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sábado, 18 de agosto de 2012

Engasgar com alimentos, líquidos ou pequenos objetos exige atenção

Agir rápido e corretamente faz toda a diferença para solucionar o problema

Nada mais constrangedor do que estar à mesa, degustando uma deliciosa refeição, e perceber que aquele pedaço de comida ou um simples gole d'água entrou "pelo canal errado". Face avermelhada, tosse e falta de ar são reflexos naturais de uma situação pra lá de comum, mas que são eficientes armas do organismo para expulsar o alimento da garganta e colocá-lo no caminho certo para o estômago.

Porém, nem sempre a história acima se repete sem problemas e fica só na vergonha do engasgo. Nesta semana, um fato inusitado ocorrido em Porto Alegre chamou atenção para o quanto precisamos cuidar ao satisfazer uma de nossas necessidades mais triviais: comer. O empresário aposentado de 81 anos, que comemorava o Dia dos Pais com a família em uma churrascaria, só foi salvo pela sorte do destino. Um cirurgião almoçava no mesmo restaurante e conseguiu realizar uma traqueostomia de urgência, usando apenas uma caneta e faca comum.

— O que deve ser salientado é que este é um procedimento de extrema urgência, que apenas deve ser feito por pessoas habilitadas e após todas as tentativas de reanimação — afirma o tenente Miguel Ribeiro, oficial do 1° Comando Regional dos Corpos dos Bombeiros da Capital, que há 24 anos convive com emergências deste tipo.

Ar e alimentos em caminhos distintos
Engasgar com algum alimento, bebida ou qualquer outro objeto é fato comum em crianças e idosos, mas vale salientar o perigo para qualquer pessoa, de qualquer idade. Tudo ocorre em função da faringe, que é a porta de entrada tanto da alimentação quanto da respiração. A comida e o ar devem seguir rumos distintos. Para isso, são orientados pela epiglote, uma espécie de "tampa" localizada na garganta, que abre e fecha involuntariamente. E é aí que mora o perigo: quando esse mecanismo falha, a epiglote abre no momento errado e é dirigido para a laringe, provocando o indesejável engasgamento.

E, nesta hora, como agir?
Segundo Júlio Pereira Lima, membro da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (Sobed) e professor da Santa Casa de Misericórdia e da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), erros muito comuns são cometidos na hora do socorro:

— É preciso ficar atento para o local no qual o alimento está estacionado. A Manobra de Heimlich (pressão sobre o final do diafragma, fazendo com que corpos estranhos sejam expulsos da traqueia) não adianta caso ele já esteja no esôfago, no nível da aorta. Levar imediatamente a pessoa ao hospital é vital, pois somente com um endoscópio o especialista pode verificar em qual local o corpo estranho se alojou e retirá-lo sem comprometer o aparelho digestivo ou qualquer outro órgão.

O chefe do setor de gastroenterologia da Santa Casa e médico do Hospital de Pronto Socorro (HPS) de Porto Alegre Geraldo Druck Sant'Anna também salienta a importância de chamar a ambulância ou encaminhar a vítima ao hospital imediatamente.

— Em alguns casos, o tempo é curtíssimo. Mas felizmente, os casos fatais são raros — lembra.

Dentadura, espinha de peixe e Playmobil
Em cerca de 90% dos casos, quem chega ao hospital para retirar objetos da via respiratória são crianças. Moedas, bolinhas de gude e peças de brinquedos soltas são as campeãs a serem resgatadas. Não raro, é preciso fazer cirurgias para evitar complicações.

— De uma a duas vezes por mês, pelo menos, entro em bloco cirúrgico para remover corpos estranhos trancados no esôfago, que vão de próteses dentárias mal presas a até Playmobil — afirma o gastroenterologista Sant'Anna.

No caso das crianças, o especialista diz que é essencial evitar dar, antes dos sete anos de idade (quando ocorre a maior parte dos casos de engasgamento), alimentos como pipoca, amendoim e frutas com o bagaço.

Para os adultos, a dica é checar a integridade das dentaduras e próteses dentárias e, ainda, controlar a ansiedade ao sentar à mesa: a pressa, sem dúvida, é inimiga da boa digestão — que, não custa lembrar: começa na boca.

Números
Como não existe Classificação Internacional de Doenças (CID) para engasgamentos, não há registros específicos dos casos no Brasil. Porém, em Porto Alegre, apenas no ano passado, 5.160 pessoas foram atendidas no HPS para retirada de corpos estranhos, excluindo os registros dos corpos estranhos nos olhos, ocorrência mais comum (7.658 casos em 2011).

De 1° de janeiro a 30 de abril deste ano, 2.775 pessoas foram atendidas no HPS para este tipo de procedimento. Os últimos dados do Ministério da Saúde apontam que, em 2008, 754 crianças de até 14 anos morreram vítimas de sufocamento no Brasil, das mais variadas formas.

CRIANÇAS
:: Moedas

:: Bolas de gude

:: Botões de roupas

:: Pipoca e amendoim

:: Partes de brinquedos

:: Pilhas e baterias

:: Parafusos

:: Balas

ADULTOS
:: Ossos de galinha e de porco

:: Espinha de peixe

:: Caroços de frutas

:: Chapas e próteses dentárias

OBJETOS BIZARROS JÁ ENCONTRADOS

:: Tubo de pasta de dentes inteiro

:: Tampa de perfume

:: Chave de fenda

:: Apito

:: Garfo

:: Faca

:: Celular

:: Brincos

:: Tampa de garrafa

Como pedir ajuda

192 — Samu

193 — Bombeiros

Fonte Zero Hora

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