Pelo menos 24 unidades de saúde do Rio de Janeiro estão sendo afetadas pela falta de repasse de verba do governo estadual às organizações sociais responsáveis pela gestão dos locais
A denúncia foi feita pelo Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj), em entrevista coletiva na tarde desta terça-feira (22). Também participaram da coletiva representantes de outras entidades médicas.
Os dados são baseados em denúncias e notificações de médicos e diretores ao Cremerj, nas o Conselho Regional de Enfermagem do Estado do Rio de Janeiro (Coren-RJ) também registrou denúncia sobre a gravidade da situação em 28 unidades, sendo 17 hospitais e 11 unidades de pronto-atendimento (UPAs).
De acordo com o Cremerj, na semana passada, alguns hospitais estaduais, como o Albert Schweitzer, o Getúlio Vargas, o Adão Pereira Nunes e o Heloneida Studart, conhecido como Hospital da Mulher, restringiram o atendimento de emergência, reduziram o número de leitos em até 50% e suspenderam as cirurgias eletivas. O Cremerj também relata falta grave de insumos e de pagamento de pessoal.
Para o presidente do Cremerj, Pablo Vazquez, esta é a pior crise já enfrentada pelo setor de saúde no estado. “É uma crise muito grave, os hospitais estão fechando o atendimento às emergências, estão diminuindo o número de leitos e é necessário e urgente que haja uma solução para essa crise. Houve escassez de recursos, é o que os governos dizem, o que, para nós, é inaceitável é que se tenha permitido chegar a essa situação.”
Segundo o Cremerj, as UPAs de Barra Mansa, Botafogo, Cabo Frio, Caxias, Jacarepaguá, Manguinhos, Marechal Hermes, Niterói, Nova Iguaçu, Cabuçu, Realengo, Ricardo de Albuquerque e São Gonçalo estão fechadas. Vazquez explica que, após uma reunião na semana passada com o ministro da Saúde, Marcelo Castro, foi montado um gabinete de crise para buscar uma solução para os problemas.
O primeiro encontro está marcado para hoje (23), às 17h, com o secretário estadual de Saúde, Felipe Peixoto, e representantes do Cremerj, do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, do Coren-RJ, do Ministério Público Federal e Estadual do Rio de Janeiro e da Defensoria Pública da União e do estado. De acordo com o Cremerj, o objetivo do encontro é cobrar medidas imediatas e conhecer o plano emergencial que as secretarias estadual e municipal de Saúde e o Núcleo Estadual do Rio de Janeiro do Ministério da Saúde ficaram de apresentar.
O diretor do Sindicato dos Médicos, Júlio Noronha, também afirma que esta é a pior crise na área de saúde no estado e diz que os culpados pelos problemas precisam ser punidos. “Não adianta, em tudo quanto é crise, botar a boca no trombone. Daí, passa um tempo e não tem culpado. Então, esse gabinete de crise que foi criado, e amanhã nós vamos nos reunir, temos que tentar uma solução com aquilo que sobrou." Noronha vai propor que se faça o que for possível, com o que está funcionando, "para salvar o fim de ano das pessoas e o máximo de pessoas que venham a precisar da saúde". Ele ressaltou, porém, que é preciso "ir atrás dos culpados”.
O médico disse que o sindicato vai entrar na Justiça para bloquear os bens das organizações sociais e de seus diretores. “A organização social é corresponsável – nós vamos atrás delas para bloquear os bens para poder pagar pelo menos o salário do trabalhador. Tem organização social que está com o salário de outubro atrasado. Vamos atrás da penhora dos bens dos diretores das organizações sociais também.”
A presidenta do Coren-RJ, Maria Antonieta Tyrrel, lembra que a categoria é a maior da área de saúde no estado, com 230 mil profissionais entre enfermeiros, técnicos e auxiliares, e decretou estado de greve pela gravidade da situação, em assembleia realizada segunda-feira(21).
“Há 41 anos sou professora da Escola de Enfermagem Ana Neri da UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro] e nunca vivenciei a situação que estamos vivenciando agora no atendimento, principalmente nos grandes hospitais, que são referência, e inclusive nas UPAs, que estavam sendo colocadas como modelos de atendimento.
A enfermagem está sofrendo muito com o problema, não só da redução de atendimento, mas de não ter condições de oferecer um cuidado integral, interprofissional ou multiprofissional e de dar um atendimento aos pacientes”, lamentou Maria Antonieta.
Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde informa que o Hospital Estadual Adão Pereira Nunes está aberto, porém, com atendimento restrito aos casos mais graves.
Sobre as UPAs, a secretaria não confirma o fechamento, apenas a restrição no atendimento a casos mais graves em algumas unidades. Quanto à falta de repasse, a secretaria informa que está se esforçando, dia a dia, junto às autoridades, e até junto à iniciativa privada, para manter suas unidades funcionando. A secretaria acrescenta que o objetivo é "minimizar os transtornos à população e restabelecer os serviços eventualmente suspensos ou restritos”, mas o cenário só deverá se normalizar “mediante repasses para o Fundo Estadual de Saúde”.
Sobre a reunião prevista para esta quarta-feira, a secretaria diz que será “técnica e fechada” e não confirmou a participação do secretário Felipe Peixoto, que cuja saída da pasta foi anunciada oficialmente na tarde de hoje. No lugar de Peixoto, vai assumir a Secretaria de Saúde, a partir de janeiro, o médico Luiz Antonio de Souza Teixeira Júnior, atual secretário de Saúde de Nova Iguaçu.
Em nota, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro diz que a reunião será para definir um plano de contingência com ações de curto e médio prazo que restabeleçam o atendimento em hospitais, institutos especializados e UPAs e também para cobrar a reorganização do sistema de saúde e exigir o cumprimento do contrato com as organizações sociais.
A nota informa também que o Ministério Público Federal obteve uma decisão liminar para uma ação civil pública que obriga a União a repassar as verbas para os serviços no estado e “garanta a imediata transferência de recursos para o fundo estadual e os fundos municipais de Saúde, conforme prevê a Constituição Federal”.
Foto: G1
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Agência Brasil
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