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sexta-feira, 10 de junho de 2011

Pré-eclampsia mata três mulheres por dia

Doença está entre as principais causas diretas de mortalidade materna

Perigo: inchaço e pressão alta podem ser sinais de pré-eclâmpsia

A pré-eclampsia está entre as principais causas de mortalidade materna do país. “São três mortes por dia, sendo que para cada morte existem outras dez mulheres que sobrevivem com sequelas”, afirma Nelson Sass, professor de obstetrícia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

No ranking paulistano, a doença também aparece. “É a principal causa direta de mortalidade”, aponta Carlos Eduardo Vega, obstetra e ginecologista da Secretaria Municipal de Saúde. Causas diretas são geradas a partir da gestação, como abortos e pré-eclampsia, enquanto causas indiretas estão relacionadas a doenças anteriores à gestação, como diabetes e hipertensão.

Para piorar a situação, não há como prever nem como tratar a pré-eclampsia. Cabe aos médicos tratar os sintomas e combater os efeitos do problema. “Adotamos medidas paliativas. Buscamos uma redução de danos”, comenta Sass.

Mas afinal, o que é essa doença? Trata-se de um processo inflamatório que surge no início na gestação e vai aumentando gradualmente com o passar das semanas. A partir da 25ª semana surgem os primeiros sinais mais ameaçadores.

A gestante pode ter inchaços pelo corpo e pressão arterial elevada, o que pode prejudicar órgãos como rins, coração é cérebro. Ao atingir o cérebro, a mulher acaba tendo convulsões (a tal da eclampsia) que comprometem o funcionamento do órgão e podem até matar. Há risco também de descolamento da retina. As sequelas podem ser graves.

“Quem teve pré-eclampsia tem mais risco de AVC (derrame cerebral) e, se tiver sofrido danos nos rins, a probabilidade de precisar de diálise é 30 vezes maior em três décadas”, alerta Sass.

Esperança

A primeira impressão da pré-eclampsia pode ser um tanto assustadora, mas há como escapar da doença. Não há tratamento para a causa, mas existem medidas que tornam a gestação viável até que o feto se torne maduro suficiente para o parto.

O trabalho começa com o controle da pressão arterial, que pode requerer a internação da mãe para um acompanhamento constante. Repouso também é fundamental.

Quando a doença atinge estágios mais avançados, os médicos podem recorrer ao sulfato de magnésio, que retarda o risco de eclampsia (convulsões). “O problema dessa substância é que ela é muito tóxica para o organismo. É preciso usá-la com muita cautela”, adverte Sass.

Novos diagnósticos

Estudos estão em andamento para se estabelecer novos métodos de diagnóstico, capazes de identificar a doença em estágios bem prematuros. Hoje, uma das formas de ter a suspeita de pré-eclampsia confirmada é com um teste de proteína na urina.

Mas este sintoma surge quando a doença já adquiriu um determinado estágio, no qual o organismo da mulher já está sendo atacado pelo processo inflamatório. “Temos uma frente de pesquisa para identificar marcadores de angiogênese e anti-angiogênese”, revela Sass.

O médico explica que em mulheres com pré-eclampsia acontece uma anomalia no processo de formação dos vasos sanguíneos da placenta. E essa anomalia pode ser detectada pela presença de alguns marcadores no sangue.

Assim, tendo um diagnóstico precoce, a partir da 20ª semana, seria possível antecipar os cuidados paliativos e reduzir ainda mais os danos à mãe e ao feto, reduzindo o risco da gestação.

A origem obscura

Os médicos têm dificuldade em criar um tratamento eficaz para a origem do problema porque ele, infelizmente, ainda é pouco compreendido. Na gestação, o feto tem aspectos semelhantes aos de um órgão transplantado. Ele carrega genes estranhos ao corpo da mãe, provenientes do organismo paterno. Isso faz com que seja necessária uma série de adequações imunológicas no organismo materno. É neste processo que acontecem as falhas na mulher que irá desenvolver pré-eclampsia.

Existem fatores que podem aumentar o risco da doença, como idade (ter mais de 40 anos), obesidade, histórico familiar, diabetes e hipertensão.

Algumas estratégias preventivas também estão sendo estudadas. Usar doses leves de ácido acetilsalicílico poderia reduzir em 10% o risco de ter a doença, de acordo com as primeiras pesquisas. Ingerir ao menos um grama de cálcio na alimentação diária também parece uma boa alternativa para combater o processo inflamatório.

Em contrapartida, a obstetra Leila Katz, do Instituto Materno Infantil de Pernambuco, afirma que reduzir a ingestão de sal pode não trazer benefícios diretos contra a pré-eclampsia. Contudo, a recomendação ainda é válida por diversos outros motivos.

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