Aplicativos, carreira, concursos, downloads, enfermagem, farmácia hospitalar, farmácia pública, história, humor, legislação, logística, medicina, novos medicamentos, novas tecnologias na área da saúde e muito mais!



quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Olhos de vidro: Uma arte em declínio?

Artesão alemão que vive na Grã-Bretanha há cinco décadas é único a oferecer serviço no país; próteses modernas são de acrílico.

Em uma sala minúscula em um subúrbio no norte de Londres, o alemão Jost Haas está fabricando um olho de vidro.

Haas segura um tubo de vidro sobre um bico de búnsen e, girando-o constantemente, sopra dentro de uma pequena quantidade de vidro fundido acoplada à outra extremidade do tubo, formando uma pequena esfera.

Seu cliente, Dan Light, enxerga por apenas um olho.

Haas usa palitos de vidro colorido para tentar criar uma cópia exata, não apenas do desenho da íris, mas também das veias vermelhas da esclera (a parte branca do olho).

O artesão também tem de fazer com que o olho de vidro se encaixe perfeitamente sobre o olho danificado do seu cliente, algo que requer precisão de milímetros.

Um olho de vidro não é - ao contrário do que muitos imaginam - sólido como uma bola de gude. Trata-se na verdade de uma meia esfera oca, uma concha fina encaixada sobre o olho danificado, se ele ainda existe.

Caso contrário, a prótese é encaixada sobre uma esfera implantada cirurgicamente na cavidade ocular e conectada aos músculos do olho.

A maioria dos olhos artificiais possui algum tipo de movimento.

Confortante para o Outro
Em alguns casos, uma prótese de olho pode ajudar pacientes que perderam seu olho a conviver melhor com seu problema.

Cada um dos clientes de Hass conta uma história diferente para explicar a perda de seu olho. Há casos de câncer, de violência ou de uma brincadeira que não deu certo.

Dan Light, hoje com cerca de 30 anos, visita o ateliê de Hass desde a infância.

O inglês perdeu o olho aos quatro anos de idade, quando ele e o irmão brincavam com ferramentas que um encanador deixara em sua casa.

Light está encomendando vários olhos de vidro para fazer um estoque pessoal.

É que Haas, que nasceu na Alemanha - país famoso por produzir olhos de vidro de alta qualidade - e vive na Grã-Bretanha desde a década de 1960, deve se aposentar em breve.

Quando isso acontecer, não haverá mais fabricantes de olhos de vidro no país - atualmente, a grande maioria das próteses de olho é feita de acrílico.

Um olho artificial não é como uma perna ou um dente falsos. A prótese não cumpre a função do olho verdadeiro.

Seus benefícios são puramente sociais e psicológicos: evitar desconforto nas outras pessoas e fazer com que o usuário se sinta "normal".

Light disse que durante um tempo optou por não usar o olho artificial. Achava que o mundo deveria aceitá-lo como ele era. Mas o olho de vidro se tornou motivo de discussão entre sua mãe e sua namorada.

A namorada lhe dizia que o olho "ruim" era bonito. A mãe dizia que usar uma prótese de olho é como usar desodorante: algo que você faz para o benefício dos outros. A mãe acabou vencendo.

Para muitas pessoas, um rosto sem dois olhos idênticos é algo desconcertante.

Mesmo que sejam necessários apenas uns poucos instantes para que o observador se ajuste à falta de um segundo olho, esses poucos instantes podem ser terríveis para quem está sendo observado - ou seja, para a pessoa que tem somente um olho.

Tempos Modernos
Ao se aposentar, Haas deixará órfãos clientes que vêm usando seus serviços há vários anos.

É possível que muitos passem a usar próteses de acrílico pintadas à mão.

Elas oferecem pelo menos uma grande vantagem em relação às de vidro: sua durabilidade.

As proteínas contidas nas lágrimas corroem a superfície da prótese, tornando-a fosca. A prótese de vidro não pode ser polida, portanto precisa ser substituída a cada dois anos.

A de acrílico, por outro lado, pode ser polida várias vezes e dura entre 15 e 20 anos.

No entanto, o relacionamento entre o cliente e o artesão que fabrica a prótese de seu olho é muito particular, explicou Peter Coggins, que faz próteses de acrílico para pacientes do Moorfields Eye Hospital, em Londres.

"Cria-se uma ligação emocional forte e o paciente tende a querer manter aquele vínculo".
"A primeira sessão é a mais importante, quando você vê o paciente e as emoções podem ser mais intensas. É preciso muita conversa".

Segundo Coggins, uma vez que os clientes de Haas consigam superar o impacto psicológico de perder os serviços do artesão, a adaptação às próteses modernas de acrílico não deve ser difícil.

A única exceção são casos raros em que o paciente desenvolve uma alergia ao acrílico.

"Nesses casos, recomendamos a prótese de vidro", explicou.

Mentira ou Liberação?
Para algumas pessoas, usar um olho artificial pode ser uma experiência transformadora.

Bob Lewis perdeu um de seus olhos há dois anos, em consequência de um câncer. Ele disse que quando recebeu uma prótese pela primeira vez, ficou emocionado.

"Chorei", ele disse. "Estava completo novamente. Eu nunca poderia ver (com o olho artificial), mas visualmente estava perfeito de novo".

Outros, no entanto, se incomodam com a ideia de uma protese.

Vera White, que também teve um tumor, precisou fazer terapia para conseguir se conformar com a ideia de usar um olho artificial.

"É a falsidade da coisa, a artificialidade (que me desagrada). Na verdade, eu queria que minhas pálpebras fossem fechadas e costuradas".

No final, fez um acordo com a prótese: "Olhei para o espelho e disse ao olho (falso): 'Não gosto de você, nunca vou gostar, mas você pode ficar aí'".

Fonte Estadão

Nenhum comentário:

Postar um comentário