Fernando Gomes/Agencia RBS
O efeito prejudicial dos antibióticos sobre a diversidade
microbiana começa
cedo, afirma especialista
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Podemos nos ver como apenas humanos, mas somos na verdade uma massa
de microrganismos abrigados numa casca humana. Cada pessoa viva hospeda
cerca de 100 trilhões de células bacterianas. Elas superam as células
humanas em 10 para um, e representam 99,9% dos genes únicos no corpo.
Katrina Ray, editora-sênior da Nature Reviews, sugeriu recentemente que o
imenso número de micróbios nos intestinos poderia ser considerado "um
órgão microbiano humano", e questionou: "Somos mais micróbios do que
humanos?".
Nossa coleção de microbiota (conhecida como microbioma), é o
equivalente humano a um ecossistema ambiental. Embora as bactérias
juntas pesem apenas 1,4 quilo, sua composição determina a forma com que o
corpo funciona ou, infelizmente, o seu mau funcionamento.
Como ecossistemas no mundo todo, o microbioma humano está perdendo
sua diversidade em potencial detrimento da saúde daqueles que o habitam.
Martin Blaser, especialista em doenças infecciosas da Escola de
Medicina da Universidade de Nova York e diretor do Human Microbiome
Program, vem estudando o papel das bactérias em doenças há mais de três
décadas. Sua pesquisa vai muito além de doenças infecciosas, abordando
condições autoimunes, entre outros problemas que não param de crescer no
mundo todo.
Em seu novo livro, Missing Microbes, Blaser liga o declínio na
variedade dentro do microbioma a uma maior suscetibilidade do ser humano
a diversos problemas, de alergias e doença celíaca a diabetes tipo 1 e
obesidade. Ele e outros culpam principalmente os antibióticos por essa
ligação.
O efeito prejudicial dos antibióticos sobre a diversidade microbiana
começa cedo, afirmou Blaser. A criança americana média recebe quase três
doses de antibióticos nos primeiros dois anos de vida, e mais oito nos
oito anos seguintes. Mesmo uma aplicação curta de antibióticos, como o
popular pacote Z (azitromicina, tomada por cinco dias), pode resultar em
mudanças de longo prazo no ambiente microbiano do corpo.
Cesarianos desequilibram organismo
Antibióticos não são a única forma pela qual nosso equilíbrio interno
pode ser afetado. Os partos por cesariana, que aumentaram muito nas
últimas décadas, estimulam o crescimento de micróbios vindos da pele da
mãe nos intestinos do bebê.
Essa mudança pode remodelar o metabolismo e o sistema imunológico de
um bebê. Uma recente revisão de 15 estudos envolvendo 163.796
nascimentos descobriu que, frente a bebês nascidos de parto normal, os
nascidos por cesariana tinham uma probabilidade 26% maior de ter
sobrepeso, e 22% maior de se tornar um adulto obeso.
Ainda mais sério é o número crescente de doenças graves ligadas a uma
distorção no equilíbrio microbiano no intestino humano. Elas incluem
males que estão se tornando mais comuns nos países desenvolvidos:
problemas gastrointestinais como a doença de Crohn, colite ulcerativa e
doenças como a celíaca, cardiovascular, do fígado e digestivas,
esclerose múltipla e artrite reumatoide, asma e alergias. Alguns
pesquisadores chegaram a especular que problemas na microbiota
intestinal têm relação até com o desenvolvimento da doença celíaca.
Blaser alerta contra o uso exagerado de antibióticos, especialmente
os medicamentos de amplo espectro hoje prescritos de forma comum, e
particularmente em crianças. Segundo Blaser, é necessário administrar
antibióticos de espectro estreito, desenvolvidos para derrubar a
bactéria patogênica sem afetar aquelas que ajudam a saúde:
— Isso tornará possível tratar infecções graves com menos efeitos colaterais — afirma.
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