Noites mal dormidas, reclamações de quem dorme ao lado e consequências perigosas para a saúde – tudo causado pelo ronco. Companheiro de longa data de muitos homens e mulheres, o ronco pode ser definido como um ruído produzido de forma involuntária pela vibração de alta frequência de estruturas da boca e outras que estão envolvidas na respiração.
Uma causa frequente do ronco é a respiração bucal, que também pode estar associada a cessações com intervalo da respiração, a chamada apneia do sono. O ortodontista e ortopedista facial, Gerson Köhler, explica que nos estudos dos distúrbios respiratórios do sono, como o ronco e a apneia, o diagnóstico e o tratamento da respiração bucal são imprescindíveis.
“A população brasileira está ficando mais velha e a respiração bucal tem se tornado cada vez mais frequente, com consequências que podem prejudicar a qualidade de vida, provocar alterações incapacitantes com elevado risco do surgimento de doenças e até mortalidade. As doenças mais comuns são as cardiovasculares”, aponta.
De acordo com Gerson, a respiração bucal mina progressivamente a saúde geral, já que causa alterações fisiológicas e efeitos bioquímicos nocivos no organismo. “Em um passado recente a respiração bucal não costumava ser levada em consideração quanto aos potenciais danos que poderia causar a saúde. Em adultos esta respiração incorreta pode acarretar o avanço progressivo de doenças crônicas, como apneias obstrutivas e o diabetes tipo 2”, alerta.
O especialista esclarece também que para respirar pela boca durante o sono, a mandíbula tem que estar abaixada para que a boca fique aberta, obrigando a base da língua a se projetar para trás, reduzindo e até mesmo fechando o espaço da orofaringe.
“Isto causa uma passagem obstrutiva tanto para o ar que entra pelo nariz como o que entra pela boca, pois ambos terão um ponto de impedimento e não poderão passar, causando a apneia, ou passarão com muita dificuldade, causando o ronco”, destaca.
Köhler afirma que as técnicas mais utilizadas para o tratamento do ronco são a utilização de aparelhos intra-bucais, utilizados para dormir e que tem como objetivo ampliar o espaço da orofaringe, ou o uso do CPAP, uma espécie de máscara que injeta o ar positivamente pressurizado durante o sono do paciente.
“O problema é que nem todos conseguem se adaptar o uso destes aparelhos ou da máscara. E há restrições quanto ao uso destas técnicas em quem possui disfuncionalidades nas articulações temporomandibulares”, observa.
Tendo em vista as dificuldades de adaptação de vários pacientes ao uso dos aparelhos como esses, pesquisadores alemães do Departamento Maxilofacial da Georg August University of Goettingen, em Kassel, região central da Alemanha, encontraram outra alternativa terapêutica para atender estas pessoas.
“É uma nova proposta, que tem como objetivo reposicionar a língua por meio de treinamentos diários e o uso de um aparelho durante a noite que reposiciona o órgão corretamente no interior da boca, mantendo esta fechada e evitando a respiração bucal”, ressalta o especialista.
A proposta, descrita no artigo “Tratamento funcional do ronco com protetor bucal em conjunto com manobra de reposicionamento da língua”, foi publicada no International Journal of Odontostomatology, e aponta a importância da posição da língua neste processo.
“São necessárias no mínimo quatro semanas de treinamento diário e cada sessão deve durar cerca de 30 minutos. O indivíduo começa a perceber a correta posição da língua por meio da pressão exercida durante a deglutição e, segundo os pesquisadores, é uma boa alternativa para a redução dos roncos”, diz Juarez.
Nilse Köhler, fonoaudióloga mioterapeuta, acrescenta que esta proposta terapêutica está baseada na necessidade do treinamento concomitante da exercitação da respiração pelo nariz e exercícios para manter a boca fechada associado ao uso do aparelho indicado.
“É uma nova possibilidade para aqueles que, diante das dificuldades em não se acostumar aos demais tratamentos até então existentes, ficavam sem poder contar com ajuda terapêutica para seus sintomas. O tratamento é muldisciplinar e envolve especialistas de diferentes áreas, como a ortodontia, fonoaudiologia e a otorrinolaringologia”, finaliza.
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