Estudos de famílias sugerem a existência de um forte componente genético no autismo e na esquizofrenia. Porém, acredita-se que estas doenças surjam na fase inicial do desenvolvimento, o que dificulta o estudo de causas genéticas ocultas.
Agora, cientistas do Laboratório de Cold Spring Harbor, em Nova Iorque, produziram ratos com anomalias cromossômicas que refletem as sentidas pelos seres humanos com essas doenças, o que deve facilitar o estudo do papel da genética no desenvolvimento do cérebro.
Em 2008, diversos grupos de pesquisa identificaram uma seção do DNA no cromossomo 16 que parecia ser importante para o desenvolvimento do cérebro humano. A supressão desta parte estava relacionada ao autismo e a atrasos no desenvolvimento, enquanto que cópias extras estavam vinculadas ao autismo e à esquizofrenia.
O novo modelo de rato deve permitir aos cientistas avaliar os efeitos de variantes genéticas em diversos estágios do desenvolvimento, iniciando pelo útero. Espera-se que os experimentos forneçam novas pistas sobre as características do autismo e da esquizofrenia e identifiquem, se possível, novos testes que possam ajudar no diagnóstico clínico dessas doenças.
''Estamos especialmente interessados em descobrir biomarcadores precoces’', afirma Alea Mills, principal autora do novo estudo, publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.
Os pesquisadores usaram uma técnica genética relativamente nova, chamada engenharia de cromossomos, para produzir anomalias no segmento pertinente do rato equivalente ao cromossomo 16. Em seguida, eles usaram métodos-padrão para produzir ratos desprovidos deste segmento ou possuindo cópias extras dele. As consequências da retirada do cromossomo parecem ser mais graves do que as da duplicação, o que condiz com as constatações de exames clínicos em humanos. Aproximadamente metade dos ratos sem o cromossomo morreu logo após o nascimento. Isso sugere que essa parte do cromossomo é essencial para o bom desenvolvimento. Não se sabe se a falta desse cromossomo também influencia na mortalidade infantil nos seres humanos.
Os ratos sem o cromossomo também exibiram um comportamento associado ao autismo, como movimentos limitados e repetitivos, e falta de sono. Quando os pesquisadores realizaram exames de ressonância magnética nos ratos, eles descobriram que a falta do cromossomo estava associada ao aumento do volume de diversas áreas do cérebro, especialmente do hipotálamo, que regula os hábitos alimentares e de sono. Os ratos com a duplicação tendiam a possuir áreas cerebrais menores em comparação com as do grupo de controle, mas as consequências eram menos acentuadas.
O próximo passo de Mills e seus colegas será descobrir quais mecanismos estão por trás das diferenças de comportamento e de anatomia observadas. A maioria dos modelos de ratos são criados pela manipulação de um único gene.
Contudo, as versões humanas e de ratos do cromossomo16 contém mais de 20 genes e não se sabe ao certo qual deles é o mais importante. ''Será preciso refinar esta área até chegar a poucos genes’', afirma David Miller, pesquisador de genética do Hospital Infantil de Boston. Miller pesquisou a falta do cromossomo 16 em humanos, mas não participou deste estudo.
A fim de chegar a esse objetivo, Mills e sua equipe estão trabalhando na divisão do cromossomo em partes menores e na criação em ratos de subgrupos de supressão e duplicação. Estudar a interação de tantos genes será um desafio. Porém, talvez isso seja necessário para a compreensão de doenças complexas e heterogêneas como o autismo e esquizofrenia. Muitas clínicas, incluindo o Hospital Infantil, já possuem um teste para detectar supressões ou duplicações do cromossomo 16. ''O segredo é saber o que elas significam quando as descobrimos’', afirma Miller.
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