Rio - A penicilina benzatina, que trata a sífilis e outras infecções, continua faltando no Brasil. Este mês, o estoque no país ainda pode ter um respiro. A expectativa do Ministério da Saúde é ter 1,2 milhão de ampolas, que suprem a demanda mensal nacional, disponíveis para a venda para o mercado público e privado. A compra do medicamento é de responsabilidade dos municípios e estados, que contam com subsídio federal. O problema é que não há garantia da mesma oferta para os meses seguintes. Assim, o ministério mantém a busca por alternativas para sair do “volume morto”.
O antibiótico está em falta desde o ano passado no país. A Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro informou que, hoje, não tem estoque e que todas as licitações para a compra do insumo terminam “desertas”, sem oferta. E que, para sífilis congênita e febre reumática, os hospitais fazem compras pontuais, emergenciais, pois não há substituição terapêutica. Já a Secretaria Municipal se negou a informar a capacidade do estoque e em quais unidades o medicamento está em falta. Afirmou que a utilização dos “estoques reduzidos é para os casos prioritários.”
O ministério explicou que o problema é resultado da escassez mundial no suprimento de matéria-prima. Essa situação atingiu, principalmente, a Eurofarma, que importava insumos de Áustria e China, e cuja produção é estimada em 500 mil doses (seu mercado é basicamente doméstico).
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), além da Eurofarma, existem outras três empresas com registro para produzir a penicilina benzatina: Fundação para o Remédio Popular (Furp), Teuto Brasileiro e Novafarma. Mas dessas, apenas duas, a Eurofarma (Benzetacil) e a Teuto (Bepeden), venderam seus remédios em 2015. A Anvisa informou ainda que, em janeiro, recebeu notificação da Novafarma sobre a “descontinuação temporária” do medicamento.
A Eurofarma informou ao GLOBO que há pouco voltou a produzir “com sua capacidade máxima”. Isso porque, desde setembro, passou a importar matéria-prima de novo fornecedor estrangeiro, após homologação da Anvisa. Já a Teuto, cujo mercado é o hospitalar, nega a crise e informou que a produção “encontra-se dentro da normalidade”.
No Instituto Fernandes Figueira, centro de referência no Rio no atendimento à mulher, a medicação acabou no mês passado.
— Não temos mais — admitiu o vice-diretor Carlos Eduardo Figueiredo, que contorna a situação com remédios alternativos, seguindo o protocolo do Ministério da Saúde. — Mas para sífilis é mais complicado. Principalmente no caso das grávidas, porque elas não podem tomar a medicação alternativa. Além disso, para os demais casos, o tratamento alternativo se torna mais longo, caro, e a tolerância para adultos é pior. O remédio causa náuseas, por exemplo, e a adesão cai.
A preocupação em relação à doença está ligada, principalmente, aos casos de mortes de bebês com sífilis congênita, que quase triplicou entre os anos de 2008 e 2013. Em 2013, houve 161 óbitos de crianças com menos de um ano e foram registradas 21.382 gestantes com a doença.
O Globo
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