Compressão da medula cervical |
Por Dr. Rodrigo Junqueira Nicolau
A medula espinhal é uma das estruturas nobres do corpo humano. Ela conecta o cérebro às estruturas periféricas, incluindo braços e pernas. A medula espinhal é um caminho de duas vias - trás informações relevantes ao cérebro, entre elas sensações de dor, temperatura e posição do corpo no espaço (propriocepção), bem como leva estímulos para gerar movimento aos grupos musculares dos quatro membros.
A medula está localizada dentro da coluna vertebral, ocupando o chamado canal medular ou canal vertebral. Esta região é bastante protegida por estruturas ósseas, ligamentos e músculos, pois é de vital importância manter os neurônios que compõem a medula íntegros durante toda a vida. Mas essa não é uma tarefa fácil e muitas vezes algumas destas estruturas protetoras se tornam vilões. Isso pode causar uma compressão da medula e criar um quadro conhecido como estenose do canal medular.
A estenose medular é definida pela diminuição do espaço do canal onde fica a medula espinhal, causado por aumento ou migração das estruturas que a circundam. Este processo resulta na compressão da medula propriamente dita e dos vasos que fornecem o suprimento sanguíneo necessário para manter suas células saudáveis. A limitação dos nutrientes e oxigênio resulta em sofrimento e morte celular com consequente necrose dos tecidos.
A apresentação clínica desta doença varia de acordo com o seguimento da coluna acometido. Hoje vamos falar da estenose cervical, ou seja das vértebras do pescoço, já que para muitos colegas médicos, e eu me incluo neste grupo, é a região de compressão da medula que apresenta os sintomas mais graves e com maior potencial de sequelas irreversíveis.
A estenose cervical traz em sua face mais severa a mielopatia cervical, que nada mais é que o nome científico para doença da medula cervical e que, segundo a literatura médica, é a causa mais comum de doença da coluna cervical em pacientes acima de 55 anos. Os sintomas geralmente têm início traiçoeiro e podem abrir o quadro com diminuição da destreza das mãos, traduzindo-se em mudança da letra cursiva, perda de firmeza das mãos, dificuldade de abotoar camisas e usar talheres ou copos.
A partir da instalação destes sintomas, a doença é considerada de caráter progressivo, com tendência à piora da função dos membros superiores e podendo também acometer os membros inferiores. Ela compromete a propriocepção, que inclui a capacidade de localizar as partes do corpo no espaço, e então o cérebro não recebe as informações necessárias para funções como sentir as sinuosidades do solo e promover todo equilíbrio muscular necessário para que a marcha ocorra normalmente. Há também, em casos mais graves, aumento descontrolado do tônus muscular, espasticidade e aumento patológico dos reflexos - o mais conhecido é o reflexo patelar de extensão do joelho, que somados ao restante do quadro podem limitar muito as atividades diárias destes pacientes.
Tratamento
O tratamento depende da sintomatologia. Em casos no qual o diagnóstico é um achado de exame, ou seja, o paciente não apresenta nenhum dos sintomas descritos acima, o médico está autorizado a observar este paciente, porém observar de perto, com consultas periódicas sem grande intervalo entre elas. No entanto, devido ao caráter progressivo e degradação do status funcional a tendência entre os cirurgiões da coluna vertebral é optar pelo tratamento cirúrgico o mais cedo possível após a abertura sintomática do quadro. As sequelas permanentes são diretamente proporcionais ao tempo de evolução e gravidade dos sintomas. No entanto, é muito importante diferenciar outras doenças que podem apresentar sintomas semelhantes ao da estenose cervical, como síndrome do túnel do carpo, neuropatia diabética e esclerose múltipla.
O tratamento é multidisciplinar. Além da descompressão cirúrgica da coluna cervical quando necessário, a cirurgia deverá ser associada ao tratamento com profissionais de áreas como fisiatria, neurologia, fisioterapia e terapia ocupacional. Portanto, em caso de qualquer sintoma de alarme não hesite e procure seu médico o mais breve possível.
**Escrito em parceria com o Dr. Pedro Pohl, ortopedista cirurgião da coluna vertebral pela Faculdade de Medicina do ABC com estágio avançado em pesquisa na Universidade de Pittsburgh (EUA). Faz parte do corpo clínico da COLUNAR (Clínica da Coluna Vertebral) .
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