Criado há cerca de um ano pela organização não governamental SOS Dental, o projeto Dentista na Favela já proporcionou 150 consultas por uma equipe de cinco dentistas. Eles vão até a pessoa com dor de dente, em uma moto com equipamento portátil de atendimento emergencial. Os tratamentos são financiados por comerciantes, associações de moradores e entidades da própria comunidade, que contribuem com mensalidade de R$ 2 por pessoa, e distribuem o benefício para clientes e moradores.
O presidente do Centro Comunitário Vila Cascatinha, Marcos Vinícius Souza da Silva, é um dos parceiros, e diz que os atendimentos são feitos duas vezes por semana, no próprio centro. “Eles dão uma carteirinha, e temos uma cota de 100 moradores por mês. Cada morador tem direito a um atendimento por mês. Essa parceria está sendo maravilhosa, porque aqui nunca teve nada assim para os moradores”, declarou.
O estudante Israel Luiz Santos, 11 anos, tratou sua primeira cárie no centro. Ele garantiu que escova os dentes três vezes por dia e passa fio dental, mas admitiu que é amante de doces. “Bala, paçoca, várias coisas”, conta, encabulado. “Já fui três vezes ao dentista. Não tenho medo”, disse o menino. Mas essa não era a única cárie de Israel, lamentou a dentista Patrícia Mello. Ele terá que voltar para tratar mais algumas. Patrícia, que é voluntária há dois anos, falou com orgulho do trabalho que tem desempenhado na Vila Cruzeiro, sobretudo com as crianças.
“De dez crianças que atendemos, oito têm cáries. São pessoas, na maioria, em situação de risco social, que não têm, às vezes, nem condições de ir a um posto de saúde ou a um hospital público, pois vêm de famílias desestruturadas”, explicou. “ Então, tentamos fazer um tratamento adequado dentro dos procedimentos de urgência. Sou apaixonada pelo que faço”, declarou.
Uma das fundadoras da SOS Dental, a empresária Alessandra Martins, explicou que a ideia do projeto veio da constatação de que somente um percentual pequeno da população pode pagar por consultas de emergência, quando o assunto é dente, já que não existe emergência gratuita de saúde bucal. Ela e o marido, que é dentista, têm uma empresa de urgência odontológica domiciliar, que atende a planos de saúde. “Resolvemos fazer isso para quem não pode pagar, porque, imagina quem mora no topo do morro de uma favela, que sente uma dor de dente no fim de semana ou tarde da noite”, comentou. Ela disse que o projeto já ganhou prêmios por empreendedorismo e inovação.
O equipamento necessário para os procedimentos de emergência foi criado e idealizado por eles.
Cabe no baú da moto, e é o único equipamento portátil com certificado da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, garante Alessandra. Atualmente, a SOS Dental está em contato com lideranças da Rocinha, zona sul do Rio, e a meta é que o projeto seja implementado em todo o país nos próximos dez anos, diz Alessandra, que sonha com um serviço odontológico de emergência universal. “Hoje, você liga para o Samu [Serviço de Atendimento Móvel de Urgência] e vem uma ambulância te resgatar. Queremos criar o Sadu, para que todos tenham atendimento de urgência odontológica,” declarou.
Agência Brasil
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