Método propõe que bebês com mais de seis meses se alimentem sozinhos e com as próprias mãos, mantendo o próprio ritmo para a refeição
Esqueça as papinhas e colheres e simplesmente deixe que o bebê se alimente sozinho. Essa é a proposta de um novo método, o BLW (Baby Led Weaning, desmame que o bebê lidera, traduzido do inglês), que substitui as papinhas por frutas e legumes, e os talheres pelas próprias mãos.
Criado pela consultora em saúde Gill Rapley, a técnica defende que os bebês com mais de seis meses — período em que começa a introdução de sólidos na dieta — alimentem a si mesmos, com as mãos, estabelecendo o próprio ritmo para a refeição. Quem é adepto diz que, além de a criança desenvolver autonomia, evita que os pais precisem carregar para todo lado as papinhas. Especialistas fazem ressalvas.
Pediatra nutróloga da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Elza Mello alerta para alguns cuidados que os pais devem ter ao se lançar no BLW. Embora seja quase essencial que a criança se suje — para evitar possíveis “nojinhos” futuros — e desenvolva a autoalimentação, a papa principal também é fundamental na dieta infantil.
— Se o próprio bebê for sempre pegar os alimentos, ele provavelmente não vai ingerir a quantidade de nutrientes de que precisa — explica.
Ela sugere que a alimentação seja feita de forma mista. Ou seja, que a mãe dê algumas comidinhas para a criança, mas que nunca negue caso ela queira pegá-las sozinha.
Compartilha da mesma opinião a secretária-geral da Associação Gaúcha de Nutrição, Claudia Mallmann. Especialista em nutrição infantil, ela tem receio de que a criança não chegue ao valor calórico necessário caso se alimente exclusivamente sozinha. Apesar de julgar importante que o bebê tenha a oportunidade de esmagar e sentir a textura dos alimentos, ela reitera que a mãe precisa garantir que o filho tenha uma alimentação adequada.
A nutricionista aponta, como pontos positivos do BLW a rejeição das mães por liquidificadores — o que estimula a função mastigatória do bebê — e a integração da criança à rotina familiar. Mas alerta que devem ser tomados cuidados na hora de dividir a comida, pois há restrições à consistência e à quantidade de sal, açúcar e temperos de certos alimentos.
Facilidade nos restaurantes
Bastante conhecido em países como Europa e Estados Unidos, o Baby Led Weaning ainda é visto com estranheza no Brasil. Mesmo assim, tem ganhado adeptos. Dona de um grupo no Facebook sobre a técnica, Tiê Granetto acha que o método tem crescido no país. E isso por experiência própria. Segundo ela, diariamente, cinco ou seis pessoas pedem aceitação no grupo.
Bastante conhecido em países como Europa e Estados Unidos, o Baby Led Weaning ainda é visto com estranheza no Brasil. Mesmo assim, tem ganhado adeptos. Dona de um grupo no Facebook sobre a técnica, Tiê Granetto acha que o método tem crescido no país. E isso por experiência própria. Segundo ela, diariamente, cinco ou seis pessoas pedem aceitação no grupo.
Além de ocupar o tempo administrando a página, a coordenadora de marketing é também mãe de Lucca, um ano. Há seis meses, ela começou a aplicar o método com o primogênito. Mais do que a descoberta de alimentos, texturas e sabores, ela afirma que o BLW também traz muito mais facilidade para os pais, pois as crianças acabam comendo o mesmo que toda a família.
— Na papinha, tenho a impressão de que fica tudo muito misturado, e eles não conseguem desenvolver um paladar para distinguir os alimentos — completa.
Foi navegando na internet que Greice Veiga, mãe de Antonella, sete meses, descobriu o método. Há um mês aplicando a técnica, ela já percebe benefícios na filha, que se mostrou contente com a escolha. Isso porque, nas primeiras vezes que tentou alimentá-la com a colher, a filha rejeitou. Greice decidiu, assim, tentar o BLW, que, segundo ela, tem dado bastante certo.
— Acho bom porque eles desenvolvem autonomia, além de ser mais cômodo para os pais. Não preciso ficar levando papinha a cada restaurante que vamos. Ela come de tudo — explica a mãe.
O medo do engasgo
Um dos maiores medos de quem não conhece a técnica, ou quer começar a aplicá-la, é em relação ao risco de engasgar. No entanto, tanto as mães quanto os especialistas dizem que o bebê passa a entender o mecanismo do engasgo e tenta, por conta própria, evitá-lo.
Greice e Tiê assinam embaixo. Segundo as mães, quando os filhos colocam um pedaço maior na boca, eles mesmos tiram. Elas alertam que as crianças devem ser sempre monitoradas. A pediatra Elza reitera, também, que para que os riscos sejam menores ainda, devem ser evitados pedacinhos muito pequenos, como pipoca, amendoim e milho.
Dicas para adotar a técnica do BLW
- O bebê deve estar sentado e ser capaz de se manter com o mínimo suporte
- Castanhas e frutas com sementes grandes, como cerejas e azeitonas, não devem ser oferecidas
- Os bebês devem ser sempre supervisionados enquanto estiverem comendo
- Os alimentos devem ser introduzidos aos poucos
- A comida deve ser cortada em palitinhos
- Cuidar com os alimentos alergênicos (como amendoim e trigo) e com pedaços muito pequenos, que as crianças podem aspirar
- Os bebês devem ter, no mínimo, seis meses, que é quando o sistema motor já está mais desenvolvido
Zero Hora
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