A maneira como a inatividade física interfere no risco de se contrair doenças é a base de um estudo produzido por pesquisadores da Universidade do Missouri (EUA).
Os cientistas já sabem há algum tempo que os sedentários correm um risco maior de desenvolverem doenças cardíacas e diabetes do tipo 2. Mas o motivo para isso não é totalmente compreendido, em parte porque a análise dos efeitos do comportamento sedentário não é algo fácil de se obter.
Os inativos podem ser obesos, ter uma alimentação pobre ou enfrentar outras questões metabólicas e de estilo de vida que tornam impossível determinar o papel específico da inatividade em problemas de saúde.
Para lidarem com esse problema, os pesquisadores adotaram uma nova abordagem no estudo: persuadiram um grupo de jovens adultos saudáveis e ativos a se tornar mais "sedentário".
Os voluntários tiveram de reduzir pela metade o número de passos diários. A meta era determinar se esse torpor físico afetaria a habilidade do corpo de controlar os níveis de açúcar no sangue.
Isso porque, explica John Thyfault, professor associado de nutrição e fisiologia do exercício na Universidade do Missouri, que conduziu o estudo junto com a pós-graduanda Catherine Mikus e outros cientistas, está cada vez claro que os picos de açúcar no sangue, especialmente após uma refeição, fazem mal.
""Os picos e variações no nível de açúcar após as refeições têm sido ligados ao desenvolvimento de doenças cardíacas e diabetes do tipo 2", explica.
Glicose
Os cientistas colocaram em voluntários equipamentos sofisticados de monitoramento da glicose. Estes, por sua vez, receberam pedômetros e braceletes, além de descreverem diários detalhados sobre a alimentação.
Em um primeiro momento, os voluntários se comportaram normalmente por três dias, caminhando e se exercitando como sempre.
As recomendações da Associação Americana para Doenças Cardíacas indicam que, para efeitos de saúde, as pessoas devem dar dez mil ou mais passos por dia --o equivalente a caminhar cerca de 8 km. Diferentes estudos com adultos dos Estados Unidos demonstraram que a maioria dá menos de 5.000 passos ao dia.
No caso dos voluntários do Missouri, cada um deles fez cerca de 30 minutos de exercícios quase todos os dias e facilmente chegava a mais de dez mil passos nos três primeiros dias do experimento. A média era de quase 13 mil passos. Nesses três dias, de acordo com dados dos equipamentos medidores, a glicose no sangue dos voluntários não atingiu picos depois de uma refeição.
Esta condição positiva, entretanto, mudou durante a segunda fase do experimento, quando os voluntários foram orientados a cortar suas atividades, de modo que as contagens de passos caíssem a menos de 5.000 passos diários nos três dias seguintes. A contagem média de passos mal chegou a 4.300 passos.
Ao mesmo tempo, mantiveram as mesmas refeições e lanches que haviam consumido nos três dias anteriores, de modo que quaisquer mudanças nos níveis de glicose não fossem resultado de uma alimentação mais gordurosa ou doce.
As mudanças ocorreram. Nos três dias de inatividade, os níveis de glicose dos voluntários atingiram picos significativos após as refeições, com um aumento dos picos de cerca de 26%, em comparação com a época em que os voluntários se exercitavam e se moviam mais. Mais do que isso: os picos cresceram um pouco a cada dia.
Esta mudança no controle dos níveis de glicose após as refeições "aconteceu bem antes que pudéssemos ver quaisquer mudanças na forma física ou na adiposidade (acúmulo de gordura)", devido à atividade reduzida, disse Thyfault. Portanto, as variações na glicose pareceriam ser um resultado direto da pouca atividade dos voluntários.
Essa notícia é tanto inquietante quanto encorajadora. Estudos com humanos e animais revelaram que a regulagem da glicose no sangue retorna rapidamente ao normal quando se retoma a atividade física.
Os picos na inatividade são naturais, e até inevitáveis, uma vez que os músculos pouco utilizados precisam de menos combustível e por isso tomam menos açúcar do sangue.
Essa condição torna-se motivo de preocupação séria, diz Thyfault, apenas quando a inatividade é duradoura, e se torna a condição normal do corpo.
"Nossa hipótese é que, ao longo do tempo, a inatividade cria as condições fisiológicas que produzem as doenças crônicas", como o diabetes do tipo 2 e as doenças cardíacas, independentemente do peso ou da dieta. Para evitar tal destino, mexa-se, mesmo que em pequenas doses. "Você não precisa ser um maratonista", diz o pesquisador. "Mas há provas bem claras de que é preciso se movimentar."
O estudo foi publicado no mês passado na revista "Medicine & Science".
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