Thinkstock: Quanto mais velhos, menos os homens se preocupam com a andropausa, segundo pesquisa |
Perda de interesse sexual, queda no vigor físico, cansaço ao final do dia ou após atividades que antes eram executadas com facilidade e apatia são alguns dos "sintomas" que parecem comuns para os homens com mais de 50 anos. Tão comuns que eles mesmos nem sempre dão a devida importância, associando-os ao fato de que, afinal de contas, eles estão ficando mais próximos da terceira idade e isso é natural. É natural, mas fique atento.
"Enquanto as mulheres têm ondas de calor e transpiração, no homem são sintomas mais sutis, e que muitas vezes eles tendem a associar ao processo de envelhecimento. Por isso que quanto mais velho, menos ele vai dar importância, não vai investigar", diz Ricardo Meirelles, endocrinologista que trabalha com reposição de hormônios masculinos há mais de 20 anos e diretor do departamento de Endocrinologia Feminina e Andrologia da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
Estamos falando da andropausa, termo criado para fazer uma analogia com a menopausa, fase na qual os ovários da mulher, por volta dos 45 aos 55 anos, param de produzir óvulos e o corpo feminino, por sua vez, produz menos hormônios. "É um termo popular, mas inadequado. Nós chamamos de hipogonadismo. Na menopausa tem a falência abrupta, a andropausa é um processo lento e gradativo, não existe um momento certo", observa Geraldo Faria, diretor do Instituto de Urologia e Nefrologia de Rio Claro (SP) e membro da Academia Internacional de Sexologia Médica.
"No homem, os níveis de testosterona começam a cair a partir dos 30 anos, mas de forma lenta, na razão de 1% ao ano. Muitos chegam aos 80 anos de idade com níveis razoáveis e não têm queixas; já outros, em torno de 50 anos, têm. Normalmente é acima dos 50, mas não é obrigatório. Nem todo homem tem porque, diferente da mulher, não existe um momento em que os testículos param de funcionar", completa Meirelles.
Você sabe o que é andropausa?
Foi esta a premissa da pesquisa "Conhecimento dos homens brasileiros sobre Andropausa", realizada pelo Instituto Datafolha em parceria com a empresa farmacêutica Eli Lilly. Ela entrevistou 855 homens com mais de 40 anos em 133 munícipios distribuídos nas cinco regiões do Brasil, e os resultados mostraram que 52% dos consultados com idade entre 40 e 49 anos disseram ter um alto nível de preocupação com a andropausa, mas que esse número cai para 43% entre os que estão acima dos 60 anos.
A pesquisa revelou ainda que 85% dos entrevistados desconhecem a deficiência de testosterona e seu tratamento, 78% não fazem a reposição hormonal porque acham que não precisam e 88% afirmam que são as mulheres quem os influenciam a procurar ajuda médica, reforçando a tese – confirmada por vários médicos já ouvidos pelo iG – de que o homem vai menos ao médico. Com um percentual tão alto de brasileiros alheios à andropausa, pedimos que três especialistas esclarecessem as dúvidas mais comuns.
Quem pode ter?
Conforme Meirelles analisou acima, não existe uma regra, de forma que nem todos os homens são afetados pela andropausa. No entanto, alguns fatores podem acelerar este processo e prejudicar a qualidade de vida. "Podemos citar diabetes, níveis elevados de colesterol, obesidade e sedentarismo", diz Meirelles.
A endocrinologista Mariana Paro Alli cita também tumores de hipófise, consumo de drogas, principalmente maconha, que ainda pode levar à ginecomastia, que é o desenvolvimento da glândula mamária no homem, e em casos mais raros, o uso irrestrito da testosterona em anabolizantes. "Se ele faz uso mais do que o necessário, o corpo entende que não precisa produzir [o hormônio], então o cérebro não estimula o testículo. Pode ser que os testículos atrofiem, não retomem a função", explica Mariana.
Quais são os sintomas?
Os três profissionais são unânimes em identificar os sintomas mais comuns. Anote aí: cansaço excessivo, depressão, irritabilidade, humor depressivo, diminuição da libido, falta da ereção espontânea pela manhã, perda de massa muscular, aumento da gordura abdominal, alterações de memória, sonolência, nível de atenção diminui. Ondas de calor podem ocorrer, mas, de acordo com Mariana, são raros.
Como os sintomas podem estar ligados a outras situações clínicas e não à andropausa, é preciso medir a dosagem de testosterona no corpo para ter certeza. Meirelles afirma que é indicado realizar dois exames de sangue, de preferência pela manhã, por conta de fatores externos que podem influenciar o resultado, e exemplifica com um caso bem curioso.
"Houve um trabalho que fizeram durante a Copa do Mundo de 94. Eles mediram o nível de hormônios masculinos em torcedores italianos e brasileiros antes da final, e o dos italianos era mais alto. Só que o Brasil ganhou, mediram de novo e a situação se inverteu. Por isso que pedimos dois exames."
Tratamento e prevenção
"O diagnóstico de hipogonadismo é feito pela combinação da presença de queixas e dos níveis de testosterona abaixo da normalidade. Só estamos autorizados a instituir o tratamento quando essas duas premissas forem atendidas. Muitas vezes o homem tem sintomas semelhantes com os da andropausa, mas tem níveis de testosterona normal", analisa Faria.
Caso o primeiro cenário descrito pelo endocrinologista se concretize, a reposição hormonal pode ser feita de três formas: com injeções a cada três meses, aplicação de gel ou adesivos (a terceira não se encontra disponível no Brasil). E a resposta é rápida, segundo Mariana. "Se o paciente realmente tem diminuição da libido, já tem uma melhora no mesmo mês. Em relação à perda de massa muscular e ganho de gordura, demora um pouco mais", ressalta.
Alimentação saudável, atividade física e manter o peso dentro dos limites ideias são importantes para evitar a andropausa precoce, mas não deixa imune. "Diminui a prevalência do problema, mas não o impede. Se você tiver as queixas citadas, procure um médico para fazer a avaliação", alerta Meirelles.
iG
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