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sábado, 2 de agosto de 2014

Pesquisas mostram novos resultados sobre papel de bactérias

 Fernando Gomes/Agencia RBS
O efeito prejudicial dos antibióticos sobre a diversidade microbiana começa
cedo, afirma especialista
Composição dos microrganismos determina a forma com que o corpo funciona e seu mau funcionamento 

Podemos nos ver como apenas humanos, mas somos na verdade uma massa de microrganismos abrigados numa casca humana. Cada pessoa viva hospeda cerca de 100 trilhões de células bacterianas. Elas superam as células humanas em 10 para um, e representam 99,9% dos genes únicos no corpo. Katrina Ray, editora-sênior da Nature Reviews, sugeriu recentemente que o imenso número de micróbios nos intestinos poderia ser considerado "um órgão microbiano humano", e questionou: "Somos mais micróbios do que humanos?".

Nossa coleção de microbiota (conhecida como microbioma), é o equivalente humano a um ecossistema ambiental. Embora as bactérias juntas pesem apenas 1,4 quilo, sua composição determina a forma com que o corpo funciona ou, infelizmente, o seu mau funcionamento.

Como ecossistemas no mundo todo, o microbioma humano está perdendo sua diversidade em potencial detrimento da saúde daqueles que o habitam.

Martin Blaser, especialista em doenças infecciosas da Escola de Medicina da Universidade de Nova York e diretor do Human Microbiome Program, vem estudando o papel das bactérias em doenças há mais de três décadas. Sua pesquisa vai muito além de doenças infecciosas, abordando condições autoimunes, entre outros problemas que não param de crescer no mundo todo.

Em seu novo livro, Missing Microbes, Blaser liga o declínio na variedade dentro do microbioma a uma maior suscetibilidade do ser humano a diversos problemas, de alergias e doença celíaca a diabetes tipo 1 e obesidade. Ele e outros culpam principalmente os antibióticos por essa ligação.

O efeito prejudicial dos antibióticos sobre a diversidade microbiana começa cedo, afirmou Blaser. A criança americana média recebe quase três doses de antibióticos nos primeiros dois anos de vida, e mais oito nos oito anos seguintes. Mesmo uma aplicação curta de antibióticos, como o popular pacote Z (azitromicina, tomada por cinco dias), pode resultar em mudanças de longo prazo no ambiente microbiano do corpo.

Cesarianos desequilibram organismo
Antibióticos não são a única forma pela qual nosso equilíbrio interno pode ser afetado. Os partos por cesariana, que aumentaram muito nas últimas décadas, estimulam o crescimento de micróbios vindos da pele da mãe nos intestinos do bebê. 

Essa mudança pode remodelar o metabolismo e o sistema imunológico de um bebê. Uma recente revisão de 15 estudos envolvendo 163.796 nascimentos descobriu que, frente a bebês nascidos de parto normal, os nascidos por cesariana tinham uma probabilidade 26% maior de ter sobrepeso, e 22% maior de se tornar um adulto obeso.

Ainda mais sério é o número crescente de doenças graves ligadas a uma distorção no equilíbrio microbiano no intestino humano. Elas incluem males que estão se tornando mais comuns nos países desenvolvidos: problemas gastrointestinais como a doença de Crohn, colite ulcerativa e doenças como a celíaca, cardiovascular, do fígado e digestivas, esclerose múltipla e artrite reumatoide, asma e alergias. Alguns pesquisadores chegaram a especular que problemas na microbiota intestinal têm relação até com o desenvolvimento da doença celíaca.

Blaser alerta contra o uso exagerado de antibióticos, especialmente os medicamentos de amplo espectro hoje prescritos de forma comum, e particularmente em crianças. Segundo Blaser, é necessário administrar antibióticos de espectro estreito, desenvolvidos para derrubar a bactéria patogênica sem afetar aquelas que ajudam a saúde:

— Isso tornará possível tratar infecções graves com menos efeitos colaterais — afirma.

Zero Hora

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