Arquivo Pessoal - Músico Diego Angeline alegra paciente em hospital |
Quando a canção soa, o ambiente hospitalar se transforma: os pacientes
riem, choram, lembram-se da infância, e até mesmo os enfermeiros,
médicos e funcionários do local entram no ritmo. A voz, o violão e as
canções de apresentação do músico Diego Angelini, 27 anos, ao lado da
parceira Deise Batistella Marques, quebram a rotina do hospital Santa
Lucinda, em Sorocaba, interior de São Paulo. Eles fazem parte do projeto
Músicos do Elo, que tem como objetivo a humanização de ambientes
hospitalares.
Duas vezes por semana, os músicos saem de suas casas em Indaiatuba,
interior de São Paulo, para tocar e cantar para pacientes do hospital e
também da casa de repouso Aldeia de Emaús. Estudante de música, Diego
conta que, ao participar do projeto, “se encontrou como músico”.
— É uma nova maneira de fazer música, muito mais humana e
interacionista. É algo muito enriquecedor como ser humano. Tocar e
cantar em ambiente hospitalar faz você aprender a ouvir diversas
sonoridades também. Nós fazemos, por exemplo, um estudo sonoro do
ambiente e como os barulhos podem ser amenizados, como o barulho da
porta e da lixeira batendo.
Para conseguir participar deste projeto, há pouco mais de um ano, ele
faz um curso aos fins de semana em que é preparado para se apresentar.
Afinal, ambientes hospitalates exigem um preparo diferenciado, pois “não
é um show”, mas um trabalho de humanização em que se lida com diversas
emoções humanas, explica o músico.
— Nós somos preparados desde saber limpar adequadamente os nossos
instrumentos até como observar para despertarmos as emoções humanas.
Apesar de irmos lá e tocarmos a música para melhorar aquele ambiente, o
mais difícil para mim é manter a estabilidade emocional. No hospital e
no lar de idosos, as pessoas falecem. Você convive com uma pessoa e na
semana seguinte quando você volta, ela não está mais. Também é difícil
você fazer seu som e ver uma senhora se emocionar e não se sentir
mexido. Ao mesmo tempo que é difícil, é prazeroso.
O projeto Músicos do Elo foi desenvolvido pelo músico brasileiro Victor
Flusser há 15 anos, na Universidade de Strasbourg, na França, e se
difundiu por outros países da Europa, como Portugal, Alemanha, Itália e
Espanha. Para Flusser, a música transmite muito mais do que alegria.
— É um projeto para levar qualidade de vida não só aos pacientes como
também aos familiares e profissionais de saúde. O hospital deve ser um
espaço de vida e o projeto é uma forma de incentivar a promoção à saúde.
Depois de conhecer do trabalho de Flusser na Europa, o médico Fernando
de Almeida resolveu implantar o projeto no País. Para desenvolver este
trabalho aqui, o pesquisador conseguiu apoio da Fapesp (Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado).
— O trabalho começou com pacientes que fazem diálise no Hospital Santa
Lucinda. Estes pacientes são muito sofridos, pois dependem de uma
máquina, a qualidade de vida deles é comprometida e falta esperança no
futuro. Então, a intervenção musical é um alento para eles, além de
melhorar muito o relacionamento familiar, a disposição para trabalhar e
tudo mais.
Benefícios reais para saúde
Em sua pesquisa de mestrado, o psicólogo Thiago Reis Hoffmann estudou
durante mais de um ano pacientes do setor de hemodiálise do Santa
Lucinda que receberam a visita dos músicos. Ele analisou um grupo de 50
pessoas que tiveram intervenção musical e outro grupo de 50 que não
passaram por esta experiência.
— Os que foram submetidos a intervenção tiveram melhora na qualidade de
vida, socialização, disposição no trabalho, melhor percepção da dor,
menos câimbras e melhora nos marcadores de depressão. Os momentos
negativos foram substituídos por resgates emocionais que a música causa.
A melhora foi significativa.
De acordo com psicólogo, a música tem uma grande importância na vida de todos.
—Nós nascemos embalados pela música. As canções muitas vezes nos alenta, nos traz sensações boas.
Além dos serviços de pediatria e UTI Neonatal do Hospital Santa Lucinda
de Sorocaba, o projeto atende também o Hospital São Camilo, em Itu, e o
Instituto da Criança, do Hospital das Clínicas, de São Paulo.
R7
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