Em um estudo realizado em ratos com diabetes tipo 2, pesquisadores mostram como o diabetes afeta uma área do cérebro chamada hipocampo, causando perda de memória. A pesquisa também mostra como a cafeína pode impedir isso.
Segundo o autor do estudo, Rodrigo Cunha, a demência causada por diabetes é a mesma que ocorre nos primeiros estágios de várias doenças neurodegenerativas, incluindo Alzheimer e Parkinson, sugerindo que a cafeína (ou fármacos com mecanismo semelhante) poderiam ajudar a tratar essas doenças também.
O diabetes é causado por níveis elevados de açúcar no sangue. No tipo 2 isto ocorre porque o corpo torna-se cada vez mais resistente à insulina, o que permite que as células usem o açúcar do sangue como “combustível”, resultando em níveis de açúcar altos e tóxicos no sangue, o que danifica os nervos e vasos sanguíneos e, com o tempo, causa complicações graves.
No novo estudo publicado na periódico PLoS, Cunha e seus colegas tiraram proveito de um modelo animal com diabetes tipo 2, que, como seres humanos, desenvolvem a doença como resultado de uma dieta rica em gordura. Eles estudaram pelo menos uma complicação do diabetes, o efeito da doença sobre o cérebro, mais especificamente sobre a memória.
Eles também investigaram um possível efeito protetor da cafeína para evitar a perda de memória em uma série de doenças neurodegenerativas.
Com esse objetivo, os pesquisadores compararam quatro grupos de ratos, animais diabéticos ou saudáveis que consumiam ou não cafeína.
Primeiros resultados
Os resultados mostraram que o consumo de longo prazo da cafeína não só diminui o ganho de peso e os altos níveis de açúcar no sangue típico do diabetes, mas também evitou a perda de memória dos ratos.
Segundo os pesquisadores, o estudo confirmou que a cafeína pode proteger contra o diabetes, bem como evitar perda de memória. A hipótese para isso seria a de que a cafeína provavelmente interfere na neurodegeneração causada por níveis tóxicos de açúcar no sangue.
Para investigar esta teoria os pesquisadores analisaram uma região do cérebro ligada à memória e aprendizagem chamada hipocampo. Eles descobriram que ratos diabéticos tinham alterações nesta área mostrando degeneração sináptica e astrogliose. Ambos os fenômenos são conhecidos por afetar memória e o consumo de cafeína impediu essas anormalidades.
Para tornar possível a criação de drogas com base no efeito protetor da cafeína, foi necessário compreender os seus mecanismos moleculares. Assim, os pesquisadores analisaram as únicas moléculas do cérebro conhecidas por responder à cafeína, os receptores de adenosina A1R e A2AR, no hipocampo.
Segundo os resultados, o A2AR parece ser a chave para o resgate da memória pela cafeína, já que sua densidade foi elevada em animais diabéticos, mas normal em doentes tratados com cafeína.
Em conclusão, a pesquisa sugere que o diabetes afeta a memória, causando degeneração sináptica, astrogliose e aumento dos níveis de A2AR. O estudo indica também que o consumo crônico de cafeína pode impedir a neurodegeneração e a perda de memória. E isto não só no diabetes, uma vez que a degeneração sináptica e astrogliose são eventos comuns a várias doenças neurodegenerativas, isso implica que a cafeína (ou drogas semelhantes) poderiam ajudar também nessas condições.
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Na realidade, explica Cunha, a dose de cafeína usada neste experimento e que demonstrou ser eficaz é muito alta. “O que podemos concluir disso tudo é que um consumo moderado de cafeína deve proporcionar um benefício moderado, mas ainda assim um benefício.”
Segundo ele, testar altas doses de uma determinada substância é comum em estudos pré-clínicos, a fim de destacar um benefício claro. “Nosso objetivo final é a criação de uma droga mais potente e seletiva (isto é, com menos efeitos colaterais) do que a cafeína em si; estudos com animais nos permitem identificar o alvo provável de cafeína com os benefícios de protecção em diabetes tipo 2. Então agora vamos testar derivados químicos da cafeína, que atuam como antagonistas seletivos de receptores de adenosina A2A, para tentar evitar a perda de memória diabética. E esse pode ser um avanço terapêutico para esta doença devastadora”, finaliza.
Fonte O que eu tenho
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