A mudança de rotina provocada pelo horário de verão é grande e não é todo mundo que se adapta rápido – mesmo sendo um evento anual, há quem leve algumas semanas para se acostumar – ou mesmo gosta de adiantar os relógios em uma hora durante quatro meses. No caso de alguns brasileiros, de outubro a fevereiro.
Porém, por mais que você desgoste do dito cujo, não é fácil colocar a culpa da obesidade infantil no pôr do sol como fizeram estudiosos da Faculdade de Higiene e Medicina Tropical de Londres e da Universidade de Bristol. Foram analisados os estilos de vida de mais de 23 mil crianças com idade entre 5 e 16 anos em nove países (Inglaterra, Austrália, EUA, Noruega, Dinamarca, Estônia, Suíça, Brasil e Portugal, além de Madeira). Foram feitas associações entre o tempo de sol disponível e níveis de atividade física, medidos através de acelerômetros usados na cintura. Estes dispositivos eletrônicos medem o movimento do corpo.
O estudo descobriu que, especialmente na Europa e na Austrália, o total de níveis diários de atividade das crianças foi de 15 a 20% maior em dias de verão que tinham luz do sol até depois das 21h, em comparação com os dias de inverno nos quais o sol se põe antes das 17h. Este foi o caso nas populações europeias e australianas, e o mesmo foi observado até depois de os pesquisadores ajustarem as condições de clima e temperatura.
“Este estudo fornece a evidência mais forte até agora de que, na Europa e na Austrália, a luz do dia [no horário da noite] tem um papel no aumento da atividade física no final da tarde e início da noite – as ‘horas críticas’ para crianças brincarem ao ar livre”, afirma Anna Goodman, principal autora do estudo, da Faculdade de Higiene e Medicina Tropical de Londres. “Introduzir medidas adicionais de horário de verão afetariam toda e qualquer criança no país, todos os dias do ano, dando-lhe um alcance muito maior do que a maioria das outras potenciais iniciativas políticas para melhorar a saúde pública”.
Como resultado, os pesquisadores endossam propostas para adiantar os relógios em uma hora durante o ano todo. Um projeto de lei sobre medidas adicionais ao horário de verão foi debatido no Parlamento britânico entre 2010 e 2012, com propostas apontavam que as crianças britânicas teriam um número estimado de 200 horas extras de luz do dia por ano. Vários estados australianos também têm feito vários referendos sobre o tema.
Os cientistas estimam que as medidas propostas levariam a uma média de dois minutos extra de atividade física moderada a vigorosa por criança por dia. Sendo que as crianças gastam uma média de 33 minutos por dia com este tipo de atividade, eles dizem que um adicional de dois minutos é modesto, mas não desimportante, em relação aos níveis gerais de atividade das crianças.
Estes efeitos também pareciam ser amplamente equitativos, aplicando-se a meninas e meninos; para as crianças com sobrepeso/obesidade e com o peso dentro da média; e para aquelas de diferentes origens socioeconômicas.
Além disso, também foi estudada a mudança bi-anual dos relógios nos países como um “experimento natural”. Ao estudar a atividade de 439 crianças medidas nos dias imediatamente antes e imediatamente depois que os relógios mudaram, concluíram que a mesma criança se tornava instantaneamente mais ativa nos dias em que o pôr-do-sol acontecia uma hora depois.
Os autores concluem que a introdução de medidas adicionais de economia de energia através da luz solar na Europa e na Austrália poderia render benefícios para a saúde pública. “Embora a introdução de novas medidas de poupança de luz do dia certamente não resolve o problema da baixa atividade física, acreditamos que elas são um passo na direção certa”, conclui Ashley Cooper, professora de Atividade Física e Saúde Pública da Universidade de Bristol e coautora do artigo.
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