeas individualmente por quase uma semana.
Para averiguar a "hora" de atividade, os cientistas simularam períodos de claro e escuro de 12 horas cada. As infectadas andaram de 10% a 50% mais do que as não contaminadas.
"Embora na natureza os mosquitos voem muito mais do que andem, existem estudos que mostram uma ligação entre o aumento da locomoção e o da atividade de voo", disse Lima-Camara.
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