A pesar de não haver cura conhecida para o problema, as erupções quase sempre podem ser minimizadas e, às vezes, prevenidas
O verão pode ser tanto uma bênção quanto uma maldição para milhões de pessoas que sofrem de uma doença crônica de pele chamada eczema.
As manchas vermelhas, secas e que coçam frequentemente de maneira intolerável, muitas vezes regridem quando o clima está quente e úmido, e a pele fica exposta com mais frequência à luz solar.
Ainda assim, para muitos, tirar partes da roupa pode ser vergonhoso e, no caso das crianças, pode resultar em provocações e exclusão. Mesmo para aqueles que se sentem confortáveis em roupas de banho, nadar em uma piscina pode ser um problema se a sensibilidade ao cloro piorar a condição.
Em países industrializados, o eczema se tornou duas ou três vezes mais comum nas últimas décadas. Apenas parte desse aumento pode ser atribuída a melhores diagnósticos. Hoje, de 15% a 30% das crianças e de 2% a 10% dos adultos têm eczema, que, quase sempre, começa nos cinco primeiros anos de vida.
Felizmente, em mais de dois terços das crianças, a condição é resolvida sozinha antes da adolescência.
Desvendando o eczema
O nome médico para eczema é dermatite atópica (DA), que mostra a natureza imunológica da doença. Ela é mais comum entre crianças morando em cidades do que aquelas que moram em áreas rurais.
Segundo a chamada teoria da higiene, a exposição precoce a agentes infecciosos oferece proteção contra doenças alérgicas. Quanto mais higiênico for o ambiente da criança, maior será o risco.
O eczema não é contagioso, mas mais de um membro da família pode ser afetado. Além disso, a doença parece ter um componente genético.
Para os gêmeos idênticos, por exemplo, 77% dos casos afetará ambos os irmãos, mas para gêmeos fraternos, o mesmo acontecerá em apenas 15% das vezes.
Outro indício é o fato de que as pessoas com doença celíaca — uma intolerância ao glúten — têm três vezes mais chances de desenvolver o problema, sendo que os parentes dessas têm duas vezes mais probabilidade.
Coçar as manchas pode torná-las pior e expor a pele a infecções
O eczema é frequentemente chamado de "a coceira que não se pode coçar", embora uma melhor descrição seria "a coceira que não se deve coçar".
Apesar de não haver cura conhecida para o problema, as erupções quase sempre podem ser minimizadas e, às vezes, prevenidas.
Pesquisas recentes identificaram fatores envolvidos no desenvolvimento da doença que podem levar a novos tratamentos para controlá-la de forma mais eficaz. Conforme explicação do Dr. Thomas Bieber, dermatologista da Universidade de Bonn, na Alemanha, na revista The New England Journal of Medicine, a marca registrada do eczema é uma alteração na pele que permite que a água escape, e que alérgenos do ambiente — como aqueles do pólen, ácaros e comida — entrem.
O resultado são manchas inflamadas, secas, que coçam e que, às vezes, são diagnosticadas erroneamente como psoríase.
A pele com a doença também não tem quantidade normal de um agente natural antimicrobiano, chamado catelicidina, fazendo com que ela seja suscetível a infecções que podem ser difíceis de controlar. Mais de 90% das pessoas com eczema têm colônias da bactéria Staphylococcus aureus, que crescem na pele, contribuindo com a sensibilidade alérgica e consequente inflamação.
Coçar as manchas aumenta, assim, a capacidade dessa bactéria de romper ainda mais a função de barreira da derme.
Outras descobertas
Há tempos sabe-se que a camada mais externa da pele funciona mal em pessoas com eczema. Pesquisadores da Universidade de Rochester, entretanto, identificaram outro motivo pelo qual a pele com eczema é suscetível a invasão de alérgenos.
A Dra. Anna De Benedetto e sua equipe mostraram que uma proteína protetora chamada claudin-1 é enfraquecida de forma significativa na pele de pacientes com o problema, mas não naqueles com pele normal ou com outras doenças.
Quando a claudin-1 é reduzida, as "junções apertadas" entre as células da pele perdem a vedação, ficando permeáveis à alérgenos do ambiente e à agentes infecciosos. Se estudos futuros confirmarem essa descoberta, uma das formas de controle do eczema deverá ser o desenvolvimento de tratamentos que fortaleçam essa barreira.
Como é o tratamento
Tratamentos atuais focam na redução da inflamação, perda de umidade e colonização da bactéria. Os especialistas geralmente recomendam um esteroide com receita médica, usado topicamente em quantidades minúsculas, combinado com um hidratante comum aplicado generosamente no corpo logo após o banho, para conter a água na pele.
Além disso, devem ser usados apenas sabonetes suaves, que não ressequem a pele. Na escolha do hidratante, por sua vez, o produto deve ser sem perfume.
Como o suor pode desencadear surtos, é melhor tomar banho imediatamente depois de atividades que podem fazê-lo ficar com calor. Além disso, o estresse também pode ser causa de erupções em algumas pessoas.
Alergias a comidas, bem como contato da pele com substâncias venenosas, podem também desencadear o problema. Por isso, é preciso eliminar os culpados que, no caso dos alimentos, são frequentemente laticínios como ovos ou frutas oleaginosas.
Eczema por contato
O eczema por contato é geralmente uma doença ocupacional decorrente da exposição a detergentes, agentes sanitários ou ao cimento molhado, que se manifesta depois que a pele é exposta à luz solar.
Para evitar reações deste tipo, pessoas com eczema nas mãos são geralmente aconselhadas a usar luvas a prova d'água de algodão forrado ao lavar pratos ou trabalhar com substâncias irritantes.
Fonte The New York Times/Zero Hora
Nenhum comentário:
Postar um comentário