Pesquisa sugere que nem sempre é preciso fazer acompanhamento do câncer de próstata
Uma das decisões mais difíceis que um homem precisa tomar sobre o câncer de próstata ocorre muito antes do diagnóstico. Ele deve ou não fazer um teste de sangue para detectar a doença?
A triagem para a detecção precoce do câncer pode parecer óbvia, mas não é uma escolha fácil para os homens quando são levados em consideração os testes regulares de PSA, que medem os níveis sanguíneos do antígeno prostático específico e são usados para detectar o câncer de próstata. Embora seja muito divulgado, estudos mostram que na verdade o exame de PSA é capaz de salvar poucas vidas.
Ao mesmo tempo em que este exame ajuda a encontrar alterações celulares na próstata, que atendem à definição técnica de câncer, muitas vezes os tumores crescem tão lentamente que, se deixados sozinhos, eles nunca irão causar danos.
Mas uma vez que o câncer é detectado, muitos pacientes, assustados com o diagnóstico, optam por tratamento cirúrgico e radioterapia, os quais podem prejudicar muito mais do que o próprio tumor, além de causar impotência e incontinência urinária.
Desta forma, os planos de saúde preferem não aconselhar os pacientes de uma maneira ou de outra sobre a realização de exames de PSA, afirmando que esta escolha deve ser discutida entre paciente e médico.
Então, como um homem decide se deve realizar o PSA ou não? Uma nova pesquisa oferece orientações simples e práticas para os homens acima de 60 anos.
Após os 60 anos
Pesquisadores do hospital Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, em Nova York, e da Universidade de Lund, na Suécia, descobriram que o resultado do exame de PSA de um homem de 60 anos pode prever seu risco de morrer de câncer de próstata. O relatório foi publicado no periódico britânico “British Medical Journal” .
Os autores do estudo afirmam também que pelo menos metade dos homens que são examinados após os 60 anos na verdade não precisariam efetuar tais exames.
Os pesquisadores acompanharam 1.167 suecos desde os 60 anos até que morressem ou atingissem os 85. Durante esse tempo, houve 43 casos de câncer de próstata avançado e 35 mortes no grupo. Descobriu-se que uma pontuação de PSA de 2,0 ou mais aos 60 anos apresentava altas chances de desenvolver câncer de próstata avançado ou morrer da doença dentro dos 25 anos seguintes.
Cerca de um em cada quatro homens de 60 anos terá uma pontuação igual ou superior a 2,0 no exame de PSA e a maioria não irá desenvolver câncer de próstata. É o que afirma o principal autor do estudo, Andrew Vickers, responsável pela metodologia de pesquisa do hospital Memorial Sloan-Kettering. “Porém, esse resultado os coloca em um grupo de maior risco de homens que têm mais a ganhar com exames regulares”, conclui ele.
26 vezes mais chances
Quanto maior for a pontuação aos 60 anos, mais alto será o risco de morrer de câncer de próstata a longo prazo, afirmam Vickers e seus colegas. Homens com uma pontuação de 2,0 ou mais aos 60 teriam 26 vezes mais chances de eventualmente morrer da doença do que aqueles com pontuações abaixo de 1,0.
Ainda assim, o risco absoluto para os homens com pontuações elevadas foram menores do que o esperado. Segundo os pesquisadores, um homem de 60 anos com pontuação de PSA um pouco maior do que 2,0 tem um risco individual de morrer de câncer de próstata durante os próximos 25 anos de aproximadamente 6%. Um homem de 60 anos com uma pontuação de 5,0 apresenta um risco cerca de 17%.
"A maioria desses homens vai ficar bem", diz Vickers. "Mas eles podem ser informados de que são de alto risco e que precisam realizar os exames".
Baixo índice de PSA
O estudo também mostra que homens de 60 anos com uma contagem de PSA de até 1,0 apresentam um risco muito baixo de óbito por câncer de próstata ao longo dos próximos 25 anos: apenas 0,2 por cento.
"Eles podem ficar tranquilos, pois mesmo que tenham câncer de próstata, é pouco provável que corram risco de morte", afirma Vickers. "É um forte motivo para que sejam dispensados do exame".
O conselho é menos claro para os homens com pontuação entre 1,0 e 2,0 na idade de 60 anos. Eles ainda têm um baixo risco de morrer de câncer de próstata, a julgar pelos novos dados. Vickers ressalta que o risco a longo prazo varia de cerca de 1% a 3% para esses pacientes, e a decisão de realizar o exame pode depender de suas visões pessoais e históricos familiares.
Paz de espírito
Embora as descobertas não respondam a todas as questões relacionadas aos exames de PSA, elas podem trazer paz de espírito para aqueles que decidem não continuar com os testes regulares. Os resultados também asseguram aos homens que decidem continuar com os exames regulares de que os benefícios em geral superam os riscos.
O Dr. Eric A. Klein, presidente do Instituto Glickman de Urologia e Nefrologia da Clínica Cleveland, disse que gostaria de ver os resultados do novo estudo, mas que outras pesquisas também têm sugerido que o risco de câncer é baixo em homens cujos níveis de PSA estejam abaixo de 1,5 nas idades entre 50 e 60 anos.
"Estamos no meio de uma mudança de paradigma nos exames e na avaliação de riscos, que já não depende de uma simples contagem de PSA para determinar em quem deve ser feita a biópsia", explica Klein.
O exame de PSA já não é recomendado para os pacientes com mais de 75 anos, pois a lenta evolução da doença significa que grande parte dos homens nessa idade está suscetível a morrer por outro motivo que não seja o câncer de próstata recém detectado. Um amplo estudo realizado no ano passado confirmou que o exame de PSA não é útil para homens com 10 anos ou menos de expectativa de vida.
Jovens cinquentões
Entretanto, a orientação continua nebulosa para os homens mais jovens. De acordo com uma vasta pesquisa europeia feita no último ano, os homens de 50 a 54 anos não se beneficiaram do exame. Ao mesmo tempo, pacientes com idades variando entre 55 e 69 que fizeram o exame de PSA anual tiveram menos probabilidades de morrer de câncer de próstata do que aqueles que não o fizeram.
Os pesquisadores responsáveis pelo último estudo também investigaram se a pontuação de PSA de um homem com 50 anos pode prever seu risco a longo prazo. Segundo um relatório de pesquisa feita com 21 mil homens em 2008 e publicado na revista “BMC Medicine”, dois terços dos casos de câncer avançado que se desenvolveram ao longo de 25 anos ocorreram em homens que tiveram uma contagem de PSA acima de 0,9 aos 50 anos de idade.
Estas conclusões podem ajudar os mais jovens a decidirem se querem rastrear a doença. Um homem cujo PSA mostra que seu risco é baixo aos 50 anos pode decidir não realizar o exame novamente até os 60 anos. Já outro com uma pontuação mais elevada pode decidir realizar exames mais frequentes.
"Não resolvemos todos os problemas com a triagem", observa Vickers. "Precisamos rastrear menos pessoas, as pessoas certas, e não temos que tratar todos os tumores que encontrarmos."
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