Resolução do Concea foi publicada nesta sexta-feira no Diário Oficial. Métodos terão que ser aprovados e substituição deve ocorrer em até 5 anos
O Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea)
publicou nesta sexta-feira (4), no Diário Oficial da União, resolução
normativa que reconhece no país métodos alternativos ao uso de animais
em pesquisas científicas.
A intenção principal é reduzir a quantidade de diferentes espécies de animais usadas como cobaias em laboratórios.
A medida acontece nove meses depois que dezenas de ativistas invadiram o
laboratório do Instituto Royal e levaram vários animais do complexo,
alegando maus-tratos em experimentos.
Segundo o texto do D.O., é considerado alternativo “qualquer método que
possa ser utilizado para substituir, reduzir ou refinar o uso de
animais em atividades de pesquisa”.
A resolução categoriza os procedimentos alternativos em "validados",
quando há reconhecimento internacional, e "reconhecidos", quando recebem
a aprovação do Concea.
O órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia é o responsável por regulamentar experimentos com animais no país.
A normativa informa ainda que as instituições interessadas em validar
métodos alternativos ao uso de animais terão que estar associadas à Rede
Nacional de Métodos Alternativos e que os procedimentos terão de ser
reconhecidos pelo Concea, com a ajuda de estudos colaborativos
internacionais “publicados em compêndios oficiais”.
A aprovação deverá ocorrer em plenárias promovidas pelo Conselho e,
após o reconhecimento, as instituições terão até cinco anos para
substituir o método original pelo alternativo.
O Brasil não possui hoje um órgão para validar métodos alternativos ao
uso de animais em pesquisas científicas, apesar de ser proibido por lei o
uso de animais quando há outros meios de se chegar ao mesmo resultado.
Em março, o plenário do Concea decidiu que ocorrerá a substituição
progressiva por métodos alternativos que começarão a ser validados no
Brasil.
Lei de Acesso à Informação
Um relatório do governo obtido pelo G1 por meio da Lei
de Acesso à Informação mostra ainda que, apesar de 230 instituições
possuírem autorização para utilizar animais, apenas dez entidades buscam
alternativas a esses métodos. São os dados mais recentes de que o
governo dispõe no Concea em questionário realizado entre outubro e
novembro de 2012.
Segundo o conselho, realizam pesquisas alternativas o Instituto
Butantan (SP), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade de
São Paulo de Ribeirão Preto (USP/RP), Instituto Adolfo Lutz, Fiocruz
(BA), Instituto Sírio Libanês, Faculdade de Ciências Farmacêuticas da
Universidade de São Paulo do Campus de Ribeirão Preto (FCF-USP-RP), Fort
Dog Saúde Animal, Laboratório Nacional de Biociência (LNBio) e Centro
de Pesquisa Ageu Magalhães --as quatro primeiras também realizam
pesquisas com animais.
Métodos alternativos disponíveis
- Medicamentos e cosméticos na pele
Testes que buscam identificar a ação de medicamentos ou produtos cosméticos na pele ou nos olhos já possuem métodos validados que substituem o uso de animais.
Para avaliar a irritação cutânea e a corrosividade de determinada
substância em contato com a pele, não são mais necessários testes que
expõem coelhos ou outras cobaias ao produto. Esses estudos podem ser
feitos em pele humana reconstituída, ou seja, tecidos produzidos em
laboratório por meio de cultura de células.
A aplicação desse método ainda apresenta um obstáculo no Brasil: o material utilizado na produção da pele reconstituída é importado e tem validade de apenas uma semana.
A aplicação desse método ainda apresenta um obstáculo no Brasil: o material utilizado na produção da pele reconstituída é importado e tem validade de apenas uma semana.
- Temperatura
De acordo com a organização britânica “Fundo para a Substituição de Animais em Experimentos” (Frame, na sigla em inglês), outro teste alternativo disponível é o que avalia se determinado produto é capaz de provocar o aumento da temperatura corporal.
De acordo com a organização britânica “Fundo para a Substituição de Animais em Experimentos” (Frame, na sigla em inglês), outro teste alternativo disponível é o que avalia se determinado produto é capaz de provocar o aumento da temperatura corporal.
Se antes a única
possibilidade era o uso de coelhos, hoje existe uma tecnologia para
realizar esse experimento no sangue de voluntários humanos.
Ainda segundo a Frame, testes de fototoxicidade, que verificam se o
produto torna-se prejudicial quando a pele é exposta ao sol, também
podem ser feitos sem o uso de cobaias vivas. Nesse caso, uma cultura de
células de camundongos é exposta ao produto e à luz ultravioleta.
- Testes virtuais
Modelos computacionais também podem substituir animais em testes para verificar a toxicidade de uma substância ou de que maneira ela será metabolizada pelo organismo. Isso pode ser feito pela análise de moléculas por programas de computador que permitem compará-las com dados referentes a outras moléculas.
Modelos computacionais também podem substituir animais em testes para verificar a toxicidade de uma substância ou de que maneira ela será metabolizada pelo organismo. Isso pode ser feito pela análise de moléculas por programas de computador que permitem compará-las com dados referentes a outras moléculas.
Alternativas ainda mais ambiciosas, como a simulação do funcionamento
de um órgão completo, estão em desenvolvimento pelo "Instituto Wyss de
Engenharia Inspirada pela Biologia", ligado à Universidade de Harvard. O
instituto desenvolve microchips capazes de simular a reação dos órgãos
humanos a determinados produtos ou microorganismos. Segundo Presgrave,
porém, a alternativa ainda não está disponível no país.
G1
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