Rio - O fumante pode prejudicar não só a própria saúde, como também
ao meio ambiente. Jogar a guimba no chão é um mau hábito disseminado.
Dos 5,6 trilhões de cigarros fumados anualmente no mundo, mais de 4
trilhões foram descartados em lugar inapropriado, poluindo o solo e a
água, segundo levantamento do Projeto Cigarette Butt Pollution. Os dados
estão servindo como base para novos estudos da Universidade de San
Diego e foram apresentados ontem no Rio.
Professor de Saúde Global
da universidade, Thomas Novotny ressaltou que os filtros de cigarro
costumam ser arremessados no mar e, assim, prejudicam a cadeia
alimentar. Seus componentes químicos, que incluem uma série de metais
pesados, são ingeridos por peixes e aves marinhas — e estes, depois, são
consumidos pelo homem. A ameaça é agravada pelo tempo que essas
substâncias passam expostas no oceano. A decomposição do filtro das
guimbas pode demorar até cinco ano,
Nos últimos 27 anos, o Programa Internacional de Limpeza das Zonas
Costeiras recolheu mais de 52 milhões de filtros de cigarro, uma
quantidade quase oito vezes maior que a de latas de bebida encontradas.
As guimbas representaram 32% de todos os detritos coletados pela
iniciativa.
— É impressionante como este tema foi tão
negligenciado até agora — criticou Novotny. — Provavelmente não vemos
discussões porque as pessoas veem as guimbas apenas como pequenos
pedaços de lixo, que não causariam qualquer perigo.
Multa a ‘desinformados’ no Rio
Para
Novotny, que estuda os efeitos nocivos das guimbas há cinco anos, os
fumantes seguem “um ritual lamentável”. Embora as pessoas busquem
lixeiras para se livrarem de garrafas de plástico e papel, o mesmo não é
feito com o filtro do cigarro. Por isso, ele defende medidas
regulatórias, como a proibição de fumar ao ar livre, reciclagem e
instituição de multas.
Em uma entrevista ao GLOBO na véspera de
seu encontro com pesquisadores da Fundação do Câncer, o epidemiologista
avaliou que, embora o Brasil promova grandes campanhas antitabagistas,
ainda não discute suficientemente o destino das guimbas de cigarro.
Há,
no entanto, iniciativas que merecem elogios. No Rio, a orla de
Copacabana e do Leme conta com instalações de coleta seletiva com
capacidade para até 15 mil guimbas. Além disso, pequenos cinzeiros podem
ser comprados nos quiosques.
Outro destaque é o Programa Lixo
Zero, criado pela prefeitura em agosto do ano passado para combater a
poluição de áreas públicas. A iniciativa, presente em 95 bairros, já
aplicou 70.495 multas relacionadas ao descarte irregular de guimbas.
Isso equivale a 17% das infrações já instituídas pelos agentes
municipais.
O valor da multa é de R$ 170. Até agora, apenas 42,1%
foram pagas. Segundo a Comlurb, responsável pelo programa, os infratores
alegam, entre outros motivos, que estavam desatentos, que o vento levou
a guimba e que acreditavam que jogar um resíduo pequeno no chão não
suja a rua.
Indústria faz ações ‘ineficientes’
De
acordo com Novotny, a indústria do tabaco adota apenas medidas
paliativas para evitar as críticas sobre o destino das guimbas.
—
No passado, as empresas tentaram criar o filtro biodegradável, mas ele
foi rejeitado pelos consumidores — lembra. — De qualquer forma, ainda
haveria componentes químicos. Outras respostas testadas pela indústria
são patrocinar campanhas ambientais nas praias e nas ruas e incentivar
os porta-guimbas. São ideias ineficientes, porque não matam o problema
em sua fonte.
A solução, para o especialista, é simples: atacar o bolso das empresas.
—
Uma resposta para o nosso problema é que as pessoas parem de fumar, o
que não vai acontecer tão cedo. Ainda assim, podemos afetar o lucro da
indústria. Já existem ações judiciais obrigando as empresas a pagar por
danos à saúde causados pelo cigarro. A restrição a espaços em que o fumo
é permitido também pode inibir o consumo.
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