Uma equipe internacional de neurocientistas e engenheiros demonstraram a
viabilidade da comunicação direta entre cérebros humanos
A descoberta,
altamente inovadora, descreve o êxito na transmissão de informações
através da internet entre os pensamentos de dois seres humanos –
localizados a 8.000 km de distância um do outro.
Credit: Grau C, Ginhoux R, Riera A, Nguyen TL, Chauvat H, et al.
(2014) Conscious Brain-to-Brain Communication in Humans Using Non-Invasive Technologies. PLoS ONE 9(8): e105225. doi:10.1371/journal.pone.0105225 |
“Queríamos descobrir se duas pessoas poderiam se comunicar lendo e
repassando suas atividades cerebrais uma para a outra, fazendo isso
através de grandes distâncias físicas, aproveitando as vias de
comunicação existentes”, explica o coautor Alvaro Pascual-Leone, diretor
do Centro Berenson-Allen de Estimulação Cerebral Não Invasiva do Centro
Médico Beth Israel Deaconess e professor de Neurologia da Escola de
Medicina de Harvard (EUA). “Um caminho para isso é a internet, por isso a
nossa questão tornou-se: ‘Será que podemos desenvolver um experimento
que pudesse ignorar a fala ou a escrita e estabelecer comunicação direta
de cérebro para cérebro entre sujeitos localizados muito longe um do
outro, como na Índia e na França?”.
Os pesquisadores descobriram que a resposta para esta pergunta era “sim”.
Em um equivalente neurocientífico de mensagens instantâneas,
Pascual-Leone, junto com Giulio Ruffini e Carles Grau, liderando uma
equipe de pesquisadores da Starlab Barcelona, na Espanha, e Michel Berg,
liderando uma equipe da Axilum Robotics em Estrasburgo, na França,
transmitiram com êxito as palavras “hola” e “ciao” em uma transmissão de
um local na Índia para um local na França, mediada por um computador
usando um eletroencefalograma ligado a internet (EEG) e estimulação
magnética transcraniana (EMTr) assistida roboticamente e guiada por
imagem.
Estudos anteriores baseados na interação cérebro-máquina através de
eletroencefalograma têm normalmente feito uso da comunicação entre o
cérebro humano e o computador. Nesses estudos, eletrodos fixados no
couro cabeludo gravavam correntes elétricas no cérebro conforme a pessoa
realizava um pensamento-ação, como conscientemente pensar em mover o
braço ou a perna. O computador então interpretava o sinal e o convertia
para uma saída de controle, como em um robô ou uma cadeira de rodas.
A diferença neste novo estudo é que a equipe de pesquisadores
adicionou um segundo cérebro humano na outra ponta do sistema. Quatro
participantes saudáveis, com idade entre 28 a 50 anos, tomaram parte do
estudo. Um dos quatro indivíduos ficou com a interface
cérebro-computador (BCI) e era o remetente das palavras; os outros três
foram designados para o ramo de interface computador-cérebro (CBI) dos
experimentos, recebendo as mensagens e as entendendo.
Usando EEG, a equipe de pesquisa primeiro traduziu as saudações
“hola” e “ciao” em código binário e, em seguida, enviaram por e-mail os
resultados da Índia para a França. Uma interface computador-cérebro
transmitiu a mensagem aos cérebros dos receptores através de estimulação
cerebral não invasiva. Os indivíduos experimentaram os sinais como
fosfenos, flashes de luz em sua visão periférica. A luz apareceu em
sequências numéricas que permitiram que o receptor decodificasse as
informações contidas na mensagem. Enquanto os indivíduos relataram não
sentir nada, eles receberam corretamente as saudações.
Um segundo experimento semelhante foi realizado entre os indivíduos
na Espanha e na França, com o resultado final de uma taxa de erro total
de apenas 15%, 11% no final da decodificação e 5% do lado inicial da
codificação.
“Ao usar neurotecnologias de precisão avançada, incluindo EEG sem fio
e EMTr robotizada, pudemos diretamente e de forma não invasiva
transmitir um pensamento de uma pessoa para outra, sem que elas tenham
se falado ou escrito qualquer coisa”, celebra Pascual-Leone. “Isso por
si só é um passo notável na comunicação humana, mas ser capaz de fazê-lo
através de uma distância de milhares de quilômetros é uma importante
prova de que o desenvolvimento das comunicações cérebro-cérebro é
possível.
Acreditamos que essas experiências representam um primeiro
passo importante na exploração da viabilidade de complementar ou superar
a comunicação tradicional”, projeta.
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