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segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Farmácias criam remédios em forma de petiscos saborosos para agradar pets

Imagem ilustrativa
Biscoito sabor picanha para cães, pasta de salmão para gatos, xarope de laranja para passarinhos
 
Estas delícias, digo, remédios, são a nova realidade entre os produtos criados para os pets, feitos em farmácias de manipulação veterinária.
 
Com conceito de agradar aos bichanos e facilitar a vida dos donos, os tradicionais comprimidos foram transformados em guloseimas oferecidas como petiscos ou disfarçadas em géis para serem lambidos sem cerimônia.
 
Diferentemente das farmácias de manipulação tradicionais, as farmácias de manipulação veterinária oferecem remédios feitos com insumos de uso animal, misturados a sabores artificiais — churrasco é o preferido dos cães e peixe, dos felinos.
 
O objetivo é deixar bichinhos saudáveis e felizes e acabar com as dificuldades dos donos na hora de administrar medicamentos.
 
“Quando eu dou o remédio normalmente ela sai correndo, porque tenho que abrir a boca e colocar na goela. Com o remédio manipulado, ela come e fica feliz”, afirma a engenheira de software Suzane Machado, 40, dona da cadela Meg, 5, que toma remédio há um ano para tratar uma pancreatite.
 
Felicidade e preço
Todos os dias, a moradora de Curitiba (PR) oferece à fêmea de Fox Terrier um petisco de sabor peixe,  além de outro medicamento em pó, misturado ao arroz integral com frango, já que Meg não pode comer ração por causa da doença. Suzane paga R$ 127 ao mês pelas duas medicações.
 
“Acho que é um pouquinho mais caro [do que remédios industrializados], mas vale a pena pelo custo benefício. Você não faz seu bichinho sofrer”, diz.
 
A farmacêutica Sandra Schuster, sócia-fundadora da farmácia de manipulação veterinária DrogaVet, com 23 unidades espalhadas em dez Estados e no Distrito Federal, enxergou um mercado promissor neste nicho há dez anos, quando abriu a primeira unidade na capital paranaense.
 
Hoje a rede fatura R$ 15 milhões por ano e pretende abrir no ano que vem mais cinco lojas no Sudeste e no Nordeste, com ênfase nos medicamentos e em cosméticos. A empresária leva em conta os números crescentes das vendas no Brasil.
 
De acordo com dados da Abinpet (Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação), o país possui o segundo maior faturamento do mercado pet do mundo, perdendo somente para os Estados Unidos.
 
Em 2014, a estimativa de faturamento do setor no país é de R$ 16,5 bilhões, 8,6% acima do faturado em 2013. O setor de medicamentos abrange 7,2% deste valor, e é considerado um mercado em expansão.
 
Segundo a farmacêutica, o remédio manipulado tem a vantagem de ser produzido na dose adequada ao animal, sem a necessidade de ter que fracionar comprimidos.
 
“A gente leva em conta o que vai facilitar a administração, além da própria idade do bicho. Hoje temos muitos casos de longevidade entre animais, e os mais velhos têm dificuldade de mastigar. Por isso criamos um xarope. Para os gatos, cuja dificuldade de abrir a boca é enorme, criamos uma pasta para passar nas patas porque é ali que eles vão lamber”, diz.
 
 
 
Prós e contras
O farmacêutico Luciano Romagnolli, da Vida Animal, farmácia localizada em São Paulo, afirma que os medicamentos feitos no laboratório seguem o pedido do veterinário e as normas sanitárias exigidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
 
Para o farmacêutico, a grande vantagem dos remédios manipulados em relação aos industrializados é levar em conta as características físicas dos animais e suas preferências. "E também o peso do animal, já que há cães e gatos com peso muito acima do ideal, o que dificilmente a indústria leva em conta", diz Romagnolli.
 
Assim como nas receitas médicas humanas, há veterinários que abusam dos garranchos ou das dosagens. Quando isso acontece, o farmacêutico diz entrar em contato com o veterinário.
 
"A gente tem que seguir o que é pedido pelo veterinário. Seguimos normas rígidas, as mesmas da indústria, mas a maioria dos veterinários não conhece os benefícios da manipulação", afirma.
 
Para a veterinária Paula Galera, professora de cirurgia de pequenos animais da Universidade de Brasília, os remédios manipulados podem ser aceitos sem distinção pela população, já que levam o mesmo princípio ativo do remédio industrializado em sua fórmula.
 
"O que é interessante no medicamento veterinário manipulado é a sua forma de administração, que leva em conta as particularidades das espécies. É a mesma coisa que pensar nas diferenças entre os remédios pediátricos e de adultos. Esses são regulados e atrativos para os animais", diz.
 
Já para a veterinária Silvana Górniak, professora titular do Departamento de Patologia da Faculdade de Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, faltam garantias de que os remédios manipulados para animais são totalmente confiáveis. Górniak leva em conta a falta de fiscalização na compra dos insumos pelos laboratórios e a falta de conhecimento de farmacêuticos sobre a fisiologia animal.
 
"O farmacêutico que formula medicamentos para humanos tem esse conhecimento, mas não sei como ele formula para cada animal. Cada espécie responde de uma forma diferente na absorção. Será que esses aromatizantes não interferem no percurso do remédio no organismo?", questiona.
 
Fiscalização
O Ministério da Agricultura não soube precisar quantas farmácias de manipulação veterinária existem atualmente no país, mas informou, via e-mail, que as farmácias precisam de uma licença emitida pelo próprio ministério para funcionar.
 
Segundo a pasta, a fiscalização é feita eventualmente por fiscais federais, que chegam de forma periódica aos estabelecimentos, sem aviso prévio, quando é necessária a renovação da licença.
 
O registro da farmácia de manipulação veterinária é feito junto às Superintendências Federais Agropecuárias de cada Estado. 

UOL

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