Um estudo publicado na revista Arquivos Brasileiros de Cardiologia, da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), mostra que 50 mil pessoas morrem todo ano no Brasil por complicações cardíacas. A estimativa é que 100 mil novos casos são diagnosticados a cada ano no país. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 23 milhões de pessoas sofrem com a doença em todo o mundo. O 1º Registro Brasileiro de Insuficiência Cardíaca (Breathe, do inglês Brazilian Registry of Acute Heart Failure) traça um panorama inédito da síndrome nas diversas regiões do país.
O estudo aponta as doenças do coração como um problema de saúde pública importante e faz duas constatações: a elevada taxa de mortalidade intra-hospitalar por insuficiência cardíaca e uma grande taxa de reinternações, disse à Agência Brasil o professor de cardiologia da Faculdade de Medicina da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FMC-Uerj), Denilson Albuquerque, coordenador do Breathe.
“A insuficiência cardíaca é a via final de uma cardiopatia, qualquer que ela seja: um infarto mal tratado, uma hipertensão que não foi tratada, um problema na válvula do coração que não teve o tratamento adequado. Tudo isso resulta em uma falência do coração e, em consequência, em uma insuficiência cardíaca”.
O Breathe, de acordo com o professor, indica a necessidade de se fazer um alerta à população para o problema. A insuficiência cardíaca, segundo o estudo, acomete mais pessoas idosas e tem alta taxa de mortalidade. Em um ano, 40% dos cerca de 1.270 pacientes pesquisados, internados em 51 hospitais públicos e privados em 21 cidades brasileiras, morreram. “É uma alta taxa de mortalidade e necessita um tratamento eficaz e rigoroso para que se consiga melhorar as condições físicas dos pacientes”, disse Albuquerque.
O levantamento mostra que a média de idade dos pacientes é em torno de 64 anos. Entretanto, segundo o médico, isso não significa que não haja pessoas de 30 anos ou menos com problemas cardíacos. Para o especialista, a prevenção pode ser uma arma importante a fim de combater as doenças cardiovasculares. “Uma vez instalada, você tem que tratá-la adequadamente, para que ela não resulte em uma insuficiência cardíaca”. A prevenção engloba parar de fumar, fazer atividade física, tratar a hipertensão, destacou.
O problema, analisou Albuquerque, é que a síndrome acomete mais a terceira idade. “E se você pensar que o Brasil já é a quinta população de idosos do mundo, a gente está vivendo uma verdadeira pandemia de insuficiência cardíaca. Essa é a nossa preocupação. Não tem cardiologista para tratar todo mundo, precisa treinar os clínicos gerais para que reconheçam a doença também e fazer um alerta para os pacientes entenderem o que é a síndrome para o seu próprio cuidado. Porque eu, sabendo melhor, vou me precaver mais”.
Do total de pacientes analisados com a doença, 73,1% estavam acima de 75 anos e 60% eram mulheres. O estudo mostrou ainda que 32% dos pacientes reinternam porque não tomam a medicação adequadamente. “Ou seja, não tomando conhecimento da gravidade da situação, a pessoa acaba negligenciando a doença”.
O Estudo Breathe aponta que a insuficiência cardíaca, no Brasil, apresenta características específicas em algumas regiões. No Nordeste, ela prevalece em pessoas que têm pressão alta, cujo tratamento não é tão enfático como na Região Sudeste, citou o especialista. Na Região Sul, a síndrome é mais prevalente em pessoas que têm doenças nas coronárias, como infarto. “Muito sal, churrasco, gordura”.
O estudo, segundo Albuquerque, será ampliado este ano abrangendo um universo de 3 mil pacientes, para poder, por meio das informações epidemiológicas, tratar melhor os pacientes e interagir com os cardiologistas de todo o país. O trabalho será iniciado em agosto.
Os novos tratamentos, tecnologias e fármacos para a insuficiência cardíaca serão discutidos a partir de amanhã (18), no Rio de Janeiro, durante o 14º Congresso Brasileiro de Insuficiência Cardíaca, considerado o mais importante encontro da especialidade médica no Brasil.
iG
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