Em qualquer fase da vida, o sistema imunológico está em constante manutenção e requer cuidados relacionados à alimentação, ao sono, ao ritmo do dia a dia e às atividades físicas, entre outros fatores. Mas na infância ele merece atenção especial, pois está em construção.
“A criança nasce com imunidade inespecífica, vinda da mãe, e vai formando sua própria imunidade à medida que o organismo se adapta ao ambiente e aprende a lidar com o que lhe é apresentado”, afirma a pediatra Isabella Ballalai, autora do guia “Doenças Infecciosas na Creche e na Pré-Escola” e presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações Regional Rio de Janeiro (Sbim-RJ).
A imunidade inespecífica a que a médica se refere vem da placenta e do leite materno – mais um motivo para amamentar até o sexto mês de vida, conforme a orientação da Organização Mundial da Saúde. Quando o bebê sai do aleitamento exclusivo, entra no período de formação de imunidade específica. Seu início é o momento em que os pais mais têm liberdade para exagerar nos cuidados.
Até o oitavo mês de vida, ele pode entrar no que chamamos de janela imunológica. É uma imunodeficiência transitória, já que perdeu os anticorpos da mãe e está conquistando os seus”, explica Fátima Rodrigues Fernandes, pediatra e infectologista do Hospital Infantil Sabará.
Resguardá-lo nesses meses, portanto, é importante. Esterilizar roupas, brinquedos e utensílios do bebê é uma boa ajuda para a formação do sistema imunológico, assim como garantir que os adultos que o pegarem no colo estejam sempre com as mãos bem lavadas ou higienizadas com álcool gel.
Nem tanto ao céu, nem tanto à terra
Passada essa fase, os pais estão liberados para relaxar um pouco. Excesso de higiene pode inclusive prejudicar a criança. “Com uma vida na cidade, uso de vacinas e antibióticos e sem contato com microrganismos, ela terá maior chance de desenvolver alergias, por um desequilíbrio no sistema imunológico, se for isolada de tudo”, diz Alexandre Okamori, alergologista e imunologista do Hospital São Camilo de São Paulo. Fátima complementa: “A limpeza excessiva pode deixar o organismo preguiçoso”.
Para auxiliar o desenvolvimento da imunidade de seu filho, o melhor é respirar fundo e deixar que ele se suje um pouco. “É desejável que ele tenha contato com animais, terra, grama, areia da praia. Tudo isso, claro, lembrando que é preciso lavar as mãos depois da brincadeira ou de ir ao banheiro e antes das refeições, escovar os dentes. Mas ele pode sentar e rolar no chão de vez em quando”, sugere Fátima.
A velha história de que a criança deve levar à boca objetos que caíram no chão “para criar anticorpos”, defendida por alguns pais, é um exagero que foge do bom senso a ser empregado nessas situações. “Não precisa colocá-la em uma bolha, mas o chão é repleto de bactérias e sujeiras que trazemos da rua nas solas dos sapatos. O correto é não deixar colocar na boca nada que tenha caído no chão”, orienta Isabella.
A importância das vacinas e do estilo de vida
Seguir a agenda de vacinação orientada pelo pediatra é essencial para que a criança desenvolva imunidade específica contra doenças agressivas que podem deixar sequelas ou até levar à morte, como a poliomielite (paralisia infantil), o sarampo e a influenza (gripe). “Vacinar as crianças e mesmo os adultos, para que eles não transmitam doenças para os pequenos, é uma questão de responsabilidade coletiva. Não vacinar simboliza prejuízo para toda a população”, alerta Isabella.
O que vai ao prato de seu filho também pode melhorar sua imunidade. “Os pais o ajudam ao proporcionar uma dieta equilibrada, com frutas, verduras e legumes, e ao conter o consumo de produtos como refrigerantes e salgadinhos”, recomenda Alexandre. Ele também ressalta a importância da exposição ao sol “para estimular o sistema imunológico a ativar a vitamina D, evitando o raquitismo” e das atividades físicas, “que estimulam o sistema de defesa e, de quebra, ajudam na sociabilidade infantil”.
Quando há motivo para preocupação
É normal que a criança apresente, especialmente quando frequenta creche ou escola, infecções como otite, faringite e amidalite. “Isso não quer dizer que ela esteja com imunidade baixa, podemos chamar de treinamento para a imunidade”, esclarece Fátima.
O que deve ligar o alerta dos pais é a repetição de infecções em curtos períodos de tempo, que pode significar uma imunodeficiência primária. Nesses casos, vale uma conversa com o pediatra que acompanha a criança para que o profissional o examine e aplique o tratamento mais adequado às particularidades de seu crescimento.
Delas
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