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terça-feira, 4 de março de 2014

Médico cria projeto 'Orelhas do Samba' para operar crianças com orelha de abano

Maria Fernanda Ziegler / iG
Felicidade: Davi, Luany e Bruno serão os próximos a participar
do projeto Orelhas do Samba
Objetivo do cirurgião plástico é atender crianças da escola de samba Vila Maria, na zona norte de São Paulo
 
A mãe de Pedro Otávio estava preocupada. O menino de oito anos estava muito agressivo. Ela chegou até a conseguir um laudo do psicólogo da igreja informando que o motivo de tanta agressividade tinha relação com as piadinhas feitas por amigos do colégio por causa das orelhas de abano.
 
Mas foi só um parente, que frequenta a Escola de Samba Unidos de Vila Maria, na zona Norte de São Paulo, contar que um médico estava fazendo operações de graça que Lucileia Santos, mãe de Pedro,, foi imediatamente tentar resolver o problema do filho. Após fazer exames e marcar a cirurgia, foram necessárias três horas na sala de operação para que Pedro Otávio pudesse ver o fim de tantas piadas e xingamentos.
 
“Ele sofria muito. Assim que soubemos desta oportunidade fomos logo falar com o pessoal da escola de samba. Agora ele está muito mais feliz e confiante”, disse Lucileia.
 
O menino foi o primeiro a participar do projeto “Orelhas do Samba”, criado pelo cirurgião plástico Mauro Speranzini. O médico tem como meta fazer uma operação de orelha de abano por mês, inteiramente grátis. “Todo o meu estudo foi gratuito. Eu quero ajudar com algo que eu sei que faço bem e que vai dar qualidade de vida a estas crianças”, disse.
 
Agora Luany Cravito, de oito anos, Davi Duarte, 12, e Bruno Silva, 11, aguardam a finalização dos exames pré-operatórios e agendar a cirurgia. Assim, finalmente, as piadinhas desagradáveis relacionadas com orelhas de abano das crianças vão ser coisa do passado.
 
A menina comprida, sorridente e de voz tranquila chegou a se recusar a ir à escola por causa das brincadeiras que tinha que aturar durante o transporte escolar. “Ficavam me xingando, me chamando de orelhuda”, diz Luany baixinho, mostrando timidez.
 
O mesmo problema acontece com Davi. O menino fã de funk ostentação gosta de usar cordão dourado, mas foge dos brincos muito comuns nas orelhas de seus ídolos. A recusa evita que os comentários aumentem.
 
Ele mora no Sacomã e soube do projeto quando a família foi visitar avó que mora perto da Escola de samba. “Quando me falaram da operação perguntaram se eu queria levar o Davi para o psicólogo para então falarmos da cirurgia. Não tive dúvidas. Perguntei para ele se ele queria deixar de ser orelhudo. Davi concordou na hora. Nem precisou de psicólogo”, disse, Lenita Duarte, mãe de Davi.
 
Já para Bruno, o maior problema era aguentar as brincadeiras dos amigos do futebol. Ele joga no campo ao lado da escola de samba e prefere nem repetir as piadinhas que ouve todos os dias.
 
“Ele vivia me perguntando se eu sabia o motivo de ele ter orelhas de abano”, conta, Jussara Silva, 30 anos, mãe de Bruno. De acordo com Speranzini, o formato é uma característica física que se dá por condição genética. As orelhas de abano ocorrem em 5 % das pessoas.
 
Speranzini conta que, por serem consideradas estéticas, as cirurgias de orelha de abano raramente são feitas pelo SUS ou pelos convênios. Elas custam entre R$ 7 mil e R$ 10 mil dependendo de cada caso. “Normalmente as pessoas acabam fazendo esta cirurgia no fim da adolescência ou na fase adulta, quando têm independência financeira. Mas é a partir dos seis anos, a melhor época para operá-las, por isso o projeto é voltado para crianças. Pode parecer besteira, mas estas crianças sofrem mesmo. Têm alteração de comportamento e sofrem bullying bem na época onde elas estão formando a personalidade”, disse o médico.
 
Speranzini vai usar o tempo livre para fazer as operações na própria clínica que leva o seu nome. “Conto com a ajuda da Vila Maria para escolher as crianças, o Rotary dá os exames pré-operatórios, como hemograma completo e ecocardiograma. Falei com alguns fornecedores de material cirúrgico, como doar gaze, seringa, agulha e fio de sutura, e outro dia chegou uma caixa na minha clínica. Eu dou o meu tempo”, disse.

iG

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