Medicamentos e exames recém-chegados ao mercado marcam a mudança na terapia contra a doença
Novos medicamentos já estão sendo avaliados pela Anvisa
“Há 10 anos não se via uma mudança tão significativa na área da hepatite C quanto o surgimento dessas novas medicações. Ao longo desse tempo, é a primeira vez que elevamos consideravelmente as chances de cura”. A avaliação é do hepatologista Raymundo Paraná, presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia.
A aprovação pelo FDA (Food and Drug Administration, órgão norte-americano que regulamenta o setor de medicamentos no País) de duas novas drogas, o boceprevir e o telaprevir, promete modificar o tratamento da doença, que hoje atinge mais de 60 mil brasileiros, segundo dados do Ministério da Saúde. Apesar dos números oficiais, a estimativa é que cerca de dois milhões de brasileiros tenham hepatite C e ainda não tenham sido diagnosticados.
A vantagem dos novos medicamentos é o índice de cura da doença, principalmente em pacientes com o genótipo 1, o mais incidente no Brasil - responsável por 70% dos casos. “Desse total, 55% não respondem ao tratamento que temos hoje, o interferon e a ribavirina”, afirma Paraná.
Com a medicação atual, o paciente que nunca tratou a hepatite C tem 45% de chances de zerar a atividade do vírus que prejudica o fígado, o equivalente à cura. Quando os novos medicamentos são adicionados ao tratamento atual, esse número sobe para 75%.
Mas é no caso de pacientes que já fizeram o tratamento e tiveram apenas uma reposta temporária (quando a carga viral é zerada durante o tratamento, mas volta assim que esse é finalizado), que os índices são ainda mais expressivos. De atuais 40%, eles sobem para 90% com a inserção das novas drogas. “Isso acontece porque eles já são previamente sensíveis ao interferon e à ribavirina”, explica o hepatologista.
Para aquele grupo que nunca respondeu ao tratamento, com chances de negativar a ação do vírus inferior a 10%, esse número agora chega a 40%. "De fato, os tratamentos que a gente dispõe hoje conseguem a cura da hepatitec C em uma porcentagem muito insatisfatória", avalia Roberto José de Carvallho Filho, gastroenterologista da Casa das Hepatites, da Unifesp.
Os novos medicamentos também consolidam um tendência que já vem sendo observada: a individualização no tratamento da hepatite C. "Esse conceito ganha mais importância com esses medicamentos, pois começaremos o tratamento e vamos avaliando caso a caso o que acontece com a carga viral. Se a redução da quantidade de vírus ativo no organismo for rápida, o paciente poderá utilizar a medicação por menos tempo", diz ele.
Efeitos adversos
Apesar de ser um medicamento promissor no que se refere ao resultado, o tratamento é mais difícil. Segundo Paraná, os efeitos adversos são mais intensos do que os experimentados atualmente. Podem ocorrer alteração do paladar (gosto de metal na boca), hipersensibilidade ao amargo, coceira, náusea e diarréia e anemia. “O importante é saber que esses efeitos adversos são controlados e não há a necessidade de interrupção do tratamento”, afirma o hepatologista.
O especialista ressalva também a maior possibilidade de falha, já que a quantidade de medicamentos é maior. E, por isso, a orientação médica é imperativo no tratamento. “O paciente terá que tomar 18 pílulas três vezes por dia e não pode falhar, ou o vírus desenvolve resistência. O médico terá de mostrar a importância de tomar o remédio corretamente”, endossa.
Outro fator negativo é o preço com que a terapia deve chegar ao Brasil. Estima-se que o valor deve variar entre R$30 mil a R$50 mil reais. "Também temos que somar o custo do acompanhamento, que precisará ser mais frequente", relata Carvalho Filho.
Novo exame
Há dois anos sendo largamente utilizada na Europa, a elastografia hepática começa a ser oferecida no Brasil. O exame pode substituir a biópsia, procedimento em que uma agulha é introduzida no corpo do paciente a fim de retirar um pedaço para futura análise. A novidade permite avaliar o grau de rigidez do fígado (fibrose hepática), o que determina os riscos do paciente desenvolver cirrose, e o estágio da doença. “O exame barateia os custos do diagnóstico, já que uma biópsia exige internação, equipe médica com anestesista, e equipamento caros, como a agulha utilizada. Na Europa, esse exame custa de 10 a 40 euros”, analisa Paraná.
Além disso, o médico também prevê uma democratização do acesso ao tratamento. Hoje, para ser tratado pela rede pública, é preciso ter uma biópsia. São poucos os centros de referência da doença no País e há dificuldade em conseguir uma internação por escassez de leitos. “O novo exame leva apenas 5 minutos e é indolor. O paciente pode fazê-lo e ir embora. Une-se rapidez e custos mais baixos, possibilitando que mais pessoas possam ser diagnosticadas”, avalia.
Hepatite C
O vírus da hepatite C ataca o fígado e mais de 50% dos infectados evoluirão para a forma crônica da doença. Destes, 25% terão cirrose hepática e/ou câncer de fígado. Para tornar a estatística mais clara, é importante saber que, no Brasil, 56% dos casos de câncer de fígado estão associados ao vírus da hepatite C.
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