Foto: Marcelo Seabra/O Liberal Vitamina E pode estar associada com prevenção de hipertensão |
Uma pesquisa feita com ratos como cobaias sugere que a administração em grávidas desnutridas de um tipo ativo de vitamina E, o alfa-tocoferol, durante o período perinatal (gestação ou o período que vai da fertilização até o nascimento) pode ajudar a prevenir o surgimento de hipertensão nos filhos quando adultos.
As informações foram apresentadas nesta quinta-feira (22) pela professora de bioquímica e fisiologia Ana Durce Oliveira da Paixão, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), durante a reunião anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe), em Caxambu, Minas Gerais.
O efeito ocorre porque a vitamina E tem propriedades antioxidantes que ajudam a prevenir a formação de radicais livres na gravidez, afirma a professora. "O tocoferol age principalmente prevenindo o estresse oxidativo. No entanto, há ações genômicas [da vitamina] das quais ainda pouco se sabe", ponderou.
Na pesquisa, fêmeas grávidas de ratos foram submetidas à desnutrição. Nessa situação, elas tiveram "estresse oxidativo", ou seja, formação de radicais livres. No período de gravidez, estas moléculas mudaram a expressão de alguns trechos do DNA do feto, prejudicando seu funcionamento. "Afeta a vida inteira do filhote, [a expressão] do gene fica modificada", disse Ana Durce.
Ela afirma que, nos testes com ratos, a administração da vitamina em fêmeas grávidas e desnutridas foi satisfatória em prevenir que os filhotes tivessem hipertensão. No entanto, efeitos colaterais podem surgir e ainda demandam outras pesquisas para serem conhecidos.
Efeito colateral
"O tocoferol, quando administrado em uma mãe com dieta normal, ele próprio causou hipertensão. Ainda não entendemos por que isso acontece, precisamos ainda estudar a razão disso", ponderou. Sobrecargas e doses elevadas da substância podem causar problemas, afirma a cientista.
"O tocoferol, quando administrado em uma mãe com dieta normal, ele próprio causou hipertensão. Ainda não entendemos por que isso acontece, precisamos ainda estudar a razão disso", ponderou. Sobrecargas e doses elevadas da substância podem causar problemas, afirma a cientista.
"O conceito principal é que prevenir o estresse oxidativo, isto é, os radicais livres, pode prevenir sequelas da desnutrição materna", ressalta Ana Durce. Ela diz ainda que é preciso pesquisar mais sobre quais genes estão tendo sua expressão alterada pelos radicais livres nos fetos.
A pesquisa é um passo para saber como os radicais livres influenciam no aparecimento da hipertensão, diz a cientista. "Se a desnutrição 'programa' a hipertensão, é possível a 'reprogramação'", para evitar o distúrbio, na avaliação de Ana Durce.
"A desnutrição causa estresse [oxidativo]. A mãe já tem uma placenta com estresse aumentado, o feto está com estresse oxidativo aumentado e os genes fetais estariam afetados", avalia. Uma das hipóteses é que os radicais livres tenham consequências principalmente no sistema renina-angiotensina, que atua no controle da pressão arterial, pondera a pesquisadora.
Ela afirma ser muito cedo para falar em alfa-tocoferol como tratamento terapêutico em mulheres. Por enquanto os dados foram colhidos em pesquisas com ratos, e são necessários mais testes para saber se a substância pode no futuro ser eficiente com mulheres grávidas.
Em populações humanas, quadros de hipertensão em adultos que tiveram mães desnutridas foram identificados em várias regiões e épocas, afirma a professora da UFPE. Ela relata terem surgido populações na Holanda com hipertensão e função renal comprometida após a Segunda Guerra Mundial, por conta da desnutrição das mães na gravidez. Casos foram identificados entre aborígenes australianos, indígenas americanos e famílias europeias no pós-guerra, pondera.
G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário