Médicos do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), ligado à Universidade de Pernambuco, da rede estadual de ensino, investigam o surgimento de novo quadro viral que pode estar ligado ao zika vírus ou ao chikungunya
Em um período de 15 dias, 20 crianças com até 8 meses de vida tiveram os corpos cobertos por bolhas, que se transformaram em feridas. Nenhuma tem microcefalia.
A infectologista Regina Coeli Ferreira Ramos, do Huoc, conta que os bebês apresentaram sintomas como febre, irritabilidade e manchas vermelhas. Em três dias, essas manchas evoluíram para bolhas e depois viraram feridas, que chegam a tomar área extensa dos corpos. Os médicos que atenderam os pacientes suspeitam que seja uma arbovirose (vírus transmitidos por artrópodes, como os mosquitos). “Estamos avaliando se é zika ou chikungunya, porque estamos passando por surtos dessas doenças.”
A médica integra a equipe que está estudando os casos e criando um protocolo de atendimento para esses bebês. Foram coletadas amostras de sangue e do liquor (líquido da medula). Os resultados deverão ser conhecidos na próxima semana. Também foi levantado o histórico da gestação. O protocolo de atendimento estabelecerá os cuidados que os médicos terão com esses bebês. Uma das discussões é com relação ao uso de antibióticos. “Quando essas bolhas estouram, deixam a pele sensível e aberta a infecções.”
Regina, que participou no Rio de seminário organizado pelo Conselho Regional de Medicina (Cremerj), explicou que não há nenhuma relação com microcefalia. “As crianças são saudáveis, nasceram com perímetro cefálico dentro da normalidade”, afirmou.
A Secretaria de Saúde de Pernambuco confirmou o surgimento e investigação desses casos. A infectologista Heloísa Ramos Lacerda de Melo, coordenadora científica da Sociedade Brasileira de Infectologia e ex-presidente da Sociedade Pernambucana de Infectologia, disse que os sintomas não são tradicionais de nenhuma virose. “O que está se imaginando é que é um quadro novo.
Não se parece com as viroses clássicas, como dengue, citomegalovírus, infecção por HIV, hepatite. Não há nenhuma virose conhecida que tenha quadro tão intenso. É possível que essas crianças tenham tido contato com zika.”
Microcefalia
Na palestra para os médicos do Rio, Regina Coeli explicou que os casos de microcefalia foram detectados em bebês cujas mães tiveram quadro de zika nos primeiros quatro meses de gestação, mas as alterações no crânio só apareceram nos exames de ultrassom feitos entre a 32ª e a 35ª semana de gravidez.
Ela ressaltou que não é possível, ainda, estabelecer se os bebês terão sequelas neurológicas, no caso das mães que tiveram infecção por zika depois do período crítico. E recomenda o acompanhamento a longo prazo dos bebês. Para a infectologista, é preciso se preocupar agora em acolher as grávidas. “Elas vêm querendo saber o que vai acontecer com o bebê, tendo ouvido conselhos de médicos para fazerem aborto. Elas chegam exauridas do ponto de vista psicológico.”
O médico Renato Augusto Moreira de Sá, integrante da Câmara Técnica de Ginecologia e Obstetrícia do Cremerj, questionou o protocolo do Ministério da Saúde que recomenda que a ultrassonografia seja feita por volta do oitavo mês de gestação. “Não tem como a mãe suportar psicologicamente esperar um mês pelo resultado do exame de sangue para saber se foi zika ou não foi. Não dá para pedir para essa grávida voltar com 35 semanas para ter o diagnóstico de microcefalia. Ela não aguenta. E nem nós que atendemos no pré-natal. É preciso ver o lado humanitário”, afirmou.
Uol
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