Pele vermelha, queimada, torrada. Basta andar pelas praias para ver que há muita gente brincando com coisa séria. Mas a saúde da pele é tão importante quanto a de todo o resto
Foto: Bruno Alencastro/Agência RBS
Luiz Fernando Fernandes achou que conseguiria se proteger sozinho: não deu
Era a segunda vez na vida que o metalúrgico Giovani Vonmuhln, 25 anos, de Colinas, no Vale do Taquari, pisava em uma praia. Talvez a euforia de aproveitar o final de semana em Remanso o fez cometer um dos descuidos mais fatais aos veranistas: ter vergonha de pedir para alguém passar protetor em suas costas.
O sentimento que toma conta dezenas de orgulhosos não leva em conta que é anatomicamente impossível (para a maioria) alcançar com os dedos toda a região. O erro de cálculo custa caro e o sol cobra os juros durante dias com ardência constante e noites mal dormidas.
– Fui passar protetor sozinho, não alcancei tudo, daí torrou. Nas costas, ficou uma marca bizarra – contou rindo o jovem de sotaque carregado.
Mesmo com um desenho abstrato em vermelho vivo no meio da paleta, adquirido no dia anterior, o metalúrgico estava no sol novamente neste domingo pela manhã. Parece que nem a ardida marca o fez mudar a estratégia:
– Hoje (domingo) passei protetor sozinho de novo. Não está ardendo, acho que não vou torrar tanto como sábado – afirmou, pouco convicto.
O descuido alimentado pela autoconfiança também fez o estudante de Educação Física Luis Fernando Fernandes, 29 anos, ganhar uma queimadura que pintava de vermelho parte de suas tatuagens no centro das costas.
– Uso protetor com fator 50 por causa do meu tipo de pele. Venho de uma descendência de pessoas claras. Acabei não alcançando a parte das costas. Espalhei bem nos ombros, mas o centro ficou desprotegido e acabei pegando um torrão – conta o estudante, hospedado em Capão da Canoa.
Mesmo na companhia de suas três primas, o jovem, que toma um torrão por ano, não aceitou ajuda para espalhar o protetor solar nas áreas inalcançáveis do corpo.
– Elas até ofereceram ajuda, mas fui meio orgulhoso e não quis. Acabei me lascando. Foi total falta de cuidado – explica Fernando.
Após o torrão, o jovem correu para a farmácia e comprou cremes hidratantes e gel refrescante para aguentar a noite. Para dormir, só de barriga pra baixo.
– Como só vim no final de semana, quis tentar pegar um bronzeado pra dizer que estive mesmo na praia. Mesmo com o torrão, voltei. Azar, quero aproveitar o dia – pontua o veranista.
A enfermeira Lilian Jacobs, 28 anos tomava sol de barriga para baixo deitada em uma cadeira enquanto exibia as consequências de um descuido: as costas rosadas contrastavam com os braços e pernas mais claros. A jovem de Novo Hamburgo foi reforçar o bronzeado sozinha no sábado e também não conseguiu proteger a região mais marcada por torrões durante o verão.
– Passei protetor, mas tem lugares nas costas que não alcançamos. Esse já é o segundo torrão do verão, por isso não está me ardendo. Sempre no inicio da temporada tomo o primeiro vermelhão, e depois vai baixando e vira bronzeado. Foi um descuido – conta Lilian que usa protetor fator 30.
Torrão pré-praia só piora a situação
Alguns querem aproveitar o sol da beira-mar já preparados. Para “quebrar o branco” antes de pisar nas areias, muitos apelam para a piscina e até para um dia de bronzeamento no pátio. A técnica de enfermagem Roselia da Rosa, 32 anos, adotou a estratégia antes do veraneio em Arroio do Sal. Bastou uma tarde na beira da piscina em Três Coroas para o sol pintar o corpo de Roselia com marcas vermelhas abstratas.
– Só passei protetor no rosto, nas minhas tatuagens e nos joelhos e achei que um dia não seria capaz de torrar tanto. Me ferrei e estou toda marcada. Meu marido até chamou minha atenção porque dele e do meu filho eu sempre cuido – conta a técnica.
Mesmo com áreas queimadas em boa parte do corpo, Roselia não quis deixar de aproveitar o final de semana quente na beira da praia e se expôs ao sol ao meio-dia:
– Usei protetor fator 50 hoje (neste domingo), mas depois passei óleo bronzeador por cima – admite, envergonhada. – O último torrão que tomei era criança. Agora, depois de adulta, estou pagando mico na praia.
O incrédulo
Geralmente a parte esquecida na hora de passar o protetor é lembrada pela ardência no outro dia. Não foi o caso de Adonis Teixeira, 56 anos, que não tinha uma parte “torrada”, mas praticamente todo o corpo. O funcionário público de Caxias do Sul é daqueles que não acreditam no “poder” do protetor solar.
– Fui caminhar com minha esposa e ela me encheu o saco para passar protetor. Sou daqueles que nunca acha que o sol vai pegar e quando chega de noite fica um camarão. Como dizem os gringos de Caxias: “daí dá os ardumes, né?!” – conta.
Mesmo queimado, Adonis manteve-se cético e não comprou hidratante porque, segundo ele, “não achava que estava doendo”. No dia seguinte, deu uma carregada no protetor:
– O cara começa a ficar velho e vai tomando mais cuidado. Não é o meu caso. Agora, vou me guardar para o próximo verão.
DICAS DE ESPECIALISTA
Popularmente conhecido como torrão, a queimadura solar pode ser de dois tipos: superficial ou profunda. De acordo com a dermatologista Ana Bárbara Scheibe, Gestora do serviço de Dermatologia do Hospital Mãe de Deus, a queimadura solar, na verdade, é uma reação inflamatória da pele em
resposta à agressão da radiação ultravioleta do sol. Pode ser mais superficial,
apresentando apenas eritema (vermelhidão) e ardência ou acometer
uma profundidade maior da pele ocasionando edema e bolhas.
O QUE FAZER DEPOIS?
- A principal indicação é ficar longe do sol.
- Refrescar a pele com banhos ou compressas de água fria, evitando usar sabonetes e esfoliantes no banho, pois ressecam a pele que
já está sensibilizada.
- Produtos refrescantes e calmantes contendo calamina, cânfora, aloe vera podem ajudar a diminuir a sensação da pele queimada.
- Ingerir muita água (em torno de dois litros por dia).
- Em casos de queimaduras mais intensas e profundas, com bolhas e dor, procure um dermatologista. Essas lesões podem necessitar de uso de medicamentos tópicos e orais para o tratamento da queimadura.
O QUE NÃO FAZER?
- Não invente de acreditar em soluções caseiras como vinagre, iogurte, mostarda ou pasta de dentes. Isso pode piorar o quadro inflamatório.
- Nunca estoure as bolhas. Elas são como um curativo natural da pele. Se a bolha romper espontaneamente, não retirar a pele que fica flácida, pois é ela que protege a pele nova que está embaixo.
- Não adianta se besuntar de hidratante após virar um camarão. A loção hidratante não previne que a pele descasque após o torrão. O produto apenas traz conforto e alívio para a sensação de ressecamento e ardência da pele.
E O ACELERADOR DE BRONZEADO?
O bronzeamento é uma defesa natural do organismo para proteger a pele contra a radiação ultravioleta que vem do sol. O bronze é um escudo natural. O acelerador de bronzeado não possui fator de proteção solar, tornando a pele suscetível a queimaduras, por isso não é recomendado. Alguns estudos demonstram que essa aceleração artificial pode causar envelhecimento precoce e câncer de pele, em alguns casos.
PARA UM BRONZEADO SAUDÁVEL
- Evitar o sol entre as 10h e 16h.
- Usar filtro solar com fator de proteção mínimo de 30, reaplicado a cada
duas a três horas ou a cada saída da água.
- Proteger o couro cabeludo com bonés ou chapéus.
- Não esquecer do uso de protetor solar labial e óculos de sol
para proteger os olhos.
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