Aos 69 anos, a ginecologista Loreta de Moraes Napp devora livros por prazer — e também por afinidade, já que é casada com o escritor gaúcho Sérgio Napp. Porém, há outro importante motivo por trás do hábito: ela sabe que o bom desempenho da sua memória depende disto.
— A minha preocupação começou cedo, ao observar que as mulheres que eu atendia se queixavam muito de lapsos de memória após a chegada da menopausa.
Hoje, Loreta recomenda leitura às pacientes como uma poderosa aliada para enfrentar as mudanças que a vida traz.
O cientista Iván Izquierdo é um dos maiores pesquisadores mundiais na área de fisiologia da memória e seus artigos e livros já são parte imprescindível das bibliografias básicas dos trabalhos dedicados ao tema.
Nesta entrevista, concedida ao caderno Vida, de Zero Hora, ele revela que apesar dos avanços na área, não há nada melhor para o cérebro do que devorar livros.
Zero Hora — Qual a grande descoberta sobre a memória nos últimos anos?
Iván Izquierdo — São muitas, principalmente nos últimos 20 anos. Temos conhecido cada vez mais detalhes sobre o mecanismo molecular que leva à formação da memória. Isso também se chama consolidação, porque consolida a informação de diversas procedências da linguagem cerebral na memória, por meio de sinais elétricos e neuroquímicos. Se descobriu, portanto, que comunicação se utiliza, e o que ocorre depois, para a formação da memória e o curso de tempo que leva. Além disso, se estuda hoje que regiões do cérebro participam da extinção, ou seja, a inibição da resposta para que ela não seja usada a qualquer momento. Um exemplo é a memória de medo, que não precisa ser usada toda hora e que serve para ajudar pacientes vítimas de estresse pós-traumático.
ZH — Já é possível, então, apagarmos lembranças desagradáveis? Como é feita essa inibição hoje?
Izquierdo — Não seria bom perdê-las, pois é preciso lembrar de um ocorrido para que o sujeito não repita a situação que a levou ao trauma. Mas os psicoterapeutas já utilizam esse recurso há 30 anos para tratar pacientes vítimas de estresse pós-traumático. Em síntese, é empregada uma técnica que faz com que a pessoa não "acione" a memória em determinados momentos. Ela age assim após ser exposta a estímulos e cenas e a situações que lhe produz medo (uma delas é a cognitivo-comportamental).
ZH — Muitas vezes ficamos nervosos quando queremos lembrar de algo e a coisa está na ponta da língua mas não sai. Quando o "branco" é um problema real?
Izquierdo — O branco é devido à ansiedade, que causa liberação de hormônios suprarrenais chamados corticoides. Eles vão circular no sangue e acabam eventualmente no cérebro, inibindo a memória. Pode acontecer com qualquer um, não é patológico. Ou seja, tem que tratar a ansiedade. Entretanto, o "branco" pode representar um problema real, como a doença de Alzheimer, quando o sujeito passa a esquecer o nome do pai, o ofício que atua.
ZH — Mas se eu estou notando que a minha memória pode ser aperfeiçoada, o que é possível fazer?
Izquierdo — Drogas, como a Ritalina, só são indicadas para quem tem déficit de atenção. Mas quem não tem a doença e quer ter um cérebro saudável, eu recomendo ler. Esse é o melhor exercício que alguém pode fazer com o cérebro. O uso constante da memória a estimula. É como um músculo: quanto mais se usa, melhor funciona. Mas não se deve fazer um uso abusivo da memória. Na hora de dormir, devemos descansar. Cada coisa tem seu momento.
O que ajuda
:: Concentre-se: livre-se das preocupações e preste atenção naquilo que você lê, vê ou ouve.
:: Seja curioso: esteja sempre aberto a receber novas informações e saber o porquê das coisas.
:: Planeje-se: além de dar sentido à vida, ter objetivos nos motiva a ficar atentos.
:: Tenha vida social: ampliar a rede de relacionamentos é um ótimo exercício para o cérebro.
:: Compartilhe: falar sobre o que se viveu treina a memória sobre esses fatos.
O que atrapalha
::Tensão
:: Má alimentação
:: Privação de sono
:: Remédios sem indicação médica
:: Ansiedade
:: Mau funcionamento do organismo
:: Sobrecarga.
Fonte Zero Hora
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