O sistema de gestão hospitalar (ERP) da forma como conhecemos hoje vai desaparecer ... vai demorar um pouco, mas vai desaparecer.
A afirmação não é nenhuma declaração de um visionário superdotado, especialista em futurologia ou pessoa com conhecimentos cibernéticos diferenciados: é a simples observação do segmento da saúde em relação ao que acontece com todos os demais segmentos do mercado, feita sob a visão de quem necessita da informação e não de quem desenvolve.
Os setores mais evoluídos já foram como os hospitais de hoje: tinham sistemas de gestão específicos, adoravam ‘reis do sistema’ da indústria, do comércio varejista, dos bancos ... e conforme foram se profissionalizando trocaram o sistema de gestão específico, pelo sistema de gestão empresarial genérico.
Todos adotaram um ERP padrão e ‘plugaram’ os sistemas de periferia, ou seja, o que é específico do setor fica restrito à particularidade do sistema especialista.
A lógica é simples: os processos operacionais são diferentes em cada segmento de mercado, mas os processos de gestão empresarial são os mesmos em qualquer tipo de empresa.
Estamos vivendo ainda, por conta da baixa profissionalização da administração do segmento da saúde, uma época em que ao invés do sistema se adaptar ao processo mais adequado ao hospital, o hospital é que se adéqua ao processo escrito pelo fornecedor de sistema, mesmo que ruim !
Até hotéis, tradicionalmente rotulados como menos profissionalizados que hospitais utilizam ERP’s tipo SAP, Oracle, TOTVS, e plugam a periferia (PDV, Reservas, Governança) ao ERP, utilizando o máximo de inovação e recursos que um sistema escrito para gestão empresarial pode oferecer ... que loucura ! ... até hotéis fazem isso e a maioria absoluta dos hospitais não !
Raras empresas do segmento da saúde fazem isso ... e as que fazem já se beneficiam com o diferencial competitivo de trabalhar com uma ferramenta adequada para gestão empresarial – as outras ficam mendigando meia dúzia de ‘relatórios gerenciais’ que o fornecedor teima em afirmar que ‘são os melhores e são os utilizados pela maioria dos hospitais, então pra que inventar ?”.
Os hospitais vão naturalmente seguir o modelo de sistemas de gestão dos outros segmentos:
O ERP controlando rigidamente apenas os processos relacionados aos eventos financeiros – estes não têm discussão: são do ERP e não tem conversa;
O ERP mantendo a guarda centralizada dos cadastros – isso também é fundamental e discutir o óbvio não vale a pena;
Os sistemas periféricos controlando os processos especialistas, integrados fortemente aos cadastros do ERP. Exemplificando para área da saúde, estes sistemas são tanto os que controlam processos críticos como admissão, prescrição, dispensação, etc., quanto os processos de apoio como controle do SND, controle interno do laboratório. Diversos sistemas especialistas, em processos ultra-especialistas, fortemente integrados ao ERP – é importante comentar que serão diversos sistemas especialistas no seu processo e não um bloco de sistemas onde ‘em nome da integração’ os departamentos devem se sacrificar com a falta de amigabilidade de ‘uma ou outra funcionalidade’, que na prática acabam sendo todas (que digam os gestores comerciais dos hospitais – pobres coitados);
Usuários utilizando Office e ferramentas de colaboração para extrair e alimentar dados do ERP através de macros, construindo sua própria interface, com o desenho e apresentação mais adequado à sua área;
O controle efetivo da gestão se apoiando em ferramentas de Business Intelligence (BI) que exploram a base de dados corporativa do ERP, e as bases de dados dos sistemas especialistas. Como exemplo, uma consulta nesta ferramenta cruza os dados estatísticos de atendimento na Recepção, do sistema que controla a admissão, com os dados de custos, controlados pelo ERP.
É evidente que esta transformação só pode ocorrer a medida que os usuários tenham mais intimidade com ferramentas de TI, o que já é fato em outros segmentos, mas ainda não é em hospitais onde, por exemplo, tabela dinâmica é um bicho de 7 cabeças para a maioria dos ‘planilheiros’.
E mais evidente ainda a necessidade dos hospitais contarem com gestores que saibam especificar adequadamente suas necessidades ao invés de esconder a ineficiencia do seu departamento nos controles ruins dos sistemas de mercado - sair da 'área de conforto' e analisar opções.
Os vendedores dos ERP atuais evidentemente discordam da afirmação que seus sistemas servem para 'atender pacientes' e não para 'gerir adequadamente hospitais', mas os gestores hospitalares, os reais interessados, sabem que quando se necessita de um relatório fundamental da gestão a resposta sempre é dada ‘na base do gerúndio’: ‘estamos desenvolvendo’, um grupo ‘estará analisando’, vamos ‘estar disponibilizando’ na próxima versão, 'vamos estar orçando' a customização necessária ... e nada !
Além dos diversos hospitais, prestei recentemente consultorias em uma grande operadora de Telecom e em uma das maiores construtoras do Brasil – e sou testemunha de como a gestão fica simplificada quando o ERP é restrito aos processos de gestão ... e principalmente como é diferente lidar com um fornecedor de sistema especialista ‘neste tipo de coisa’.
Questões fundamentais como analisar o resultado financeiro de uma unidade de negócios, os custos reais dos insumos em determinados processos, o lucro e o prejuízo de um produto ... tudo é tratado de forma simples, sem a necessidade de up-grades ou a aquisição de módulos especiais (ou avançados) de sistema, que na verdade são desenvolvimentos específicos, custam caro, provavelmente serão modificados sem que você queira e, invariavelmente, inadequados a real necessidade da gestão.
Para ‘não dizer que não falei das flores’, se alguém perguntar: porque ele não falou de sistemas desenvolvidos internamente (ou caseiros, como alguns costumam chamar) ?
A resposta é: ‘vamos combinar’ que hospital nem sabe especificar direito o que necessita ao fornecedor de TI, quanto mais desenvolver software ... Deus nos livre !!!
postado por Enio Salu
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