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quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Notícias e incidentes lançam dúvidas sobre regras para o setor alimentício no país

Anvisa admite fazer mudança em regulamentação que permite até pelos de rato em alimentos
 
Farto em conteúdo indigesto, o noticiário dos últimos dias sobressaltou os consumidores. Surgiram fragmentos de pelo de roedor e vidro em lotes de extrato de tomate e suspiro e um levantamento indicou a presença de gordura trans em produtos que alegam estar livres da substância. Além disso, fabricantes de cerveja usam o limite máximo permitido de cereais não maltados na composição da bebida, em substituição a itens mais nobres (e caros), o que leva ao questionamento: as regras do setor, no Brasil, são flexíveis demais, permitindo que o bolso e a saúde dos clientes sejam prejudicados?
 
Resolução publicada em março pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) relaciona os limites tolerados para matérias estranhas em alimentos e bebidas. Farinha, café, geleias, chá e chocolate, entre outros, podem apresentar pedaços de corpos indesejáveis (como certos insetos, areia e pelos de rato) sem se tornar uma ameaça. O órgão afirma que a resolução, elaborada a partir de padrões adotados em outros países, foi criada para aumentar a qualidade das linhas de produção nacionais.
 
— Até então, não havia uma regulamentação e, por isso, as decisões ficavam a critério dos laboratórios, que muitas vezes eram das próprias indústrias. São limites que não trazem risco à população, e são até mais restritivos do que em outros locais — explica Claudia Darbelly Cavalieri de Moraes, coordenadora de Regulamentação de Alimentos da Anvisa.

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Carla Piovesan, nutricionista e professora da graduação em Nutrição da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), explica o que costuma ocorrer com biscoitos, torradas, sorvetes e bolos prontos.
 
A tabela nutricional informa os valores de pequenas porções do conteúdo total do pacote, prática que permite, por exemplo, que as frações de gramas de gordura trans de três bolachas sejam próximas de zero.
 
Como é o fabricante que define o tamanho da porção a ter os componentes detalhados, é fácil parecer mais saudável — recebe o selo de zero trans o produto que contém até 0,2 grama da gordura por porção. Um exemplo: um pacote de salgadinho discrimina os valores nutricionais do equivalente a meia xícara do produto, e não do pacote inteiro. Em um punhado tão diminuto, é claro que os índices maléficos serão mínimos.
 
— As porções foram diminuindo para mascarar a quantidade desses ingredientes. A população não se liga, isso não é amplamente disseminado. Se a marca A está dizendo que é livre de gordura trans, o consumidor entende que a marca A é livre de gordura trans. A Anvisa dá margem para que a indústria acoberte algumas informações — comenta Carla.
 
Anvisa estuda mudanças na regulamentação
A Anvisa alega estar estudando mudanças para atualizar a regulamentação da rotulagem, mas ainda não há uma previsão de data para concluir o trabalho.
 
Quanto à cerveja, as peculiaridades do mercado brasileiro dividem consumidores e especialistas. A norma permite que, em lugar de cereais maltados (cevada, trigo), o fabricante utilize até 45% de cereais não maltados, como milho e arroz, menos nobres e mais baratos. A indústria se justifica dizendo que a composição satisfaz os apreciadores locais da bebida, afeitos a algo mais leve e refrescante, adequado ao clima tropical. Para Carlo Bressiani, diretor da Escola Superior de Cerveja e Malte, de Blumenau (SC), é fundamental que o consumidor saiba o que está comprando — os rótulos das garrafas hoje não exibem essas especificações.
 
— O fato de as cervejarias utilizarem cereais não maltados não é um problema. Na Europa, a cevada é mais barata do que o milho, por isso se utiliza mais cevada. A nossa cerveja de massa não é feita para degustar, com características de sabor e aroma marcantes. É para refrescar. O consumidor estaria disposto a pagar mais para beber uma cerveja só com cereais maltados? — questiona Bressiani.
 
Pelo de roedor
No mês passado, a Anvisa determinou a interdição de um lote de extrato de tomate Knorr — Elefante (fabricado pela Cargill Agrícola S.A.), por conter pelos de roedor, e de um lote de Suspiro Duplo (Produtos Alimentícios Arapongas S.A. — Prodasa), onde foram encontrados fragmentos de vidro. Os produtos obtiveram resultados insatisfatórios em testes, extrapolando o limite tolerado para a presença de matéria estranha.
 
Gordura trans
Pesquisa recente do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor com 50 produtos supostamente livres de gordura trans, comercializados no país, apontou que grande parte deles não apresenta o alegado índice zero da substância. A Anvisa permite que alimentos com até 0,2 grama dessa gordura por porção (apenas uma pequena fração do conteúdo total da embalagem) possam afirmar que a quantidade é zero. Até 20% de erro, para mais ou para menos, são tolerados. A gordura trans eleva os níveis de colesterol ruim e diminui os do colesterol bom, facilita o acúmulo de gordura no abdômen e aumenta o risco de problemas no coração.
 
Agrotóxicos
Desde 2001, a Anvisa monitora o excesso de defensivos agrícolas, pesticidas, praguicidas e outros produtos químicos usados na agricultura em diversos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros. A última análise, divulgada no final de 2013, indicou que 36% das amostras de 2011 e 29% das amostras de 2012 apresentaram resultados insatisfatórios — presença de agrotóxicos acima do permitido e existência de agrotóxicos não autorizados para o alimento pesquisado. Entre os alimentos com maiores índices estavam pimentão, morango e pepino. Os resultados são preocupantes pois, dos 50 produtos químicos mais aplicados na agricultura, quase a metade é proibida por União Europeia e Estados Unidos.
 
Cerveja com milho e arroz
No lugar de cereais maltados como a cevada e o trigo, fabricantes nacionais de cerveja podem utilizar até 45% de milho ou arroz, cereais não maltados e mais baratos. Muitas marcas adicionam esses itens menos nobres até o limite estabelecido pelo Ministério da Agricultura, mas os rótulos não especificam os ingredientes nem as quantidades. Consumidores percebem a bebida mais aguada, menos encorpada do que exemplares estrangeiros, enquanto os produtores defendem que ela está adequada ao paladar do brasileiro, apreciador de uma bebida mais leve e refrescante.
 
Zero Hora

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