Tecnologia da Unicamp, que ainda não é comercial, é combinada com um tipo de plástico degradável pelo organismo
Pesquisa da Universidade de Campinas (Unicamp) abre perspectivas para a produção de um dispositivo comercial para ser usado no tratamento de úlceras e queimaduras, especialmente as de grande extensão. Testes mecânicos e biológicos demonstraram que a tecnologia, que contribui para a regeneração da pele, apresentou algumas vantagens em relação aos produtos encontrados atualmente no mercado, entre elas o fato de o polímero que a compõe ser degradado pelo organismo.
O objetivo do estudo é buscar uma alternativa mais barata e eficiente que as soluções já disponíveis no mercado para o tratamento de lesões, principalmente as causadas por queimaduras.
Para isso, a pesquisadora Giselle Cherutti, da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM), concebeu uma matriz dérmica composta por uma camada celular, que é colocada sobre a derme suína, que por sua vez é acomodada sobre um polímero. Ela explica que optou pelo uso da derme suína por ela apresentar características similares às da pele humana. " Dito de forma simplificada, nós pegamos um pedaço de tecido do porco e adotamos uma série de procedimentos para obter a camada dérmica, que tem os componentes necessários para favorecer a proliferação celular. Também usei células VERO, que constituem uma linhagem de fibroblastos [sintetizadores do colágeno] considerada padrão. Nos testes mecânicos e biológicos que realizamos, constatamos alguns aspectos importantes. O material contribui para a proliferação celular, devido a sua porosidade. Além disso, o dispositivo também se mostrou atóxico às células VERO. Ou seja, não foi verificada morte celular" , elenca Giselle.
Regeneração
Além disso, prossegue a pesquisadora, também foi constatado que a matriz dérmica favorece a regeneração da pele por ser flexível, uma propriedade desejável quando o assunto é o tratamento de queimaduras. " Quando a pele está em processo de regeneração, pode haver contração. Assim, por apresentar flexibilidade, o material facilita esse movimento natural" . Outro benefício proporcionado pela nova tecnologia é o fato de o polímero que compõe o dispositivo ser degrado pelo organismo. Na prática, ele funciona como uma barreira física que protege a lesão do contato com o ambiente.
Giselle esclarece que os produtos similares encontrados no mercado ou não contam com esse tipo de película protetora ou, quando contam, ela pode ou não ser degradada pelo organismo. " Quando não ocorre a degradação, o polímero tem que ser retirado posteriormente através de uma intervenção cirúrgica" , informa. Ainda de acordo com ela, os ensaios laboratoriais determinaram que o período de regeneração da pele foi equivalente ao obtido com a aplicação das matrizes dérmicas comerciais. Por tudo isso, observa a pesquisadora, o trabalho concluiu que o dispositivo estudado apresenta potencial para ser utilizado como um substituto dérmico para implantes de áreas de queimaduras extensas.
Próximo passo
Antes de ser transformada em produto, no entanto, a tecnologia terá que cumprir mais algumas etapas, como faz questão de destacar Giselle. De acordo com ela, a matriz dérmica ainda precisará sofrer alguns aperfeiçoamentos. Ademais, também terá que ser submetida a testes em modelo animal e clínico. " Vou dar continuidade aos estudos na minha tese de doutorado. Meu objetivo será superar alguns desses desafios" , avisa a pós-graduanda. Ela assinala que o tratamento de pessoas que sofrem queimaduras extensas é longo, doloroso e caro.
Dados da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ) dão conta de que, no Brasil, são registrados aproximadamente 1 milhão de casos de queimaduras a cada ano. Tal número se torna ainda mais dramático quando se considera que de cada três pessoas queimadas, duas são crianças. As vítimas desse tipo de acidente normalmente passam a conviver com sequelas pelo resto da vida. Na maioria das vezes, informa a SBQ, os traumas envolvendo crianças ocorrem dentro da residência, especialmente na cozinha.
" Nosso objetivo, agora, é aprimorar o dispositivo e partir posteriormente para testes em modelo animal e clínicos" , afirma a autora do trabalho de dissertação de mestrado, que foi orientada pela professora Eliana Aparecida de Rezende Duek.
Com informações da Unicamp
Fonte isaude.net
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