AFP Photo / Frederick Florin
Mulher usa protótipo de pâncreas bioartificial no Centro
Europeu para o Estudo
da Diabetes (CEED)
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Projeto utiliza engenharia genética para produção de insulina. Células pancreáticas ficarão em 'bolso' do lado de fora do abdômen
Um disco ultrafino de polímero, pouco maior do que um CD, implantado no
abdômen poderia mudar a vida de milhões de diabéticos que dependem de
insulina. O pâncreas bioartificial, desenvolvido por pesquisadores
franceses, será testado pela primeira vez em humanos em 2016.
Com o dispositivo, os pacientes não terão mais de receber injeções
diárias de insulina: o hormônio será fabricado naturalmente pelas
células do pâncreas (obtidas por engenharia genética a partir de
células-tronco), dispostas dentro do bolso artificial.
Este projeto, cuja aplicação em grande escala não deve ocorrer antes de
2020, "levanta muitas esperanças e expectativas" para 25 milhões de
pessoas com diabetes do tipo 1 em todo o mundo, diz Séverine Sigrist,
pesquisadora da start-up francesa Defymed, responsável pelo protótipo.
A ideia de um pâncreas bioartificial foi inspirada na técnica de
transplante de células pancreáticas, destinadas a suprir a deficiência
do pâncreas e fazer com que o organismo passe a fabricar a insulina por
conta própria, regulando assim a quantidade de açúcar no sangue. O
problema dessa técnica é que, com a escassez de células para
transplante, ela só pode beneficiar uma pequena minoria de doentes. Ela
também exige o tratamento com medicamentos imunossupressores, que trazem
vários efeitos colaterais.
"Daí a ideia de projetar um tipo de uma pequena caixa dentro da qual
seriam colocadas as células pancreáticas, para que elas fiquem abrigadas
contra o ataque do sistema imunológico", diz Séverine.
O desafio foi projetar uma membrana semipermeável, que garanta tal
proteção ao mesmo tempo em que permita a passagem da insulina e também
dos açúcares, para que as células pancreáticas "saibam" o quanto de
insulina devem produzir.
O disco de polímero será implantado no abdômen durante uma pequena
cirurgia, e deve ser substituído a cada 4 ou 6 anos. No interior, as
células pancreáticas serão renovadas, por meio de uma injeção
subcutânea, a cada 6 ou 12 meses. Os pesquisadores observam que essa
quantidade de injeções não tem nem comparação com o tanto de picadas que
um paciente que depende de insulina tem que levar ao longo da vida.
20 anos de pesquisa
O desenvolvimento dessa membrana levou mais de 20 anos de pesquisa e 6 milhões de euros. O valor corresponde ao imenso potencial econômico da inovação, estimado em 4 bilhões de dólares.
O desenvolvimento dessa membrana levou mais de 20 anos de pesquisa e 6 milhões de euros. O valor corresponde ao imenso potencial econômico da inovação, estimado em 4 bilhões de dólares.
Depois de testes em animais, um estudo com 16 voluntários deverá
começar no fim de 2015 ou início de 2016, em Montpellier, no sul da
França e em Oxford, no Reino Unido. Os primeiros resultados devem estar
disponíveis no final de 2017.
Se for bem-sucedido, o tratamento poderá libertar os diabéticos do
"fardo" que representa o tratamento diário com insulina, diz o médico
Michel Pinget, diretor do Centro Europeu para o Estudos da Diabetes
(CEED), que lidera o projeto em Estrasburgo.
"Quando você é diabético, gosta de toda novidade que possa melhorar o
cotidiano", diz Éric Dehling, presidente da associação Insulib, que
reúne mais de uma centenda de pacientes do leste da França. Para ele, as
novas tecnologias, como as canetas e as bombas de insulina, já
melhoraram a vida dos diabéticos. Mas o pâncreas bioartificial permite
que eles sonhem com uma "qualidade de vida ainda melhor".
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