Foto: Adriana Franciosi / Agencia RBS Estudo alimenta o contínuo debate entre psicólogos e outros profissionais de saúde sobre os efeitos dos jogos |
Jogar videogame, incluindo jogos violentos, pode incentivar o aprendizado, as habilidades sociais e até fazer bem para a saúde. É o que concluiu uma revisão de diversas pesquisas sobre os efeitos positivos dos games e que será publicada pela Associação Americana de Psicologia.
O estudo alimenta o contínuo debate entre psicólogos e outros profissionais de saúde sobre os efeitos da mídia violenta na juventude. Uma força-tarefa de pesquisadores está realizando uma ampla revisão de pesquisas sobre os efeitos dos jogos considerados violentos e divulgará seus resultados em 2014.
— Importantes pesquisas já foram realizadas ao longo de décadas sobre os efeitos negativos dos jogos, incluindo questões como o vício, a depressão e a agressividade e nós, certamente, não estamos sugerindo que esses pontos devem ser ignorados. No entanto, para entender o impacto dos videogames no desenvolvimento de crianças e adolescentes é necessária uma perspectiva mais equilibrada — afirma a principal autora do artigo de revisão, PhD da Radboud University Nijmegen, na Holanda, Isabela Granic.
A visão de que jogar videogame pode ser perigoso é amplamente difundida, mas essa prática também pode fortalecer uma série de habilidades cognitivas como a navegação espacial, o raciocínio, a memória e a percepção, de acordo com diversos estudos revisados no artigo.
Segundo os autores, isso é particularmente verdadeiro para os jogos de tiro, também conhecidos como shooters, que muitas vezes são violentos. A meta-análise concluiu que esse tipo de jogo melhora a capacidade de pensar em objetos em três dimensões tanto quanto cursos acadêmicos que desenvolvem essa mesma competência. Esse efeito não foi encontrado em outros tipos de jogos como quebra-cabeças e RPG.
— Isso tem implicações importantes para a educação e o desenvolvimento de carreira, pois pesquisas anteriores mostraram que habilidades espaciais são importantes para estudar ciência, tecnologia, engenharia e matemática — disse Granic.
Jogar videogame também pode ajudar crianças a desenvolver habilidades de resolução de problemas, disseram os autores. Quanto mais os adolescentes relataram jogar games estratégicos como RPG, mais melhoraram a sua capacidade de resolver problemas, de acordo com um estudo de longo prazo publicado em 2013. Outra pesquisa também revelou que a criatividade das crianças foi reforçada por jogar qualquer tipo de jogo, incluindo os violentos, exceto quando elas utilizavam o computador ou o celular para praticar.
Jogos mais simples, de fácil acesso e que podem ser jogados de forma rápida como Angry Birds também podem melhorar o humor dos jogadores, relaxar e afastar a ansiedade, de acordo com um estudo.
— Se simplesmente jogar já faz as pessoas mais felizes, esse parece ser um benefício emocional fundamental a ser considerado — disse Granic .
Os autores também destacaram a possibilidade de aprender a resistir melhor diante do fracasso. Ao aprender a lidar com falhas nos jogos, os autores sugerem que as crianças constroem a resiliência emocional que pode contribuir em suas vidas cotidianas.
Outro estereótipo que a revisão desafia é do jogador socialmente isolado. Mais de 70% dos jogadores praticam com um amigo e milhões de pessoas em todo o mundo participam de enormes grupos virtuais através de jogos como "Farmville" e "World of Warcraft", observou o artigo. Os jogos com diversos participantes criam comunidades sociais virtuais, onde é necessário decidir rapidamente em quem confiar ou rejeitar a liderança do grupo, segundo os autores. De acordo com um estudo de 2011, pessoas que jogam games que incentivam a cooperação, mesmo que violentos, são mais propensas a serem úteis para os outros durante os jogos que aqueles que preferem jogos competitivos.
Auxílio em tratamentos médicos
O artigo enfatiza que os educadores estão repensando as experiências de sala de aula, integrando games que podem mudar a forma como a próxima geração de professores e alunos se aproximam da aprendizagem. Da mesma forma, médicos começaram a usar jogos para motivar os pacientes a melhorar a saúde, segundo os autores.
No game "Re- Mission", pacientes de câncer infantil podem controlar um pequeno robô que dispara as células cancerosas, supera infecções bacterianas e gerencia náuseas e outras barreiras para a adesão aos tratamentos. Um estudo internacional de 2008, realizado em 34 centros médicos, mostrou que as crianças que praticam esse jogo aderem mais ao tratamento e têm mais conhecimento sobre a doença que aquelas que não jogam.
— É este mesmo tipo de transformação que sugerimos ter potencial para mudar o campo da saúde mental, especialmente por envolver crianças e jovens em uma das tarefas mais desafiadoras que os médicos enfrentam — afirmou Granic .
Os autores recomendam que as equipes de psicólogos, médicos e desenvolvedores de jogos trabalhem juntos para pensar abordagens de cuidados da saúde mental que integrem o videogame e a terapia tradicional.
Zero Hora
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