A vacinação é importante para evitar a transmissão que pode se transformar em epidemia |
Você subestima o poder das vacinas? Acha que ninguém precisa disso e
tudo faz parte de uma grande conspiração do governo contra a população
mundial? Bom, você está enganado!
Dizem que contra fatos, não há argumentos. Então, aqui vai um fato
surpreendente que pode ajudar você a mudar de ideia: quase quatro
milhões de crianças com menos de cinco anos morrem de doenças que
poderiam ter sido evitadas com uma simples vacina.
A boa notícia é que dois estudantes da Universidade de Michigan (UM), nos Estados Unidos, estão trabalhando para mudar isso.
Ao levar em conta as variações sazonais nas taxas de natalidade, as
campanhas de vacinação em massa de países em desenvolvimento poderiam
vacinar mais crianças e reduzir significativamente o número de mortes
por doenças como o sarampo. É o que dizem Micaela Martinez-Bakker e
Kevin Bakker, do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva da UM.
Segundo Martinez-Bakker, cujo trabalho é financiado pela Fundação
Nacional de Ciência dos Estados Unidos, se você tem um monte de
gravetos, pode fazer uma fogueira maior, e esse é essencialmente o papel
que crianças vulneráveis têm durante surtos de sarampo. Ou seja: se os
recém-nascidos invadirem a população antes de um surto dessa doença,
eles podem acabar adicionando mais combustível à equação e tornar a
epidemia muito maior do que poderia ser.
“Há momentos previsíveis do ano quando nós sabemos que vai haver mais
crianças nascendo, e esperamos que no futuro esta informação seja usada
para ajudar a controlar epidemias”, disse ela.
A pesquisa
O trabalho realizado pela equipe estuda justamente como a
sazonalidade do nascimento – a variação no tempo e frequência de partos
ao longo do ano – podem moldar surtos de doenças infecciosas na
infância.
Essa hipótese tem fundamento em um conhecimento que os ecologistas
têm já há muito tempo. Os cientistas que estudam a proliferação de
doenças entre os animais selvagens sabem há anos que os momentos em que
ocorrem picos de nascimentos em uma determinada espécie ajudam, e muito,
a potencializar epidemias de várias enfermidades. Os pesquisados da UM
queriam saber se o mesmo era válido para os seres humanos.
Para desenvolver o estudo e chegarem às respostas que queriam, o
casal de pesquisadores digitalizou 78 anos de registros de nascimentos
mensais de cada estado dos Estados Unidos, e obtiveram mais de 200
conjuntos de dados de países de todo o Hemisfério Norte. Então, eles
cruzaram essas informações com um modelo de transmissão de doença do
sarampo para examinar as implicações da sazonalidade do nascimento sobre
as infecções na infância. Assim, descobriram que o momento e a
magnitude dos picos de nascimento sazonais podem alterar
significativamente o tamanho e a gravidade de uma epidemia de sarampo.
O sarampo é uma doença da infância que muitas vezes se espalha nas
escolas, onde as crianças têm muito contato umas com as outras. Mas o
que os cientistas mostram é que mesmo anos antes de iniciarem a vida
escolar, as crianças não vacinadas desempenham um papel importante na
transmissão da doença e podem de fato agravar uma epidemia.
A intenção deles, agora, é que essa conclusão sirva para que
funcionários da saúde pública e governos de uma maneira geral otimizem
suas campanhas de vacinação em massa para que elas sejam mais intensas
nos períodos que ocorrem mais nascimentos. Os esforços também poderiam
ser direcionados para a vacinação de bebês recém-nascidos, para que
quando eles tenham mais contato com a sociedade estejam devidamente
protegidos contra algumas doenças infecto-contagiosas.
Mas essa sazonalidade existe mesmo?
Os demógrafos sabem desde o início dos anos 1800 que o número de
nascimentos humanos varia de época para época. Nos Estados Unidos, por
exemplo, os primeiros estudos de estatísticas estabeleceram um padrão
sazonal de nível nacional de nascimentos que previa baixas na primavera e
picos no outono. Ao longo das décadas, vários fatores têm sido usados
para explicar essas variações, como padrões de renda, cultura, raça,
feriados, chuva, invernos mais frios e até mesmo a qualidade
sazonalmente variável do esperma, mas nenhum fator foi cientificamente
identificado para justificar tais oscilações. [medicalxpress, Science20]
Hypescience
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