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sexta-feira, 30 de outubro de 2015

EUA devem mudar regras para financiamento de pesquisas médicas

Getty Images
Recentemente, os cardiologistas comemoraram os resultados prévios de um estudo que sugere que muitas vidas podem ser salvas se pessoas com pressão sanguínea alta conseguirem diminuí-la para níveis bem abaixo do que hoje é recomendado. Eles previram mudanças rápidas nas práticas de tratamento. E os pacientes correram atrás de seus médicos
 
Mas o interesse intenso nesse teste clínico grande e rigoroso mascara uma verdade surpreendente sobre as pesquisas do coração: muitos estudos nunca são publicados, e suas descobertas ficam esquecidas.
 
Essa questão está surgindo em outras partes da medicina também, mas as doenças cardíacas são uma área em que o fenômeno é especialmente bem documentado. Centenas de milhões de dólares tem ido para estudos do coração que são muito pequenos e pouco abrangentes para dar resultados significativos o suficiente para chegar a um jornal especializado. Em uma era de orçamentos cada vez mais apertados, autoridades federais da saúde reconhecem que esse dinheiro está sendo dilapidado em trabalhos que não fazem diferença para os pacientes e mesmo para os pesquisadores.
 
Agora, poucos anos depois de chegar a essa verdade chocante, a influente agência federal que custeia a maior parte das pesquisas nacionais sobre o coração está revendo suas práticas, uma mudança com implicações de longo alcance para o modo como a pesquisa médica é financiado nos EUA. O resultado será o patrocínio de menos estudos, mas mais profundos, para focar recursos em esforços que tenham impacto no mundo real e que façam diferença efetiva na saúde das pessoas.
 
"Estamos muito mais dispostos a recusar propostas de testes", afirma o doutor Michael Lauer, cardiologista que se tornou o novo diretor adjunto para pesquisas externas da agência, o Instituto Nacional de Saúde. Na verdade, conta ele, "já estamos negando".
 
A mudança profunda está agitando um campo onde alterações são normalmente muito pequenas. Alguns questionam a nova direção.
 
"Se você quer coisas que são verdadeiramente inovadoras e de vanguarda, algumas vezes tem que fazer algo de alto risco e com grande ganho", explica o doutor Steven A. Webber, cardiologista pediatra da Vanderbilt, argumentando pela necessidade de que se continue financiando pequenos estudos exploratórios, como um que ele conduziu e que não pode terminar por causa de questões técnicas inesperadas.
 
Essa nova maneira de pensar como estudar doenças cardíacas, que matam mais de 600 mil americanos todos os anos, começou com uma epifania há três anos: Lauer e seus colegar do Instituto Nacional do Coração, Pulmão e Sangue descobriram que haviam gastado mais de US$2 bilhões em cerca de 200 testes clínicos em uma década. Mas os resultados de 2 em cada 5 estudos nunca se tornaram públicos ou demoraram muito para ser publicados, segundo os cientistas.
 
"Se um projeto de pesquisa não for publicado, é como se ele nunca tivesse existido", afirma Lauer.
Assim, a partir do próximo ano, o instituto do coração exigirá que todos os resultados de pesquisas sejam relatados em um banco de dados federal mesmo que nenhum periódico os publique. Além de diminuir o número de estudos menores, está insistindo que os custos de pesquisas maiores caiam – mesmo que isso signifique sacrificar dados como, por exemplo, não colher resultados de laboratório sobre questões periféricas que os pesquisadores acham interessantes.
 
Apesar de alguns pesquisadores terem dúvidas sobre as novas práticas, muitos concordam que o dinheiro era frequentemente desperdiçado no sistema antigo. Cinco estudos pequenos custam menos do que um grande, então, a tentação, como reconhecem as autoridades federais, era de encher o currículo de testes clínicos com pequenos estudos, especialmente dada a realidade do orçamento federal. Desde 2006, os fundos do Instituto Nacional de Saúde caíram em 20 por cento em valores já ajustados à inflação.
 
"Vale a pena entender quão perverso – e essa é a palavra certa – o ambiente tem sido para os testes clínicos", diz o doutor Salim Yusuf, cardiologista da Universidade McMaster, em Ontário.
 
The New York Times / UOL

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