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quarta-feira, 1 de junho de 2011

Quando a pílula gera um desejo por abstinência

Pesquisas revelam que os anticoncepcionais podem diminuir a freqüência de pensamentos sexuais, tornar o excitamento mais difícil ou diminuir a lubrificação, tornando o sexo doloroso


Não é segredo que algumas mulheres que tomam pílulas anticoncepcionais perdem o interesse pelo sexo. Elas vêm falando desse efeito colateral a seus médicos desde que os contraceptivos orais passaram a ser usados em larga escala, há 40 anos. "Pouco a pouco, meu namorado e eu começamos a observar que eu nunca estava com vontade de transar. Nunca", disse Cody, 27, de San Francisco, que pediu para não revelar seu último nome para manter sua privacidade.

Alguns estudos também indicaram que a pílula pode diminuir a freqüência de alguns pensamentos sexuais, tornar o excitamento mais difícil ou diminuir a lubrificação, tornando o sexo doloroso.

Ainda assim, a possibilidade de um elo entre os contraceptivos orais e o desejo sexual deve surpreender muitas mulheres. Poucos médicos falam disso quando recomendam o uso da pílula, e as bulas não mencionam o risco.

Os médicos dizem que a omissão não é necessariamente por descuido. Segundo eles, é difícil advertir sobre os efeitos sexuais colaterais porque as mulheres reagem diferentemente ao uso da pílula.

"Algumas mulheres sofrem uma diminuição do desejo sexual, enquanto outras observam um aumento", disse Paul Stumpf, endocrinologista reprodutivo do Centro Médico Newark Beth Israel.

Agora, um estudo novo e controverso sugere que a pílula anticoncepcional não só suprime o desejo, mas o faz por meses depois que a mulher pára de tomá-la, aumentando os níveis de determinada proteína. De acordo com Irwin Goldstein, co-autor do estudo e editor da revista Journal of Sexual Medicine, que publicou o estudo, os resultados talvez expliquem o que ele observa há muito.

"Quando (as mulheres) paravam de tomar (a pílula), esperávamos observar uma recuperação de sua função sexual. Mas não víamos isso", disse Goldstein, urologista em Boston.

Outros especialistas questionam a idéia de que uma única proteína poderia ter um papel tão central no desejo sexual das mulheres e continuam duvidando que a pílula possa ter um efeito duradouro. Eles dizem que mais pesquisa é necessária.

"Houve atenção limitada à área", disse David F. Archer, endocrinologista reprodutivo da Faculdade de Medicina da Virgínia Ocidental, em Norfolk.

Cerca de 11,6 milhões de mulheres nos EUA, 19% daquelas entre 15 a 44 anos, tomam pílulas anticoncepcionais, de acordo com uma pesquisa de 2002 do Centro Nacional de Estatísticas da Saúde. Em algum ponto em suas vidas, 82% das mulheres usaram a pílula.

Alguns especialistas em medicina sexual dizem que os médicos não deveriam receitar a droga sem informar às mulheres que pode diminuir seu interesse sexual.

"Acho que houve séria negligência por parte dos médicos e da indústria farmacêutica", disse John Bancroft, pesquisador do Instituto Kinsey, na Universidade Indiana, que mora perto de Oxford, Reino Unido. "Há muito tempo que batemos nessa tecla."

No entanto, alguns médicos que receitam os contraceptivos orais dizem que, se discutissem a disfunção sexual, poderiam influenciar as expectativas das pacientes, provocando o problema.

A pesquisa de Bancroft indica que ao menos uma em cada quatro usuárias de contraceptivos orais sofre efeitos colaterais sexuais. Archer estima que, com base no que ele chama de "literatura muito esparsa", 5% das mulheres param de usar a pílula por causa dos efeitos colaterais. Talvez uma percentagem maior observe a diminuição da libido mas continue tomando a pílula assim mesmo.

Algumas vezes, trocar de pílula pode ajudar, dizem os médicos.

Os efeitos na função sexual podem nascer da ação da pílula sobre a testosterona, que ajuda a despertar o desejo sexual da mulher. Contraceptivos orais impedem a produção de testosterona nos ovários e aumentam a produção no fígado de um tipo de globulina que se liga a maior parte da testosterona livre no sangue, deixando-a inativa.

Goldstein e seus colegas encontraram níveis elevados dessa proteína nas mulheres logo após pararem de tomar a pílula. Os pesquisadores estudaram 124 mulheres que tinham visitado a clínica de Goldstein reclamando de disfunção sexual.

Algumas estavam tomando a pílula, algumas tinham parado e outras nunca tinham usado. As que tomavam a pílula tinham níveis quatro vezes mais altos da globulina que se liga ao hormônio sexual do que as mulheres que nunca tinham tomado a droga. Os níveis caíram em 26 mulheres que tinham parado de tomar a pílula, mas por ao menos quatro meses os níveis continuaram quase o dobro do que o observado nas mulheres que nunca tinham usado contraceptivos. Bancroft encontrou dados contraditórios. Em um estudo que está em andamento, ele mediu o nível da globulina específica nas mulheres que tomaram a pílula no passado e viu que seus níveis eram normais.

Bancroft planeja medir a testosterona antes e depois das pacientes começarem a tomar a pílula. Em pesquisas anteriores, os níveis de testosterona no sangue não mostraram uma correlação direta com o interesse sexual. "Mulheres que dizem: 'Não tenho o menor interesse no sexo' podem ter um nível de testosterona normal", disse Archer.

Talvez, acrescentou, algo além da testosterona esteja em operação. As evidências sugerem, por exemplo, que a progesterona em pílulas anticoncepcionais pode alterar a libido. As emoções e circunstâncias pessoais também importam. A mulher pode perder o interesse no sexo porque está estressada ou porque não se sente atraída pelo parceiro.

Stumpf comparou os efeitos colaterais sexuais com o aumento do peso. Mulheres que tomam a pílula freqüentemente ganham alguns quilos com os anos. Por outro lado, muitas mulheres que não tomam contraceptivos também ganham peso com a idade.

Segundo ele, é o mesmo com a libido. "O interesse sexual tem dezenas de interruptores e conexões", acrescentou.

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